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quinta-feira, 29 de junho de 2017

No hospital


Neste lugar em que a vida e a morte
coexistem a cada suspiro
em que as esperanças e os infortúnios colidem
a cada momento
Uns deixam suas primeiras lágrimas
outros as últimas.

Nessas paredes sempre frias
retumbam ecos de histórias:
passado,
presente,
futuro,
mesclando-se em um vórtice
de imagens e deja vus frequentes.
O que se foi e é, será ou jamais será...
Sonhos nascem e se confundem
Iniciam-se e se encerram
caminhadas...



Imagem de: Norvhic Fernandez Austria
Para conhecer mais trabalhos do artista:
http://xetobyte.deviantart.com/
Todos os direitos de imagem pertencem à ele, nenhuma intenção 
de dano aos direitos de imagem do dono original do trabalho nessa postagem.

quarta-feira, 8 de março de 2017

O que era então?


Esse poema pequeno, singelo
agridoce e perverso.
Retrata em cada verso
sentimentos que me ardem no peito
qual chama bruxuleante a esvanecer no vento.

Era o sol na manhã de março
o beijo na noite de fevereiro.
As águas que lavavam o tempo
e carregavam os dias
em direção ao esquecimento.

Era a poesia da alma,
o sonho destinado
a beleza transformada no sorriso
que ecoava no verso que jazia
no fundo do peito

Era a aurora que despontava no firmamento,
o canto dos pássaros embalando seu sono
enquanto eu em juras de amor me dissolvia
ao observar tua face
que em sonhos se remia.

Era o medo e o temor que me consumiam,
e de figuras de pesadelo eu me retorcia
amaldiçoando os dias que em impropérios indignos,
nosso eterno se findaria em lágrimas que me cortariam a alma
deixando-me em frangalhos que jamais se curariam.

Era, enfim, amor, antes mesmo de ser
carma de vidas passadas
eco do que foi e jamais será
paradoxo de um sonho que perdurará
nas areias do tempo que fluem.


quinta-feira, 24 de março de 2016

Memento Mori




Mergulhou no trabalho como se acreditasse que era
Eterno e indestrutível
Martirizou-se pelos objetivos que não alcançava
Esqueceu-se de observar o nascer do sol que
No horizonte cálido se esticava diante de seus olhos
Trocou os prazeres e alegrias por promessas de um futuro
Onde aproveitaria tudo com calma

Mas esqueceu-se do novelo nas mãos das Parcas 
Odiosamente a diminuir a cada crepúsculo que ele não via
Rumo ao fim que todo ser enfrenta ele caminhou
Inconscientemente rumo ao fim;

Memento Mori.

Des-expectativas




Aos 20 e tantos anos de existência senti que afundava. Não sabia explicar como, mas percebia que a penumbra não era a mesma de outrora, as sombras pareciam esticar-se, estender-se em minha direção como braços desesperados por agarrar-se a algo. Elas pipocavam em torno do abismo, ameaçando puxar-me ao menor deslize.
Eu sabia que aquilo não era real, que não existia nada no canto escuro do quarto e que minha mente era a culpada pelas vozes que gritavam da escuridão, mas o saber não poderia me proteger do que sentia tão profundamente em meu âmago. Eu estava delirando.
As promessas e os sonhos que poderia ter tido eram como âncoras agarradas aos meus pés, elas me prendiam e me machucavam, impedindo-me de continuar em frente. Cada passo era um suplício, deixava um pouco de minha carne ensanguentada para trás. Um pouco de mim morria a cada passo e muito de mim desaparecia a cada passo que não dava em frente.
Era um beco sem saída em que o peso que se acumulava parecia hercúleo, mas só eu o sentia. Ninguém mais poderia vê-lo ou notá-lo, ele apenas existia em minha cabeça. Mas isso não diminuia seu poder sobre mim.
Durante a noite eu cercava-me de luzes, de distrações e músicas que pudessem entorpecer meu cérebro para desviá-lo dos fantasmas que acenavam para mim, mas eu os via com minha visão periférica; chorando, gritando, rindo e apontando seus dedos desfigurados e insólitos em minha direção, elevando seus prêmios, escarnecendo. Eles eram aqueles que haviam alcançado sucesso onde eu falhara. 
O peso da expectativa me afundava mais fundo a cada dia que eu sentia que se passara em vão. Eu me culpava, e me culpando, eu descia mais fundo. Arranhava o fundo do poço com unhas roídas e lascadas com esmalte velho. Os olhos fundos e sem vida, os cabelos eram um emaranhado de fios desconexos. Eu era aquilo que mais temera, era uma fracassada.
Eu fracassara em tudo, os espelhos de minha casa estavam todos quebrados. Não seria suportável ver meu reflexo odioso, a decadência me sorriria malignamente despertando a ânsia novamente. 
Quando isso vai parar? 
Quando vai passar? 
Não sei. 
Não quero. 
Não posso.
O que eu faço?
Debaixo do chuveiro eu chorava por horas na água gelada pois não tinha pago a energia elétrica. Aquilo amortecia a dor mas as vozes pareciam vibrar junto com o barulho da água que escorria pelo ralo. Em posição fetal eu encarava o vazio e meus pecados me encaravam de volta, satisfeitos. O medo me transformara. Eu era sua prisioneira cativa. Não havia escapatória. 
Explodi, levantei-me de salto e joguei o sabonete para o alto, gritando até minha garganta arder.
Vão embora!
Me deixam em paz...
Soquei a parede e me deixei cair no chão, os nós dos dedos sangrando, mas eu não sentia a dor... Eu não sentia mais nada. 
Quero minha casa...
Me leva para casa. 
Era o que eu implorava às sombras, mas elas não me ouviam, elas só me observavam dos cantos, com olhos que me julgavam, me classificavam, condenando-me e denunciando meu fracasso.
Não aguento mais...
Em um surto de força corri, lancei-me aos trancos pelo corredor do prédio, a nudez escancarada, os cortes no pulso pareciam latejar. 
Preciso de ar.
Não aguento mais.
Desvairada, corri em direção a parte externa do prédio. O ar entrou em meu pulmão em grandes golfadas desesperadas, a dor era muita, eu não conseguia mais segurar. O mundo girava e lágrimas escorriam livremente por meu rosto. As pessoas a minha volta me encaravam assustadas, chocadas com minha nudez. Elas não se moviam, só me acusavam. Apontavam. Algumas riam e tiravam fotos, transformando minha dor em entretenimento barato.
Desesperada, busquei o ar, agarrei-me ao poste de luz. Perdi as forças, fui ao chão. Algumas cabeças assomaram sobre mim, mas era tudo um borrão, eu só via meus fantasmas aproximando-se, ansiosos por me levarem nos braços. Eu já não temia para onde. Qualquer lugar seria um alívio.
Casa. 
Me levem para casa.
E então, mais nada.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Minha musa


Sinta o perfume da noite
o cheiro inebriante que impregna o medo
a doce promessa de um sonho que se propagará
nas asas dos teus desejos ocultos

Aspire a agridoce escuridão
que encobre os monstros escusos
flutuando nessa festa macabra
um mundo que só existe em teus pesadelos profundos...

Venha ser o meu anjo
ilumine os recondidos de meu mundo
enobreça o monstro que reside em mim
carregando-me em seus braços de luz

Dance comigo, meu amor
cante uma ode à noite e enlace o seu corpo no meu                
Deixe provar da inocência que reside em teus lábios
transforme-me em um ser redimido e eu serei eternamente teu

Ninfa que encanta os sonhos
de um pobre e cansado pecador que sangra nessas noites vazias que nunca findam
perpetuando-se em ecos ébrios de fracasso
devolva-me o que me foi roubado e faça-me novo

Destrua minha armadura
desnude-me completa e irremediavelmente
e eu flutuarei contigo pela eternidade
perdido nas nuvens de nosso amor que perdurará

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O eu que vos fala



O eu que vos fala
em versos desatentos e evanescentes
que permeiam no tempo e flutuam nas linhas
é um eu que sangra na ampulheta que nunca se acaba
gota por gota de desilusões e desafetos
amores que ascendem na imensidão dos desalentos cálidos
e viaja em asas atemporais

Esse eu que vos escreve
e que derrama um traço de si em cada letra
deixando para trás um rastro de “eus” que se perdem
em um caleidoscópio de reflexos de um jogo de espelhos
inevitável que se propaga a cada verso
desse conto narrado em vermelho

Oh o eu lírico que flutua acima das nuvens
e cata sonhos com rede de pesca
enquanto devora amores com uma fome inextinguível
sobrevive em um tempo que não pode ser medido
que não existe, mas perdura na imensidão.

Incongruências do amor




As estrelas eram brilhantes
em um céu límpido de pureza lívida
as nuvens eram algodões doces
que inundavam a minha boca
com o seu sabor
adocicado

Os pássaros voavam e meu corpo
flutuava
sem ancoras ou medos patéticos
era o paraíso que construíramos
o desejo entalado em meu peito
Eu era eu como nunca fui
como nunca me permiti
Não havia medo
cada olhar era sincero e a
honestidade e certeza permeavam os nossos
toques
Eramos completamente nossos

De repente
sem aviso prévio
ou traços de alerta
eu me vi desabando
caindo do mais alto pico de sonhos
voltando a terra dos imorais

Os sonhos que tive
ah, os planos que fiz
meu amor se soubesses
o quanto de ti havia em mim
naquela bruma encantada dos amores que transbordam
deixarias que me vazasse um pouco mais
e penetrarias ainda mais fundo em mim



sábado, 9 de janeiro de 2016

O voo das borboletas



Era uma manhã de outono na grande São Paulo e o barulho da cidade despertando vibrava pelo ar. Ele estava sentado no degrau da escada, os olhos inchados de tanto chorar. O nariz repleto de ranho, o rosto desfigurado de dor e descrença. Como isso poderia ter acontecido? Esse entendimento parecia fugir-lhe pelas pontas dos dedos, como uma borboleta faceira e esguia.
Com uma fungada deprimida ele decidiu que era hora de encarar o momento, deixar a dor de lado e ser o homem que ela havia lhe ensinado a ser, com tanto amor, carinho e dedicação durante todos aqueles anos. Arrumou a gravata cinzenta lentamente, as mãos tremeluzentes dificultavam o processo já naturalmente complicado. Um último olhar para o alvorecer, ao longe nuvens escuras despontavam no horizonte. Talvez amanhã chovesse.
Suspirou uma última vez e entrou na casa pintada de marrom, a tinta descascando em alguns pontos, se arrependeu de não ter pintado no verão passado quando a mãe insistira. Pelo canto dos olhos viu na porta os riscos que indicavam o crescimento dele e da irmã. Lembrou-se com tristeza da alegria que sentia a cada centímetro que passava a irmã e do orgulho bobo e infantil que sentiu quando passou o pai na altura, o brilho de divertimento nos olhos do mesmo vendo o filho feliz com algo tão simples.
Caminhou mais um passo casa a dentro, o cheiro do perfume da mãe inundou-lhe os sentidos como um soco na boca do estomago, as flores da mesa de centro estavam morrendo, as pétalas caiam preguiçosamente pelo móvel e espalhavam-se pelo chão de madeira polida com zelo, que agora começava a perder o brilho.
Da cozinha vinha o cheiro de bolo de cenoura e seu coração deu uma guinada de esperança tola, a mão suou frio, os pés aceleraram o passo. De costas a figura remexia nos armários com seu avental de tetris, presente dos filhos em um natal muitos anos antes, as mãos moviam-se ágeis pelas portas. Quase correu a abraçá-la, mas então a figura virou-se e o encanto quebrou-se relevando a irmã. O rosto jovem e com poucas rugas lançou-lhe um olhar triste e piedoso ao ver o espanto no rosto do homem que estacara na porta.
- Desculpe, só tinha esse avental aqui...Eu… Eu pensei em fazer um último bolo… Sabe, para relembrar os bons tempos… Acho que… Acho que mamãe gostaria disso.
A garganta fechara-se, os olhos encheram-se de lágrimas, as mãos ficaram pregadas ao lado do corpo. O ar parecia faltar e o mundo parecia abrir-se sob seus pés imensos, tamanho 43.
- Oh Gabriel, sinto muito, muito mesmo…
A jovem mulher correu para abraçar o irmão mais novo, seu bebezinho, seu tesouro mais querido. Os dois permaneceram abraçados, as lágrimas rolando enquanto o cheiro do bolo de cenoura os envolvia. 
- Anna, o que faremos sem ela? Eu… eu não consigo imaginar como será… - indagou o rapaz, o nó na garganta dificultando a fala. 
- Não sei.
Com um movimento suave ela afastou-se e segurou o mais novo pelos ombros largos, quando é que ele ficara tão grande e forte? Perguntou-se ela enquanto fitava aquele rosto jovem repleto de dor. Ela respirou fundo e disse o que precisava ser dito, sabia que precisaria ser a forte ali, pelo bem da família, sem a mãe por perto a função de manter a família unida seria sua.
- Olha Gab, sei que agora está doendo muito, mas ela não gostaria que ficássemos lamentando, tenho certeza que ela ficaria triste e choraria se nos visse assim, como ela sempre fazia quando vinha consolar a gente, você lembra? - perguntou ela sorrindo, a voz embargada, as lágrimas escorrendo - Ela vinha tentar consolar a gente mais acabava chorando junto...
Os dois riram, a mãe sempre fora uma manteiga derretida, chorava por praticamente qualquer coisa no mundo. Ninguém podia chorar perto de Dona Carine que ela chorava junto, era mesmo uma molenga aquela velha, pensou a jovem com nostalgia.
Com um último afago no ombro do jovem, ela afastou-se e foi tirar o bolo do forno, o cheiro tão bom lembrava a mãe, tudo ali lembrava ela, cada pedaço daquela casa era recheado de recordações maravilhosas, e agora dolorosas. 
- Acho que você deveria acordar o pai para comermos e irmos, está quase na hora.
O jovem acenou com a cabeça e dirigiu-se as escadas, onde encontrou o pai parado olhando para o nada. Preocupou-se, não sabia como lidar com o homem mais velho, nunca haviam sido muito ligados, sempre fora a mãe que lidara com os filhos. O pai apesar de ser bom homem, sempre fora muito fechado e quieto.
Com calma ele aproximou-se do pai e colocou-lhe a mão no ombro, seguindo o olhar do homem. A poucos metros dali uma borboleta colorida esvoaçava dentro da cristaleira antiga, sobre as fotos de família de forma hipnótica. 
- Você sabia que sua mãe adorava borboletas? Ela sempre fora fascinada por esses pequenos animais - disse o homem com a voz de timbre forte oscilando de emoção. Caminhou até a cristaleira e abriu a porta com calma, um sorriso sereno estampado no rosto - mas veja só, como você foi parar aí dentro, pequenina? - Levantou o dedo para o pequeno inseto que pousou delicadamente. O homem então endireitou-se e levou o animal para o jardim que a mulher cultivara durantes anos e que agora era sua responsabilidade.
O filho observava com fascínio enquanto a borboleta sobrevoava a cabeça do pai e depois subia rumo aos céus. O homem virou-se e dirigiu-se em direção a cozinha sem uma única palavra sobre o assunto, e ele jamais falaria sobre aquele momento, mas o sorriso sereno e calmo que estampava em sua face cansada e marcada pelo tempo, anunciavam tranquilidade e paz de espírito, o que deixou o filho mais calmo.
Comeram o bolo enquanto relembravam momentos bons do tempo em que eram crianças, episódios em que a vida lhes tinha parecido infinita e as possibilidades inesgotáveis, e com calma e tranquilidade dirigiram-se a igreja onde diriam um último adeus a mulher que mais haviam amado no mundo e que a sete dias partira, para nunca mais voltar. Mas eles sabiam agora que não era um adeus, era um até breve.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Beltane II

Retirei a imagem desse site aqui mas não sei onde eles arrumaram e quem é o artista.


Flutuando na brisa da noite
Cantando em uivos ao luar
As grinaldas de flores silvestres 
Ornamentando os cabelos selvagens
o corpo a balançar no ritmo dos tambores

Rainha da noite
Os olhos dourados a brilhar intensamente
Quero que venha em minha direção
E pegue minha mão
Que me escolha para ser seu

Nessa noite eterna e sem fim
Os corvos crocitam nas árvores
As corujas piam do alto de seus ninhos
Com as luzes da fogueira a reluzir em seus olhos
Animalescos

Ninfa dos bosques 
Filha da terra e dona da sensualidade
A noite só termina quando a aurora chegar
E nessa festa anciente e mágica
Eu quero ser seu

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Talvez, você?



Guardo na alma a tatuagem em incandescente chama
em meu peito a saudade clama pelo abraço que você negou.
Raras são as noites em que não role na cama;
sonhando os sonhos que você abandonou.
Omitindo o desejo que inflama;
nossos beijos prometidos, que você me negou.

Não, eu não sei o que restou desse sentimento adormecido;
e o que persiste em meu peito sem motivo;
tudo o que eu sentia deveria ter desaparecido.
Oh triste desejo que me consome e mantem cativo.

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