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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Através do vidro


Você é um gigolô, eu uma prostituta. Escravos do prazer, presos em caixas de vidro que são nosso próprio limbo, atados a uma vida que não escolhemos, somos esteticamente perfeitos, maquinas de prazer que não podem encontrar o seu, como robôs em pele humana, destinados a existir como ratos de laboratório.
Mal sabem eles que meu coração é como uma caixa de pandora, que quando aberto liberou todo o mal que existia em mim deixando para trás somente uma luz opaca e frágil de esperança que é o que me move a cada dia que nasce dentro de minhas masmorras glaciais.
E eu o observo, vejo seus olhos negros, sua pele sedosa...Seus cabelos curtos...Sua boca e sorriso perfeitos...Seu cavanhaque que nunca fica perfeito...Eu vejo tudo, assisto a tudo, enquanto outras bocas tocam a sua, outras mãos lhe acariciam e outros corpos sentem prazer sob o seu...
Assim como você assiste a tudo que acontece comigo nesse universo transparente que nos cerca, uma bolha imunda e corrompida que nos separa do mundo.
Será que você sente o que sinto ao me ver gemer para outros? Será que entende a dor que me perfura sempre que assisto a outras tocar-te enquanto estou tão perto e ao mesmo tempo tão distante de ti?
Eu tento fingir, ignorar o que sinto, fugir de mim mesma e esconder-me em meio aos escombros de minha alma. Mas até mesmo em meu refugio seus olhos me queimam e contemplam, eles são como um fogo puro que me purifica sempre que sob mim recaem. Quando você me olha, é como se o mundo fosse mais bonito e tudo fosse possível.
E nas noites, quando o movimento se extingue e podemos ter paz, é o momento em que nas extremidades de vidro tocamos e quase podemos sentir o calor um do outro, nossos olhos se encontram destemidos e apaixonados enquanto nossos corpos buscam desesperadamente se unir.
É o momento mais doce e doloroso do dia, é te ver tão perto e não poder toca-lo, é saber que me pertence, mas não pode ser meu.
E apesar de nunca ouvir sua voz, nem tocar teu corpo, acariciar seu cabelo ou saber como veio parar aqui, eu sei que o que sinto por você, é a única coisa pura e limpa que habita em mim, que ninguém nunca será capaz de corromper.



domingo, 18 de dezembro de 2011


Tenho na alma um grito preso.
Um desejo intenso que ameaça me consumir sempre que penso.
Nas noites em claro.
Nos suspiros poéticos e nos versos que a isso dediquei.
Nos beijos doces e sensuais que não provei.
Nos passeios ao luar que não realizei.
E na unificação de corpos que jamais existirá.

É ai que paro e reflito...
Não voltaria no tempo e nem faria diferente.
Foi intenso e abstrato.
Nesse mundo de distrato.
Foi a tempestade em meio a calmaria.
E eu não sei se gosto da calma.

Mas agora meu coração tem sede de um amor que não provou.
E a pele, de um carinho e contato que ficaram na promessa.
Palavras que o vento levou e a chuva apagou.
Deixando somente o cheiro fresco de uma nova era.
Um novo começo que não se espera, mas sempre acontece.

Escrever...


Eu escrevo para mim. Meus versos são escritos com sangue e alma, há nele partes de mim que eu nem sabia existir, a cada poema que escrevo me conheço mais e me sinto mais leve. É um desabafo doce. Um tormento prazeroso. É como beber veneno e urinar remédio. As vezes me pergunto se todos os meus versos fluem de mim e me usam de intermediaria ou são eu, a essência que habita por baixo da pele, dos olhos e dos estereótipos. Escrever é como brincar de caça fantasmas, expurgando seus medos e desejos, as vezes sonhos e delírios, em forma de arte, ou, poesia.


Sim, eu sei que isso não é uma poesia nem nada do tipo, mas me deu vontade de escrever e eu o fiz, afinal o blog é meu rs, agradeço a cada um que o lê, acessa, segue, curti, odeia e etc. Obrigada ;)


sábado, 17 de dezembro de 2011

Em teu dorso


Cavalgando nas costas de meu garanhão
Eu vejo o mundo passar borrado
Uma mescla de cores frias e quentes
Cheiros e sabores que me enlouquecem

Flutuando pelas águas e pelo vento
Sei o que quero e busco
É como um imã que me puxa
Me arrastando para si

É irreversível e irresistível
Sempre que vejo teus olhos me sinto afundar na imensidão do céu
Vagueando por entre as brumas de meus desejos mais profundos
Sentindo teu toque na alma

No embalo que me encanta
Através de ti eu sinto o mundo pulsar de vida
Doce e amargo...
Misteriosamente delicioso


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Doce veneno


Sei que é meu veneno e vai me matando aos poucos, mas quero solvê-lo até a ultima gota, mesmo que isso me mate.
 É como saber que a morte se encontra atrás da porta bem a sua frente e mesmo assim não resistir a tentação de abri-la. 
É um desespero tênue, uma resignação doce que te faz prosseguir e ir além do que achava que era capaz. Te mostra que você sempre esteve errado sobre você mesmo, e que seus limites são feitos para serem quebrados. E descobre que mesmo com o coração e a alma rasgados em pequenos pedaços de retalho, você prefere tentar costurá-los, pedaço por pedaço, com pequenas linhas de felicidade e afeto, do que esquecer tudo aquilo que passou. Pois sentir, mesmo que doa, é melhor do que não sentir nada.
E você simplesmente não consegue imaginar-se completo sem aquela presença, que é como tortura. Sendo ao mesmo tempo a solução e o único problema que você não sabe como resolver, por mais que você se esforce, não consegue entender.
É como afogar-se em vinho tinto, a ausência do ar arde e te machuca, você sabe que morrerá se não fugir, mas o sabor doce do vinho a descer por sua garganta, adoçando o amargo da vida é simplesmente irresistível. 
É algo inexplicável, que nem você acredita, te faz querer gritar consigo mesmo, chorar e se recriminar por ser tão deprimentemente solitário ao ponto de aceitar certas coisas. Mas ao mesmo tempo você simplesmente sabe que isso é sinal de que você é maduro o suficiente para saber que ninguém é perfeito, você não é, como pode exigir que os outros o sejam e não errem?
É como uma brisa fresca num dia de verão em pleno deserto, que te dá esperanças para continuar mesmo contrariando todas as expectativas.
O amor é... É um veneno doce, as vezes machuca de tanto prazer ou felicidade, já em outras te rasga ao meio de dor fazendo você desejar simplesmente fechar os olhos e não abrir mais, somente para não ter que enfrentar essa dor.
O amor é pleno, carrega com ele todos os outros sentimentos, como parceiros de caminhada, eles são inseparáveis e se você o deseja, deve aprender a conviver com todas as faces dele e aceita-las, é a única forma de aprender a amar.




quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Procuro alguém


Eu procuro alguém que me chame de sua,
Que grite comigo se for preciso.
Que me vire do avesso, me olhe nos olhos.
E me diga com atitudes que lhe sou cara.

Eu procuro alguém...
Que eu não devia procurar, pois tudo aquilo que procuro não encontro.
E o que encontro nunca é o bastante para mim.
Assim como eu pareço nunca ser o bastante...

Eu procuro alguém que não me engane.
Que seja sincero mesmo que me magoe.
Porque eu prefiro a dor da verdade.
Ao regozijo da ilusão.

Eu procuro alguém...
Assim como todo mundo.
Um companheiro e parceiro de caminhada.
Para me dar a mão quando eu já não tiver forças para prosseguir.

Eu procuro alguém que me ensine.
Que me ensine a amar.
Porque meu coração quebrado parece ter esquecido.
E sinceramente tenho medo.

Eu procuro alguém que me ame do jeito que sou.
Sabendo dos meus defeitos e limitações.
Para que eu também posso ama-lo
com defeitos e tudo.

Eu... Eu procuro alguém
que me mostre o céu.
Porque do inferno eu já estou cheia.

Fada encantada


Fada encantada dos meus sonhos de vidro.
Perdida no limbo de seu próprio destino.
É por ti que grito acorrentado à meus medos sangrentos.
Olhando nos olhos da peste pútrida que tu és.

Fada encantada que é puro tormento.
Acalenta meu peito que nada no fel.
Com sangue a escorrer das artérias como mel.
Leva a dor que me rasga com unhas outrora conhecidas.

Fada encantada perdida no pântano dos desencantos.
Já não sabes quem és nesse mundo hediondo.
Onde a dor se multiplica como pequenos cogumelos.
E o sabor se torna cada vez mais amargo na boca.

Fada encantada que outrora foste bela.
Mas hoje és fria como um iceberg.
Sabes o que és? Sabes quem fostes?
Fostes a mais bela das graças que a dor do mundo um dia estragou.


Obrigada Sofia Geboorte pela imagem :)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Amado lobo encantado


Nas asas de um anjo negro de medo
Meus sonhos desvanecem-se no vento frio
Inundando minha alma de languido desespero
Que me corrói a pele como ácido que me faz queimar

Minhas unhas compridas e vermelhas mesclam-se com seu sangue quente e efervescente
Que me chama e me clama
Num grito mudo e desesperado que faz meu corpo delirar
E o desejo que consome minha carne é como uma possessão
Não tenho controle sobre ele...
Não há como.

Nessa noite de lua cheia onde os mortos das tumbas ressurgem
E o fantasma de meu passado caminha ao meu lado com garras pútridas
Querendo rasgar-me em frangalhos
Cortar minha carne em pequenas tirar dolorosamente pequenas

A lua faz com que eu possa vê-lo brilhantemente pálido à luz da lua
Com seus olhos escuros como o breu a fitar-me...
Eles não me acusam, nunca o fariam...
Mesmo que o gosto de seu sangue ainda esteja tatuado em minhas glândulas salivares...

Eu não pude conter o monstro que existia em mim como você fizera com o seu.
Eu precisava deixa-lo sair...
Mas o que eu não queria era vê-lo partir.
Não mergulhado em vermelho a afogar-se em seu próprio sangue...
O seu pelo negro era sedoso e brilhante.
Nossas noites tranquilas e belas...

Eu só queria poder tê-lo de volta.
Mesmo sabendo que a culpa de tudo sempre fora minha.
E eu viveria com ela para sempre, sem ter o sossego nem mesmo na morte.
Pois os mortos não podem morrer.

Mas tudo o que me resta é esperar...
Em todas as noites esperar por teu fantasma alquebrado.
Preso a esse mundo assim como eu.
Meu lindo e doce lobo encantado, que era o que valia  a pena nesse mar de desalento e tormento.




segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Cheiro de sangue


O cheiro de sangue e carne podre me enojam
Em meu estomago o ácido borbulha e gira.
Sob meus pés, o chão está mole e grudento como lama;
Mas isso não é lama.

E memoria da noite anterior é fresca em minha mente.
Seus ossos descarnados.
De onde a carne gordurosa e vermelha;
Caia em pequenas tiras sanguinolentas.

Nada restara de nossos sonhos.
Tudo se fora com um simples empurrão.
Um mero azar...
Ou simplesmente destino, tanto faz.

E você já não respirava.
Seus olhos permaneceriam vidrados...
Pelo menos até que os peixes o comessem.
Ou corvos, quem sabe.

Mas o mais triste era assistir a tudo.
Vê-lo partir, sem que eu pudesse ao menos me despedir.
Nem me mexer tão pouco.
O gosto que a sensação de derrota deixara em minha boca, era como maça podre.

E ele o fatiava, em pequenas tiras cortava sua carne.
Eu simplesmente não conseguia fechar os olhos.
Não enquanto você me olhasse.
Eu precisava ser forte, dizer com os olhos que ficaria tudo bem.

Mesmo sabendo que não ficaria.
Nunca mais as coisas ficariam bem.
Era o fim para nós.
E eu preferia que realmente tivesse sido.

Que tivesse partido.
De dedos entrelaçados aos seus.
Ao menos assim estaríamos juntos.
E a dor terminaria.

Por foi você que não me permitiu enlouquecer.
Fitando-me nos olhos com coragem.
Mesmo enquanto era retalhado;
Pedaço por pedaço mutilado.

E quando você partiu.
Senti que estava ao meu lado.
Dando-me força.
Trazendo-me a lembrança do que fomos.

Como naquela tarde de domingo.
Sob a figueira.
O mundo era nosso e nos éramos tudo o que importava.
Naquele mundo caótico e violento.

Foi tão doce o modo como seus lábios tocaram os meus.
Os mesmo lábios que agora alimentam os vermes.
Eu queria poder apagar o sangue que vi verter de ti.
Esquece de tudo e perder-me em seus olhos...

E quando ele saiu com seu terno negro manchado de sangue.
Eu não pensara em fugir.
Não queria abandona-lo.
Nunca.

Mesmo que seu coração já não batesse.
E seus olhos já não brilhassem.
Eu não podia deixa-lo só.
Você ficaria triste, imaginei.

Tudo o que eu sentia era o vazio deixado pela fome.
E um grande buraco negro que era a sua ausência.
A certeza de que eu o havia perdido.
Para sempre.

Sinto que me salvou de tudo aquilo.
E principalmente de mim mesma.
Quando veio a mim;
E me libertou ordenando-me que corresse.

E eu corri, como nunca antes havia feito.
Sob desejos do esgoto e carne podre.
Sangue e mijo.
Para viver.

Hoje me pergunto se foi o certo.
Pois aquele dia permanece entranhado em mim.
Como que gravado a ferro em meu inconsciente.
Pois nas noites, acordo gritando por você e choro.

Choro porque perdi você.
No mesmo dia em que me perdi.
E hoje sei que viver não é o bastante.
Quando tudo de bom que havia em você se foi.


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Há um “q” de maldade na noite


Há um “q” de maldade na noite.
Uma brisa soturna e sedutora.
Que inclina à luxuria;
com suas quentes e insinuantes lufadas.

E o calor que sobe do calçamento.
Acende o fogo e o desejo que brotam da pele.
Como agua fresca da nascente pura;
esperando para ser provada.

A lua cheia transborda pela rua.
Assim como pela pele.
Criando formas e sonhos;
que se derramam pela noite num simples suspiro.

Pois há um “q” de maldade na noite.
Esperado para libertar-se sob a pele.
Aquecendo o corpo;
enquanto o sangue borbulha.

E o calor que brota da noite.
Como espinhos na rosa.
É como um grande e belo garanhão;
que traz na garupa um grande e suculento pote de imaginação.

E a lua cheia que ilumina as calçadas.
Também ilumina os corpos.
Que na doce e sedutora brisa noturna;
resolvem do mel dos amantes provar.

Porque há um “q” de maldade na noite.
Uma melodia insinuante que vem despertar.
Um desejo quente e soturno;
de sua sede amainar.



sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Durma


Durma querido, durma.
Porque essa noite em seus sonhos penetrarei.
Enfeitiçar-te... Encantar-te.
Em uma cantiga de ninar embalar-te.

Durma meu querido, durma.
Pois essa noite os seus sonhos me pertencem.
Resgatarei seus desejos mais profundos.
E acariciarei seus medos mais grotescos.

Mas durma meu querido, durma.
Essa noite é toda minha.
E o cenário e enredo sou eu quem faço.
Tomando-o pelas mãos e guiando-o pelos caminhos que eu escolher.

Há querido, durma.
Porque essa noite parecerá não ter fim.
E quando a alvorada chegar.
De mim você lembrará.

Então durma meu querido, durma.
Porque essa noite só termina quando eu mandar.
E os seu sonhos sou eu quem comandará.
Enfeitiçar-te e encantar-te...Durma.


domingo, 9 de outubro de 2011

Lua de pólvora


Ela não queria permanecer ali, era sufocante. Ela sentia como se fossem lhe atirar em um buraco repleto de espinhos, como em Mortal Kombat, na sua cabeça os pensamentos predominantes “O que estou fazendo aqui?” “No que é que eu esta pensando afinal?” “Isso não pode dar certo!”.
O suor escorria por seu rosto como o sangue que escorre de um pequeno corte. Pequenas gotas que logo inundariam sua roupa deixando-a com mal cheiro e parecendo uma palhaça de maquiagem toda borrada. Mas ela não deveria importa-se com isso, haviam coisas mais importantes em jogo, coisas que decidiriam todo o seu futuro.
Nervosa e sem saber o que fazer com as mãos, que pendiam inertes ao lado de seu corpo, ela mirou-se no espelho para retocar a maquiagem, afinal ela precisava ficar calma, muito calma para fazer o que teria que fazer.
Seu rosto lhe parecia a face da morte, mesmo com toda a maquiagem que  usava. Ela quase sorriu ao imaginar uma foice como a da Morte em sua mão direita. Seus olhos castanhos amendoados eram como dardos, brilhantes em meio a toda a sombra acobreada, o lápis e o rímel; seus lábios, agora pintados de vermelho, encontravam-se entreabertos, pois ela não conseguia mais respirar normalmente, sua respiração estava totalmente descompassada. Seu cabelo ruivo, brilhava mais laranja que nunca na iluminação branca do banheiro.
Era agora ou nunca. Ela tinha que fazê-lo.
Era por esse momento que ela ansiara a vida toda, desde que tivera capacidade para compreender e suportar as coisas. Era a hora desse peso sair de suas costas, dela poder ser livre, coisa que nunca fora. A partir daquele momento ela poderia seguir sua vida, ser quem ela quisesse, e ter o que quisesse, ser dona de si mesma e de suas vontades sem que nada lhe pesasse na memória.
Era o seu momento, o apogeu de sua gloria, ela já aguentara demais pra desistir agora. Era agora ou nunca, e ela sabia. E por isso receava. Isso fora o objetivo de toda sua vida, foi isso que a fez ser quem era, essa sede incansável, essa sensação vermelha que lhe borbulhava o sangue.
Ela precisava fazê-lo para que se sentisse completa, era isso, era o que eles quereriam.
 E ela faria.
Renata vestiu seu robe vermelho sob a lingerie escarlate que ostentava, ela não queria vestir nada disso, mas praticamente fora obrigada por suas amigas, amigas essas que a partir de hoje a odiariam.  Era o preço, ela sempre soubera, só não imaginou que doeria tanto assim.
Ela lançou mais um olhar sob si no espelho antes de fechar o robe, seu espartilho vermelho era realmente belo, realçava todas as suas curvas de forma impressionante. A cinta que prendia a meia, assim como suas luvas eram vermelhas sangue, “vermelho sangue, que sugestivo” ela sorriu felinamente e saiu do banheiro com passos decididos, praticamente uma marcha, mas diferente da que realizara  poucas horas atrás, essa não era uma marcha nupcial.
Ele estava sentado na banqueta, arrumando o rádio, colocando a musica deles pra tocar, estava tão lindo, ela não pode deixar de pensar, e um arrepio correu por suas costas, como se dedos gelados e mortíferos a acariciassem, como um desafio.
Ela encaminhou-se até ele, parando a centímetros, estendeu suas mãos em direção de seus ombros largos e fortes, que ela tanto admirava e os acariciou. Ele virou-se e a encarou. Seus olhos azuis a penetravam, como adagas afiadas, pareciam ler sua mente, sua alma... Seu coração, mas era só ilusão, pois se ele soubesse, se ele ao menos imaginasse suas reais intenções não estaria ali agora, não com ela.
Esse pensamento a machucou mais do que ela imaginava, desencadeando  uma onda de sentimentos que ela não queria sentir, concentrando-se ela empurrou tudo para longe de sua mente, ela lidaria com isso depois, quando tudo estivesse findado.
Ela acariciou o rosto dele, decorando cada linha, assimilando cada contorno, de suas sobrancelhas arqueadas, passando por seus olhos azuis, por seu nariz meio torto, de um soco que levara na infância, até seus lábios cheios e bem desenhados, ela não queria esquecer aqueles traços, odiados, e ao mesmo tempo tão amados.
Ele pegou-a e a levou para a cama, acariciando-a lentamente, nunca tirando seus olhos dos dela. Renata sabia que não podia deixar-se levar, se o fizesse, estaria perdida, por isso, com o pretexto de despir-se do robe, ela levantou-se da cama e caminhou em direção ao local onde escondera sua surpresinha conjugal.
Ela pegou-a lentamente, sua mão nem ao menos tremia, ela sempre fora boa em controlar a emoção, não era agora que deixaria levar-se por elas.
Sentado calmamente ele a observava, a surpresa que ela esperava ver em seus olhos quando visse o objeto que ela portava não veio, e por um momento ela sentiu-se confusa e com medo.
Ela parecia uma deusa vingativa, sua pele branca contrastava quase dolorosamente com os trajes mínimos vermelhos, e a arma prateada em suas mãos, um 38, era pequeno, mas ninguém teria a ousadia de duvidar de sua potencia.
Ela apontou-a para o peito de seu marido com braços firmes e decididos, seus olhos perfuravam os dele, ela se preparava para puxar o gatilho “não pensarei” “não me darei esse luxo”, mas ela simplesmente não podia ficar sem saber, a curiosidade a corroía mais do que a culpa.
_Vejo que não está surpreso, por quê?
_Nenhum pouco. Vejo que ficou desapontada, esperava que eu fizesse uma cara de espanto, ou que chorasse por piedade Renata? – perguntou ele encarando-a, ainda na mesma posição.
_Como? – ela não tinha tempo para joguinhos, ela precisava terminar com isso já.
_Eu sempre soube quem você era, desde o primeiro momento em que a vi. Inclusive quando você fingiu tropeçar para que eu a segurasse, eu sabia qual era a sua intenção, mas eu queria ver até onde ia o seu jogo, até onde você iria para alcançar sua suposta vingança. Desde que começamos a sair eu dormia após o sexo pensando que talvez não acordaria mais. Mas confesso que com o tempo fui me perguntando “porque ela não faz nada?” eu passava horas tentando achar um porque, logo decidi que, talvez, você tivesse mudado de ideia. Porem no mês passado a vi saindo de uma loja de armas, nós já estávamos de casamento marcado, foi ai que entendi, o quebra-cabeça solucionou-se em minha mente, e eu pude ver o que você queria mais do que tudo, sacrificar meu coração junto com meu corpo, pois era o que aconteceria com o seu quando você finalmente colocasse seu plano em ação. Acho que você se apaixonou por mim no mesmo momento que eu, naquele dia na lanchonete, no nosso quinto encontro, lembra-se? Você estava comendo o lanche e fazendo a maior sujeira, eu estava rindo porque nunca havia visto uma mulher que conseguisse fazer tanta lambança para comer um simples cachorro quente. Então você me olhou e nossos olhos se cruzaram. Eu não sei como, não sei nem mesmo explicar, mas naquele momento eu soube que você era a mulher da minha vida, e daquele instante em diante, joguei a cautela de lado e me entreguei ao que tínhamos. Enfim, faça o que tem que fazer Re.
_Quero que você me conte, como foi saber o tempo todo que você transava com a filha do homem que seu pai arruinou, pois você sabe, o maldito do seu pai acabou com a minha família inteiro com uma só bala, minha família ficou destruída. Como você se sente sabendo que tem o sangue do cara que tornou minha vida um inferno? Que destruiu todos meus sonhos.
_Eu sabia que meu pai era esse assassino cruel e frio, só que eu não podia mudar isso, ele me avisara de você, pois soube que estava rondando procurando por informações sobre ele, mas, infelizmente, ele morreu antes que você pudesse fazer o serviço. Então você veio a mim, pretendendo fazer com a minha família exatamente o que fizemos com a sua, o que espera com isso? Sentir-se vingada? Realizada?
_Não sei, não parei pra pensar nisso, só sei que deve ser feito. Meus sentimentos não importam, nunca importaram, para ninguém.
_Para mim importam. Você sabe.
_Me diz Gabriel, como posso amá-lo como amo, se todo o ódio e raiva que habitam em mim são direcionados a você? Se tudo o que sempre desejei foi matá-lo?! Não há futuro para nós, nunca houve.
_Não seja idiota e melodramática, claro que tem.
Ele levantou-se e dirigiu-se a ela que estava com a arma frouxa nas mãos, já sem mira e com os olhos totalmente enevoados pelas lágrimas que ela não se permitiu derramar.
Ela sentia seu coração pulsando, num compasso desesperado e frenético. Ela devia tomar uma atitude logo, antes que pudesse mudar de ideia, mas ela já não estivera a um passo de mudar de ideia várias vezes desde que começara essa missão idiota? Porque ela não podia simplesmente mudar de ideia e ser feliz uma vez na vida, sepultar o passado, se fosse preciso ela poderia por flores em seu tumulo, mas o passado já havia sido seu presente por tempo demais, era hora de matá-lo. Matar a coisa certa, aquilo que a sangrava.
Ela estava tão compenetrada que não notou ele aproximar-se, por isso, num susto, disparou o tiro que mudaria tudo, a bala que ela guardara por tanto tempo e que sempre tivera esse destino, e que, no entanto agora ela queria que não tivesse sido usada.
Por um momento ela realmente acreditou que o havia acertado, mas no momento seguinte ela deu-se conta que seus braços estavam levantados e por isso ela não o acertara, e sim o teto.
Ainda atordoada, ela olhou para Gabriel, sem saber o que sentir ou pensar. Os olhos dele eram como dardos que lançavam fogo sob ela, sempre foram, mas ela nunca os havia sentido como naquele momento.
Ele a beijou com fúria e desespero, jogando a arma de suas mãos para um canto esquecido do quarto preparado exclusivamente pras núpcias deles, ela pulou no colo dele e devorou cada centímetro do rosto dele, beijando cada parte que podia alcançar, ela amava esse homem. “Como pode pensar em matá-lo? Como?”
Ele a jogou na cama sem um pingo de delicadeza e arrancou dela cada peça de roupa com os dentes e os dedos furiosos, ela sentia que teria hematomas no outro dia, mas não se importava nenhum pouco. Desesperadas as bocas se procuravam enquanto ele deslizava para dentro de seu corpo completando-a como sempre fizera. Ele a apertava e mordia enquanto ela o unhava embebida pelo prazer que ele a proporcionava.
Ela nem mesmo podia lembrar-se porque diabos deveria matá-lo, não lhe parecia correto, nem possível afastar-se dele tendo a sua respiração tão quente sob seu corpo e sua boca tão saborosa em contato com a dela.
Renata não sabia como seria o dia de amanhã, ou como eles poderiam viver em harmonia agora que suas mascaras haviam caído, e as verdades foram escancaradas, mas ela  tinha a certeza plena e absoluta de que valeria a pena, contando que o tivesse junto dela pelo máximo de tempo possível.
Mas é claro, ela manteria sua 38 carregada e pronta para uso caso o ódio resolvesse suplantar o amor novamente, o que ela esperava não acontecer, mas, nunca se sabe, afinal uma mulher precavida, vale por 10.

Tatuagens do amor (Parte Final)


Rio de Janeiro, Fevereiro de 2001.

Anthony já não era o mesmo, era como um espectro do que fora, sentia a ausência de Alice como a de um braço ou perna amputados, só que no caso dele era ainda pior, não era só a dor física que a ausência dela causava, por dentro ele estava destruído, tudo o que era luz nele se extinguira e tudo que restara era um grande buraco negro que sugava toda a possibilidade de felicidade que lhe restava.
Ele tentava ser feliz, pelo menos nos primeiros meses tentara, pois ele sabia que onde quer que sua linda e decidida Alice estivesse ela gostaria de vê-lo feliz, ela era assim, como uma leoa defendendo aqueles que gostava, ela fazia de tudo para vê-los sorrir, algumas vezes até mascarava a própria dor, fingindo uma alegria que não sentia. Era excepcional.
Anthony não podia entender como ela, justo ela, teve que partir tão cedo, deixando-o sozinho em meio a escuridão quando prometera estar com ele por muito tempo, envelhecer com ele até terem que comer só sopa por não terem mais dentes.
A única coisa que lhe restara era o trabalho, e ele se jogava nele com toda sua energia. Seus familiares e amigos tentaram de varias formas resgata-lo dessa melancolia que o envolvia como um escudo forte, doloroso e denso. Mas eles não sabiam que o que eles viam era somente a ponta do Iceberg, se eles soubessem o que ele sentia, todas as vezes que chegava em casa, e inconscientemente esperava por ela, nessas horas o vazio era terrível, todas as lembranças o invadia como tiros de metralhadora, rasgando-o em todas as direções possíveis.
A vida já não tinha sentido, viver para  trabalho não é realmente viver, ele não sabia o que era alegria desde o fatídico dia, o dia em que ele perdera tudo...


sábado, 1 de outubro de 2011

Vício e sedução


Busque-me ou deixe-me, pois eu já não aguento essa incerteza, essa vontade de tê-lo que nunca pode ser saciada, esse desejo que me consome de dentro pra fora, me derrete e me alimenta, com um sopro de insanidade em meio a rigidez autônoma. Quero pegar-te nos braços, leva-lo comigo por onde quer que eu vá e não deixa-lo partir jamais...

***                                                                                                                                                                

Você sabe que não pode fugir de mim, tudo em mim te seduz, tudo em mim te fascina, você se sente como em um labirinto em que não há saídas, para onde correr lá estarei. É tudo tão confuso e estranho, tudo que você sente é a minha influencia sobre seu corpo e a entrega de sua mente, pois ela já não pode lutar, tudo que lhe resta é a rendição. Nada mais. E você se rende, como um fantoche se deixa levar por minhas vontades esperando que um dia eu me satisfaça, mas eu nunca estarei satisfeita de você, e o nunca para mim é muito, muito tempo.
É tudo o que sei, é tudo o que me resta, a tortura languida do anoitecer, descendo por minhas veias como água pura e cristalina da fonte, saciando meu corpo. Mas nunca é o bastante, eu sempre quero mais de você.
Minha pele em contato com a sua é pura magia, é doce, é salgado, é forte, é suave, é tudo, é eterno, e eu quero seu corpo no meu para sempre, é tudo o que preciso e desejo.
Mas você não pode correr, porque você não consegue fugir, você sente o encanto agir sobre você e você sempre voltará pra mim, não há escapatória. É tudo como eu disser, pois brincaremos de Seu mestre mandou, e o mestre sempre serei eu. Porque você sente a magia te inundar e você já não consegue pensar...Tudo o que diz respeito a mim te deixa atordoado, mas você não quer fugir.
Porque além do encanto, além do meu poder, por trás de tudo, seu coração bate na sintonia do meu, fazendo com que eu nunca consiga me afastar de você, pois você é minha droga particular, é por você que eu levanto a cada anoitecer, mesmo sabendo que o que temos é pouco, pouco demais para mim...
E logo acaba...Tudo acaba.



quinta-feira, 29 de setembro de 2011


Ouço a chuva lá fora, seu tamborilar no meu telhado.
O cheiro de ferro velho preenche meu ser.
Em minhas mãos a essência de uma vida.
A minha.

O sangue pulsa, bombeando-se para fora de mim.
Leva consigo toda e qualquer dor.
Deixando-me somente as memoria.
Memorias de um eu que se esvai com a água da chuva.

Lavando-me a alma.
Retirando as fuligens do que foi.
Contemplando aquilo que me restou.
Depois de lhe dar tudo aquilo que era eu.

Tanto dei, que pouco restou.
E minhas esperanças quebraram como vidro.
E o cristal em mim se foi.
Como vaso refeito com cola vivo, mas as rachaduras jamais somem.

E pulsa, meu coração pulsa.
De dentro do baú de prata em que o coloquei.
Através do cadeado de ouro que o encerra.
Para sempre seguro de sua própria dor. 


domingo, 18 de setembro de 2011

Tatuagens do Amor (Parte IV)


São Paulo, Dezembro de 2011

Ele sorria candidamente em meio aos espasmos que dominavam seu corpo, aparentemente feliz, mas a boca de Anthony abria-se em pequenos sussurros que vazavam de sua alma, a lembrança de um passado que nunca pode aceitar e esquecer, porque foi algo que ele não pode impedir e nem prever. Ele não pôde fazer nada para corrigir...
Rio de Janeiro, Dezembro de 2000.

A cama ainda estava desarrumada, os travesseiros amassados e o chuveiro ligado quando Alice voltou com o café da manhã, era costume dos dois revezarem a cada dia, quem traria o café da manhã, assim adiantavam o banho e podiam tomar café juntos. Desde que eles se casaram estabeleceram uma rotina simples e satisfatória.
_Anthony, café tá pronto – disse ela sentando-se na cama dossel do casal, cruzando as pernas e deixando suas formas bem definidas a mostra pela abertura do roupão enquanto esperava por ele.
Poucos segundos Anthony sai do chuveiro e se depara com ela com um olhar perdido, ele se aproxima enxugando os cabelos e a beija delicadamente.
_Bom dia!
_Oi – responde ela puxando-o para um abraço apertado e beijando-o.
_Não faça isso, é tortura, temos que trabalhar, você sabe.
_Porque não faltamos hoje? – pergunta ela insinuante.
_Porque não podemos, eu tenho reunião hoje a tarde.
_Droga – disse ela fazendo beicinho – se é assim, vamos tomar nosso café antes que esfrie, depois você se veste, coloque o roupão vermelho.
_Onde está?
_Atrás da porta – respondeu ela rindo de sua grande cabeça oca.
Anthony vestiu o roupão e eles desceram lado a lado pra cozinha e tomaram um café da manhã tranquilo e feliz, como sempre. Algo parecia incomodar Alice, ele podia ver em seus olhos o lampejo de algo, mas ele não sabia o que, e quando ele perguntou ela disse que não era nada.
_Até mais tarde amor, amo você – disse ele segurando-a pela cintura para beija-la.
O beijo foi doce e com um gosto estranho de despedida que o deixou novamente preocupado, mas ele resolveu deixar de lado, deveria ser coisa de sua cabeça.


Você.


Não existem mais disputas.
As chances acabaram.
Desista e suma.
É a derrota, nua e crua.
Você deve aceita-la.
Porque não há mais nada a fazer.
As palavras perderam-se na bruma enquanto você chorava.
E teu coração se foi, junto ás lágrimas que sua alma derramou.
Você precisa aceitar.
Porque não há nada a fazer.
Você simplesmente perdeu uma batalha que nunca poderia vencer.
Nunca dependeu de você.
Você vai ter que entender.
Acabou.
Tudo que você queria escapou por seus dedos como o sangue que se esvai.
E não há nada que possa concertar.
Você ficará bem.
É tudo que posso te dizer.
Não há garantias.
Somente o vazio.
Você não sabe que rumo tomar.
Porque você não entende como pôde ser tão idiota.
Deixar-se levar assim, tão facilmente.
E tudo o que você vê é um abismo.
Não há nada a fazer.
Pois você não é nada.
E o vazio é tudo.


sábado, 17 de setembro de 2011

Elo partido

No quarto, moveis bagunçados.
Na mesa, uma caneta quebrada.
No papel, uma gota de sangue.
Na noite, um lamento de dor.

E meus pés descalços sangram pelos espinhos.
Deixando pegadas ensanguentadas sob meu passado.
Meu corpo cansado desaba.
E através de minha vista embaçada vejo.

Tua silhueta recortada pelo brilho da lua.
Teus soluços chegam a mim como adagas frias.
E teus olhos me fuzilam como tiros de metralhadora.
Matando-me a cada lágrima.

Quisera eu poder fugir.
Voltar ao passado e impedir aquilo que foi feito.
O elo quebrado que não pode ser restituído.
E na noite meu sangue retumba com o sal de tuas lágrimas.

Na cama, os lençóis negros manchados de vermelho.
No travesseiro, o gosto de sal permanece.
Na casa, o perfume que não se extingue.
No cemitério, as vitimas de um engano.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Lacuna


Mil lacunas se alastram por minha mente.
Como ácido que derrete tudo em que toca.
Minhas memorias se perdem nas lacunas de mim.
E eu já não me lembro quem sou.

Mil linhas se desenrolam.
Elas se cruzam entre si.
Coloridas...Cinzentas...Brilhantes...
Qual delas é a minha?

Mil sonhos rastejam por minha retina.
Como vermes, eles me atormentam.
Pois neles vejo que falta algo.
Algo que sempre faltou.

Mil vezes me amaldiçoo enquanto os novelos se desenrolam pelo chão.
E eu já não sei como me remendar.
Porque tudo de que me lembro é um grande vazio.
Um vazio que era eu, que sou eu.

Mil acasos me distraem enquanto incessantemente procuro as peças .
As peças de um quebra-cabeça que é só meu.
E a cada peça que recoloco em mim.
Sinto-me mais eu, menos indigente.

Mil lágrimas derramarei pelos pedaços que jamais reencontrarei.
Pois na lacuna brumosa de minha memória.
Eu já não sei quem sou.
E talvez, nunca saiba.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Nevoa, Neblina, Bruma, Vapor...


Nevoa, Neblina, Bruma, Vapor...
É tudo que vejo.
É tudo que sou.
Longe dos teus olhos, não existo, sou.

Eu sou o sonho que te atormenta durante teu sono.
Eu sou a voz sensual e inconsequente a murmurar no teu ouvido.
Eu sou a mão que te acaricia na sua dor, como uma mãe zelosa.
Eu sou o seu desejo mais profundo.

Eu sei que você me busca em meio a multidão.
E sei que rola na cama a minha procura.
Pois eu sei que não esquece de meus olhos, mesmo que hoje a  terra os tenha engolido.
Eu sei que é por mim que choras nas noites solitárias.

E infelizmente eu vejo.
Assisto a toda a dor que seu coração transborda.
E não posso, não posso fazer nada.
Pois que sabes.

Nevoa, Neblina, Bruma, Vapor...
É tudo que vejo.
É tudo que sou.
Longe dos teus olhos, não existo, sou.

Porque eu sou, aquela que te ama.
Que a vida une e a morte não separa.
Aquela que retorna sempre que chamas.
Mesmo que seja como uma expectadora.

Todos os dias conto as horas e segundos para o fim.
O momento em que juntar-se-á a mim.
Momento esse, em que seremos ambos plenos.
Seremos novamente um, como outrora fomos.

Sou como uma criança impaciente no cinema, assistindo um filme que nunca termina.
Mas não me leve a mal.
Sabes que adoro ver-te caminhar por ai.
Mas bem sabes, que te queria comigo, pois...

Nevoa, Neblina, Bruma, Vapor...
É tudo que vejo.
É tudo que sou.
Longe dos teus olhos, não existo, sou.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Te vejo


Te vejo refletivo no mar de vidro que me cerca.

Espelhos que me mostram o quanto eu sou você, e você sou eu.
Enquanto as peças se juntam no quebra cabeça que é meu coração.
Só posso dizer que sinto.
Pois é tudo de que tenho certeza quando te vejo.
E na luz clara do amanhecer sinto sua alma encostar na minha.
Rolando pela nevoa que encobre o mundo.
Olho em seus olhos e posso dizer que é real.
Apesar de ter certeza que sonho.
Pois a realidade nunca pareceu tão bela;
e meus dias tão brilhantes.
Sinto no amago de minha alma, que sou tua.
Ainda sim, receio.
Ridiculamente cautelosa, vejo a vida passar num rugido furioso e vivido...
Depois choro, por tudo que perdi, ou deixei de fazer.
E as noites são como a eternidade sem você.
Tudo é triste, e cinza.
Um dia nunca é o bastante, pois;
depois sempre vem a noite.
Odiosa noite que me afasta de ti.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Lágrimas de Sangue {Parte Final}


AnastasiaTieflust 

“Não me lembro exatamente como tudo aconteceu e sempre que tento é como se um buraco negro me preenchesse e sugasse minha energia fazendo com que minha cabeça e corpo doam profundamente.
Tudo o que me lembro é que era um sábado normal, como outro qualquer, eu cuidava de minhas flores com o mesmo carinho de sempre, totalmente distraída, quando escutei vozes chegando aos meus ouvidos pela estrada. O crepúsculo envolvia o mundo possessivamente com seus dedos frios e belos. E a lua já começava a ser perceptível no céu. Levantei-me cambaleante e me aproximei da estrada para ver-se eras tu, Ian, quem chegava mais cedo para os meus braços.
Quisera eu que pudesse permanecer onde estava, ou fugir o mais longe possível.
Assim que meus olhos caíram em sua pele fantasmagoricamente pálida, meu coração acelerou-se, eu queria correr, mas minhas pernas não me respondiam. Seus olhos negros e profundos me sugavam, acorrentando-me ao chão. Eu era prisioneira de meu próprio corpo e o sabia, instintivamente, é claro, ele nenhum movimento fizera desde que chegara em seu cavalo negro como a morte.
Ele estava a apenas alguns passos de mim, eu queria com todas as minhas forças correr, mas eu era a caça do dia, por mais que sua expressão fosse gentil.
Ele desceu do cavalo e veio em minha direção saboreando o momento e meu medo, eu sabia o que ele era, essa criatura. Histórias que minha avó me contara quando criança apitavam em minha cabeça, histórias essas que eu lacrara em meu pequeno relicário mental.
Seus cabelos eram escuros como a noite, e a lua cheia brilhava derramando-se sobre ele, transformando-o na coisa mais linda que eu já havia visto. Sua pele era cadavérica como a face da morte, suas mãos de dedos longos continham unhas igualmente compridas, ele era alto e forte, e mesmo que fosse humano, eu não teria a menor chance, nem você, Ian.
E sabendo disso eu rezei com toda a minha alma mudamente para que não viesses para casa naquele momento, e pedi a Deus, e aos deuses nos quais minha família acreditava, para que você ficasse a salvo... Pois eu suportaria tudo e já havia me resignado com o fato de que morreria... Mas eu não podia perdê-lo para a morte, aquela amante ingrata que ceifa vidas como quem colhe flores de um jardim.
De olhos fechados eu sentia aquela respiração pavorosa em meu pescoço, e era fria, fria como a água em degelo, fria como a ponta de uma adaga.
_Eres tão linda, que penso se não seria útil faze-la minha, ando só há muito, muito tempo.
Eu não me mexia, eu mal respirava, e tremia enquanto sentia suas presas afiadas a rasgar-me.
Eu sentia o frio me invadindo, cortando-me, ao mesmo tempo em que meu sangue, minha vida, me abandonava.
Minhas pernas perderam a força, eu já não podia pensar e a única coisa que me segurava ao chão eram seus braços.
Logo senti que a dor, e por Deus, o prazer, já não me afligiam e tentavam penetrar na barreira de meus pensamentos, tudo o que restava era... Nada, um vazio terrível e excruciante, e em seguida, tudo foi escuridão.
Quando acordei, estava no meu próprio túmulo a sete palmos de chão. Eu tentava gritar e batia louca e frenética na madeira que me enclausurava, mas nada acontecia, até que desisti de minhas investidas inúteis e fiquei totalmente quieta pensando, era tudo confuso, mas quando se tem tempo, não é tão difícil organizar os pensamentos, que foi o que fiz.
A primeira coisa de que tive certeza foi que estava morta e aquela era minha genuína mortalha. O resto veio fácil, eu por certo não estava completamente morta, tão pouco viva, já que não asfixiava na ausência de ar de minha cova. Eu era uma morta-viva, uma vampira.
Depois de um tempo que não é possível contabilizar, ouvi o barulho de terra sendo movida, em seguida, senti a tampa sendo retirada e lá estava meu mestre, meu criador, lindo em sua glória fria. Era tudo tão intenso, os detalhes, as sensações, era tudo muito único e... Confuso.
A lua brilhava enquanto ele me ensinava tudo que eu necessitava saber, mas foi preciso menos que uma noite para que eu me lembrasse de ti, meu amor.
E foi por isso que voltei, todas as noites, após separar-me de meu mestre e um pouco antes de retirar-me para nossa cripta, eu o visitava, Ian, porque meu amor era maior do que minha fome e meu desejo doloroso por seu sangue. Como deves imaginar, não foi difícil convencê-lo a me convidar para nossa... Sua casa.
Todas as noites eu o via dormindo e chorar chamando meu nome, além de ler suas anotações, e, foi por isso que apareci, porque eu não suportava mais vê-lo sofrer. Doía em minha carne, eu sentia como se fosse rasgada por dentro, como se estivesse morrendo novamente, mas pior.
E... Eu decidi vir despedir-me, pois devo partir com meu mestre, mesmo que eu não o quisesse, eu iria, pois não posso recusar-me a atender um chamado de meu criador. E agora, Ian, eu o amo, assim como lhe amo, de uma forma diferente, pois sem ele eu morreria, por motivos mais do que óbvios.
E é por isso meu amor, que devo partir, e, dessa vez, é realmente para sempre.
E agora, eu lhe pergunto:
_Ian, me perdoas? Por tudo?
_Sim. Sempre, não vá!
_Eu preciso... Adeus, Ian...”
***

Ian Einsamhertz



E dizendo isso, ela se foi, como uma brisa fria e leve como uma pluma, deixando-me com as respostas que tanto desejei, mas que hoje desejaria não ter. E o vazio em meu peito, era como um buraco negro que ameaçava sugar-me para o meu interior sangrento, pois em mim agora, tudo era dor e ausência. O fato de saber que ela não se fora era ainda pior, pois a cada crepúsculo, eu inutilmente esperava por ela, mas ela jamais apareceu, ao menos eu não a vi mais. Talvez ela tenha conseguido me esquecer, mesmo que eu nunca seja capaz de fazer o mesmo.
Anos depois eu me casei com uma moça que conheci em uma de minhas andanças em busca de informações sobre vampirismo, temos dois lindos filhos, uma menina e um menino, chamados Erika e Alfred, eles são agora a razão de minha vida e a esperança que pensava nunca voltar a ter.
Amália, minha esposa, não sabe de tudo que aconteceu com vós, somente que morrestes, ela não precisa carregar o fardo que carrego em minha alma desde aquele dia, sete dias após vossa morte.
Sei que em breve partirei para os véus desconhecidos pelos quais todos os Homens inevitavelmente passam um dia, sinto isso, meu corpo já não é o mesmo e minha saúde definha a cada dia que passa, mas eu não me importo, eu fui mais feliz do que pensei que seria, porque depois que partistes eu me sentia morto por dentro.
Os dias agora são longos e as noites curtas, imagino que não deves gostar disso, mas as crianças adoram, elas passam o dia todo brincando com os animais, adorarias ver isso, a alegria e inocência deles é contagiante, é como um gole de água fresca após horas no sol quente, refrescante.
Deves de estar perguntando-se por que escrevo isso, ao pé das cartas alucinadas que escrevi naqueles sete malditos dias, pois bem, é porque sei que quando meu corpo estiver aprisionado a mortalha que encerará minha carne para sempre, irás visitar nossa antiga casa. Lá, haverá para vós, esse pequeno diário em que decidi contar-te o fato, de que apesar de tudo, eu encontrei a felicidade, e caso ainda se sinta culpada por abandonar-me, isso sirva de refrigério para vosso cansado coração.
Desejo sinceramente que sejas feliz da melhor forma possível;


 Ian





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