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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Saudade


(Não sei a quem pertence essa imagem, se alguém souber, me avise)



Navegando por águas inavegáveis
Recortando as espumas e dançando sobre as ondas
Vinha o meu sonho, meu canto, minha prece
A doce aurora das trevas do meu fado

Rasgando os mares com dedos de ferro
Ao som da harmonia diabólica de nereidas pérfidas
Seus clamores a ecoar pelas águas salinas
O meu encanto fez-se forte

Balançando em trevas e trovões
Na noite negra em que revolto o mar urrava
O hálito pútrido de Kraken lhe chegava aos flancos
Oh pálido sonho que me embalava

Sacolejando em meio ao amanhecer
Com gotas de diamantes e rubis a pingar-lhe no casco
No mastro uma bandeira negra
Em meu peito uma flâmula vermelha

Correndo em direção as ondas que quebravam espumosas
Esperei afogando-me em ansiedade
O meu desejo soprado aos céus
Materializar-se em meio ao azul infinito

Sorrindo extasiada à beira mar
Eu vi surgir um barco a remo
E nele vi meu amado a sorrir-me cansado
Seus olhos cansados, meu Oasis ansiado.


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

AMOR ÉBRIO


Imagem pertencente a: Naomii


A taça sempre cheia e transbordando
Os sorrisos a dançar nas noites efervescentes
Irmandades eternas que nunca duram
Vultosos seres que desvanecem na aurora

As luzes psicodélicas rasgando a escuridão em flashes
No mundo encantado em que tudo se esquece
A Alice e a Rainha devoram-se enfeitiçadas
Embaladas pelo balanço alucinado de Eutérpe

Os beijos quentes de amores evanescentes
Ébrios sonhos que surgem na névoa difusa
Na prata noite de Baco
Que com dedos róseos, a aurora extingue.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Indescritível





O doce elixir que lhe melava os lábios rubros
As faces rosadas que brilhavam afoitas
No bruxulear das velas cálidas que recaiam
Sobre teu corpo tremulo que ia e vinha no balanço da brisa

A música primitiva que retumbava em nossos seres
O bombear dos corações em uníssono
Bailando a canção que os corpos sabem
E pela qual as almas clamam nas noites longas

Os lábios entreabertos
Os gemidos ecoando e ascendendo a imensidão da noite
Buscando manifestar o indescritível
Preencher-se de plenitude e gritar ao infinito

Amazona das horas mortas a cavalgar em direção ao céu
Subindo e descendo sob a terra dos homens
E recebendo-me por inteiro em si
Com um doce abraço que me preenchia
  

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Quebre o Gelo

Imagem retirada do Google Imagens, não consegui identificar o autor.



Quebre o gelo, beba uma bebida, sorria. 
Dance noite afora, tire fotos e compartilhe seu gozo.
 Faça amigos eternos de uma noite. 
Acorde com um estranho. 

Entorpeça-se desesperadamente. 
Maqueie o vazio com álcool. 
Festeje o seu terror. 
Emudeça o medo. 

Trague lentamente um cigarro.
 Assista a fumaça ser engolida pela bruma. 
Morra aos poucos e repentinamente.
 Acalme o grito que clama em sua alma. 

Absorva o fracasso do dia-à-dia. 
Beije a morbidez do que lhe restou. 
Abrace o caos. 
Dispa-se de quem se é. 

Corra contra o tempo e o encontre no percurso.
 Dando voltas ao seu redor e rindo. 
O tic-tac ensurdecedor vibrando em seus ouvidos.
 Bio-ló-gi-ca-men-te uma bomba. 

Olhe por sobre os ombros.
 Vislumbre o que ficou e perceba.
 Que as folhas do outono já se foram. 
E o inverno virá a galope.

Crônica: Seus silêncios



]
Imagem do Anime NANA - Ai Yazawa.


Os dias passaram rápida e preguiçosamente e o perfume das jasmins primaveris perdeu-se no cheiro ocre de suor daquele verão em que eu a perdi. 
Não posso dizer que foi de forma repentina ou mesmo injusta, os sinais estavam lá, no sorriso triste com que ela me brindava sempre que eu dizia algo referindo-me a nós no futuro. E a forma dura com que seu corpo se moldava ao meu sem paixão e calor, somente motivado pelo costume, uma espécie de sentimento de obrigação para com o outro após anos de cumplicidade e familiaridade, é compreensível e completamente normal se sentir assim, por vezes inclusive me questiono sobre o quão difícil foi para ela tomar essa decisão. E quando penso que a infelicidade estava estampada em seu ser, não deixo de me sentir culpado, me questionando se fui eu o motivo daquele sofrimento, se a minha existência causou aquela dor profunda e silenciosamente gritante em seus olhos. 
As vezes penso que sou muito passivo e muitas vezes já me senti como um peixe que segue o fluxo do rio. Não que eu não questione as coisas, ou faça escolhas medindo suas conseqüências, eu simplesmente não tenho planos ou objetivos, a vida me carrega em seu fluxo interminável. Me pergunto se isso é errado ou uma falha de caráter. 
Nesse momento todos parecem ter medo que eu comece a chorar ou tenha uma crise a qualquer momento. 
Não consigo entender tal preocupação, será que por ter sido largado eu deveria desmoronar? É isso que a sociedade e suas etiquetas morais ridículas espera de mim? Terei sido presenteado com o rótulo de “perdedor” simplesmente por ter “perdido” um amor? 
A verdade é que não me sinto mal, talvez seja letargia e em breve eu tenha alguma crise psicótica e me atire de algum prédio deixando para trás somente a minha ausência e um bom whisky. 
Infelizmente para alguns, não pensa que isso venha a ocorrer. Em verdade, nem mesmo sei porque ainda estávamos juntos, o motivo de nosso relacionamento ter perdurado me é desconhecido. A meu ver as pessoas falam demais de amor. É amor pra cá, amor pra lá e ele justifica tudo. Porém, será que elas sequer sabem o que é o amor?  
Sei que paixão queima por dentro, nubla a mente e dá um tesão da porra, mas e o amor? Qual é a dele afinal? 
Talvez o fato de eu não saber essa resposta seja toda a resposta que eu precisava e o problema seja mesmo a minha incapacidade de realmente me importar com algo de forma fervorosa e com toda a força do meu ser alquebrado. 
E seus silêncios tenham sido os gritos mais estridentes que eu me recusei a ouvir.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Paradoxo




Talvez eu seja um paradoxo.
E você odeie decifrar o cinzento manto.
E a ausência de definições definitivas seja para você
um problema.

Talvez o meu rosto seja exótico.
E o seu contorno estranho não te agrade.
E a distância da normalidade te incomode
Loucamente.

Talvez os meus pensamentos sejam insanos.
E injustificáveis para o seu entender.
E enlouquecidamente você procure entendê-los.
Sem sucesso.

Talvez o que nos separe seja simples.
Um sorriso, um livro, uma música.
E a nossa incompreensão dos sinais.
É que tenha nos separado afinal.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Minha Vênus

Imagem pertencente a Nathalia Suellen!


Deitada sobre a negritude da hora dos mortos.
A minha ninfa perversa encantava os ponteiros.
E o tempo fugidio dançava sobre o balanço.
De seu esguio corpo divino.

Fruto de pecado que me tomou por inteiro.
Na agridoce sensação de uma harmonia cósmica.
Flutuando nas agruras que corroem os homens.
Eu mergulhei.

Ninfa amaldiçoada, Vênus de meus sonhos.
De seus lábios a seiva da imensidão eu provei.
A completude de uma taça cheia.

O Um que só ao seu lado fui.

sábado, 29 de março de 2014

O Ritual


Imagem pertencente a: Nathalia Suellen




Os sussurros e gemidos que escapavam daqueles lábios rubros e obscenamente belos, rasgavam a noite como adagas afiadas dilacerariam a frágil carne de um corpo. Eles eram como um mantra, um ritual de depravação e decadência que conspurcava o local em que outrora uma alma pura dera seu último e ínfimo suspiro.


Os cabelos dela eram como milhares de grãos de trigo desfiados em longos fios, e a luz do luar que incidia sobre ela tornava-os transcendentais e platinados, e sua pele branca reluzia palidamente conferindo a ela o ar etéreo daqueles que não pertencem a esse mundo.


Com um fraco para a teatralidade, vestia uma roupa digna das noivas de Drácula. Um vestido que se fundia com a noite e revolvia em torno de seus pés com a brisa de outono que bailava em uma sinfonia fúnebre. Diferente de outros tempos, os olhos azuis de Ermina eram opacos e pareciam trazer a tona a morbidez do próprio tártaro purgatorial.


Suas mãos seguravam firmemente um cálice redondo e prateado elevando-o acima de sua pálida tez, como se o reverenciasse enquanto entoava aquele canto maldito e perverso destinado a desafiar leis que humano nenhum deveria desafiar. Mas não havia dúvida no vocabulário de Ermina, a certeza sobre o que desejava era a única coisa certa em sua vida repleta de erros e fracassos. Ela precisava fazer isso, era o melhor que ela poderia fazer, um papel que somente ela, com sua paixão ilimitada, teria coragem de desempenhar.


Com um movimento suave, ela abaixou-se e pegou uma pequena caixinha de sapato, que abriu com cuidado reverencial e de lá tirou o que parecia ser um dedo médio em estado de avançada decomposição. Sorrindo de forma cândida ela levou aos lábios aquela coisa putrefata e beijou, um beijo cuidadoso e gentil - voltado ao mais doce dos amores - e colocou-o cuidadosamente dentro do cálice.


O tom de sua voz descia e subia em uma cadência ritmava que lembrava o som de tambores a vibrar pela noite. Ao mesmo tempo, com um gesto suave e exultante ela pegou de dentro do decote um pequeno frasco transparente, dentro dele um líquido espesso e vermelho e despejou-o no cálice.


Inicialmente, nada mudou e a noite continuou enluarada e tranquila, mas conforme o canto continuava – agora acompanhado de uma dança ritmada e eloqüente – e o ar pareceu parar, era como se o mundo prendesse a respiração enquanto aguardava o que viria a seguir naquele ritual demoníaco. Era como a calmaria que antecede uma tempestade gigantesca e no horizonte, nuvens negras começavam a surgir rapidamente, em pouco tempo a lua desapareceu, e a escuridão tomou conta de tudo. O próprio nada parecia estar personificado naquele bosque, e as luzes dos postes próximos pareciam ter desaparecido. Uma nova dimensão parecia ter-se aberto e engolfado tudo em seu ventre. Era o nada, o fim, o começo.


A voz dela cessou com um longo suspiro exausto e seu corpo em transe balançava como um pêndulo sobre seus pés, sem firmeza alguma, sua energia estava esgotada e com um último esforço, ela abriu os olhos novamente.


Uma única lágrima escapou de seus olhos quando notou o que havia feito. Com um sorriso nos lábios vermelhos, ela estendeu as mãos em direção àquilo que ela mais queria nesse mundo.


No chão uma pequena forma de pouco mais de um metro e meio de comprimento se encontrava enrolada em si mesma, seu corpo contraia-se em pequenos espasmos e baba branca escapava de seus pequenos lábios roxos. Seus olhos negros e nebulosos fixavam-se em Ermina, como se guiados por um fio invisível, sem ao menos piscar. Os cabelos, do mesmo tom dos de Ermina, caiam-lhe na fronte e cobriam-lhe o corte ensangüentado que lhe tirara a vida. Confusa, ela estendeu a mão tentando agarrar a mão que a fada da noite lhe estendia.


- Ermina. - O som de sua voz era seco e rouco, como se a muito não tivesse uso.


- Melina.


As mãos quase se tocavam agora, mas elas pareciam presas ao chão, duas criaturas tão parecidas e ao mesmo tempo tão diferentes.


- Senti tanto a sua falta – começou a mais velha das duas com a voz lastimosa – tanta... Tanta.


- Eu também.


- Nada mais é igual, eu sento sua ausência como se me tivessem tirado uma parte de meu próprio corpo...


- Não devia ter feito o que fez.


- Eu precisava! Eu não podia! Não podia suportar! Era... O fardo era demais para suportar! – seus punhos erguiam-se enquanto ela gesticulava freneticamente e gritava a todo fôlego.


Lágrimas de desespero borravam seu rosto maquiado de preto e tingia sua face do negro da morte.


- A morte não é o fim, Ermina. Você não deveria ter interferido nas leis do universo. Da ultima vez que foi imprudente as conseqüências foram graves...


- Não me importo! Com nada! Eu faria qualquer coisa por você! Destruiria o mundo todo, renegaria a tudo e a todos se pudesse te trazer de volta! Você é minha irmãzinha, não há nada que eu não faria por você, por você tudo é pouco! – gritou ela com a voz embargada pela emoção.


O choro de Ermina cortava a noite silenciosa e parada como o sussurro dos mortos na noite de Samhain. Eram como ruídos impertinentes, uma afronta a ordem cósmica.


- Deveria... Oh Ermina, porque sempre faz isso?


- Não! Não diga isso, não foi minha culpa!


A essa altura Melina se encontrava em pé de frente a Ermina, seu corpo possuía um tom doentio e roxo e seu vestido de cetim branco se encontrava carcomido em muitos pontos deixando a pele em estado de decomposição aparecer.


- Se não se sentisse culpada, não teria feito o que fez. Ermina, isso precisa parar.


- Eu só queria você de volta, porque me trata assim, irmã? Não me ama mais? Seu amor por mim foi-se junto com sua vida?


- Só não queria que tivesse feito o que fez, meu amor por você jamais mudará, por toda a eternidade será forte e belo, como sempre foi. Mas...


- Você jamais poderá me perdoar...


Com um suspiro, Melina abaixou a cabeça e pôs-se a chorar, os soluços que vazavam de sua garganta eram o som mais triste que já se ouviu na face da Terra.


- Pensei que você entenderia... Eu... Eu pensei que você soubesse que eu nunca magoaria você, que tudo o que fiz foi por amor.


- Mas o amor não justifica tudo e por causa do seu amor, minha vida acabou. Deixe-me descansar Ermina, não deveria ter mexido no que desconhece, você pagará por isso, só espero que o preço não seja alto demais.


- Que seja alto! Que seja infinito! Não me importo, quero morrer.


- Não diga isso, você não sabe quão triste é a morte, estar entre os véus insondáveis, isolada da vida terrena... Sozinha... Ah, a escuridão... É desesperadora...


- Queria poder trocar de lugar com você...


- Mas não pode. Não deve. Agora me deixe descansar, eu lhe imploro.


- Tão cedo... Tão jovem... – com um passo curto, ela aproximou-se da irmã e acariciou sua face gélida e fétida – Oh Deusa, por que!?


- Não culpe a Deusa por suas escolhas. Foi nossa vaidade que nos trouxe onde estamos hoje – Melina segurou as mãos da irmã e beijou-as.


- O preço foi alto demais...


- Mortais não devem mexer com os segredos dos deuses, há coisas que devem permanecer ocultas...


Por alguns segundos a noite permaneceu em completo silêncio, como se o próprio tempo tivesse parado e aquele instante fosse durar para sempre. Mas o pio de uma coruja soou ao longe e uma brisa fria carregada de neblina começou a invadir o bosque escuro em que somente duas figuras eram visíveis.


- Melina, não vá! Oh não, não me deixe novamente, não posso suportar! Oh Deusa, leve-me...


- Ermina... für immer... Lembre-se disso.


- Não!


E com um leve farfalhar Melina desapareceu no ar. No mesmo momento, a lua incidiu novamente sobre o local onde as duas irmãs tiveram seu adeus definitivo, mas não havia mais nada lá, somente um cordão com duas rosas enlaçadas.


***

quarta-feira, 26 de março de 2014

Anjo caído

Imagem pertencente a: Nathalia Suellen


As lágrimas vazam de meus olhos, salgadas.
Na boca o gosto da bile, amarga.
E o soluço que de meus lábios escapa, reverbera por minha alma cansada.

Na noite em que as hostes aladas definhavam, celestes.
E que um brilho escarlate tingia a imensidão dos astros, longínquos.
 O canto da cotovia anunciava um novo tempo.

O beijo que em minha boca ficou gravado, pecado.
Anunciava as trombetas do fato, terrível.

E aquele que eu amei, suas asas perdeu.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A Queda do Artista



Amortecendo a chama que queimava, vermelha.
Um vazio gélido que se propaga.
Nos passos incertos de um viajante solitário.
O eco da ausência reverbera.

Emudecendo nos lábios a canção que outrora fluía.
Os dedos insensíveis dedilham uma mórbida melodia.
Estridente e desesperadora.
É a morte em vida do trovador.

Esquecendo o que a boca jurou guardar.
Na memória dos acasos que se esparramam pelo chão.
A agridoce prece de um espectro.
Ecoa na noite que não tem fim.

Abandonando o sonho que lhe era caro.
Clama por clemência o jovem das lágrimas de cristal.
O prenuncio da miséria espiritual refletindo-se;
Nas notas tristes que escapam por seus dedos rijos.

Desbotando as cores da primavera.
Na palheta que outrora resplandecia hoje só há a decadência e a escuridão.
No quadro inanimado um rosto, um borrão.
Um adeus.


Poesia inspirada no conto "A balada do enforcado" do Márcio Bordin!
Disponível em: A Irmandade


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