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terça-feira, 30 de abril de 2013

Dama da neve

(Não sei a quem pertence a imagem x.x)

   
Era um lugar engraçado, onde nas noites de inverno a floresta branca e mórbida parecia iluminar-se com uma luz intensa e fluorescente que a fazia reluzir como a mais bela coisa que eu já havia visto. Aquela cena me encantara por 18 invernos e provavelmente sempre me deixaria extasiado, pois foi em uma dessas noites que eu a encontrei.
Ela estava vestida de luz e seus cabelos coloridos espalhavam-se a sua volta, luminosos em meio a neve que a encobria, seus lábios tornaram-se azulados, a cor da morte.
Eu não sabia que tipo de criatura ela era, seu cheiro era como o eucalipto fresco misturado com algo mais intenso e maravilhoso. Algo que eu desconhecia e  que, portanto, me fascinava.
Seus olhos cerrados, de cílios longos pontilhados de neve, tremeluziam como se ela estivesse sonhando, mergulhada em véus de Morfeu, embalada em cantigas de ninar que eu jamais conheceria.
Cingi seu esguio corpo vestido de nuvens de tempestade junto a mim, seu coração em orquestra solista, lentamente tamborilava uma penosa balada, e seus braços arrastavam-se pela neve deixando um rastro de serpente por onde passávamos, assim como seu vestido.
Carreguei-a por um longo tempo, enquanto uma tempestade formava-se no horizonte e aproximava-se, cada vez mais perigosa e próxima. Eu precisava encontrar um abrigo, a vida dela dependia disso.
Levei-a para uma caverna que em várias ocasiões me servira de abrigo e me protegera dos dedos frios e pálidos da dama de negro, que possui uma adaga prateada presa a cintura. Soltei-a no chão, sob um montículo de galhos e folhas que algum grande animal havia feito para manter-se aquecido, dias atrás.
A luz que descia multicolorida do céu, tocando a neve com dedos de fantasia iluminava o rosto daquela criatura grande talhada da mais pura porcelana. E como porcelana, ela claramente poderia quebrar mais facilmente do que aparentava, e sua pele, aquecer-se-ia com o toque.
Estirei-me a seu lado, colocando meu corpo junto ao seu para aquecê-la. Aquela criatura banhada em luz fluorescente me fascinava, eu poderia observá-la para sempre, enquanto a lua crescente brilhasse no firmamento.
Na claridade efervescente, vaga-lumes dançavam na noite, como se pequenos flocos do céu estivessem caindo e derramando-se sobre a neve cinzenta. Mas aquilo não me assustava. Aquela sempre fora minha época preferida do ano, pois o mundo parecia envolto em magia, e a magnitude dessa obra divina era mais perceptível em momentos como esse.
A ninfa de gelo mexeu-se suavemente abaixo de mim, seus pequenos lábios arroxeados abriram-se em um singelo som angustiado, seu corpo, coberto por uma fina camada de água, encolhera no tempo em que estive observando as luzes mutantes ascenderem na escuridão. Ela estava derretendo.
Desesperado, arrastei-a para fora da caverna. Do alto, a neve começou a cair, lentamente cobrindo tudo a nossa volta com pequenos flocos de esperança. Afastei-me para observar abismado, um brilho cinzento quase imperceptível rodeava seu corpo que lentamente se recompunha conforme a temperatura caia.
Eu queria permanecer ao lado dela, ser a primeira criatura que ela visse quando aquelas pestanas finalmente se abrissem para o mundo, não importando quanto tempo levasse.
Juntei todos os galhos e folhas que pude reunir e fiz uma espécie de ninho próximo a ela, para que pudesse observá-la enquanto navegasse pelas encantadas terras do mundo dos sonhos. Eu não queria adormecer, mas lentamente meus olhos foram fechando-se de cansaço.
Quando acordei um brilho palidamente dourado tingia tudo a minha volta, mas ela não estava mais lá. O formato de seu corpo ainda gravado na neve era o único vestígio de sua existência.
Em desespero procurei-a por toda parte, mas não havia qualquer sinal dela, eu a perdera pra sempre, a minha dama das neves, partira.



domingo, 28 de abril de 2013

Fadas



Eu vejo fadas serpenteando a escuridão eclipsal.
Desvanecendo na imensidão dos arcos do tempo.
Em seus pálidos e gélidos sorrisos de malva-rosa.
O canto da cotovia anuncia o descer das cortinas.
Flutuando na aurora de uma era que morre.

Observe o brilho fosforescente nesses olhos.
A insanidade crepuscular de um anjo em queda.
O grito agudo de uma alma que chora.
Enquanto os lábios descortinam um ato mecânico.
De um adeus inarticulado que reverbera na noite.

Nas areias movediças de contrastes que permeiam as almas.
Eram como vagalume perfurando o vasto nada.
Singelos fio de luz em um deserto árido de desilusões.
Macabro era o medo que incendiava suas vestes.
Naquela noite sangrenta em que as fadas partiram.

Nas mentes que moldam a realidade.
Não há espaço para doces fantasias e seres incompreensíveis.
Era o crepúsculo de uma realidade.
A morte do mundo harmonizado.
A ascensão de uma nova era, onde as fadas não podem pisar.



sexta-feira, 26 de abril de 2013

Perfume agridoce




Sinto o aroma daqueles dias, um perfume agridoce de juventude.
Temperado com pétalas de sua sabedoria precoce.
Um Werther da atualidade, sem sua Charlotte.
Um inconcluso ponto e virgula, em um mar de pontos finais.

Naquele tempo, eu acreditava poder resgatá-lo.
Em meu castelo de ilusões eu seria aquela que te resgataria.
Da areia movediça que ameaçava devorar tua alma.
Mas eu nunca pude ser a corda que te reconectaria ao mundo.

O conto que tecemos, do crepúsculo ao alvorecer de cada toque da Aurora.
É como um baú de fadas em que as páginas amontoam-se.
Em memórias, de um sentimento rosado, com mesclas escarlates e esmeraldianas.
De um sonho que jamais se concretizou.

Os fantasmas alquebrados de um passado repleto de cicatrizes.
Aprisionava-me em receios que dominavam a minha alma.
Eu não podia perdê-lo. Você era o futuro que eu almejava.
A rocha em meio as tempestades.

Em meio as lágrimas nas obscuras noites que me encobriam.
A linha vermelha que eu tanto desejava se rompia.
E meu amado encantado.
De mim foi levado.







Gotas de Sangue



Ela sentiu o vento roçando seus cabelos que se mesclavam com a escuridão mórbida, como se fizessem parte de um mesmo novelo de lã negra e grossa. O céu encoberto pela camada de poluição avermelhada que já era típica da capital paulista afastava as estrelas para um universo paralelo diferente, tão distante quanto a própria essência rústica e fluorescente de Kamillie.
Seus pés balançavam vagarosamente sob o infinito inóspito e luminoso daquela megalópole que ostentava um grande outdoor de esperança para aqueles que buscam um futuro novo, uma vida melhor, mas que era uma verdadeira teia de aranha para os sonhos, que acabavam enredados em mentiras e em paredes invisíveis de praticidade.
Kamillie segurava-se firmemente ao beiral da sacada do décimo andar de um prédio comercial qualquer, escolhido a esmo porque parecia ter uma boa vista da borbulhante massa de gente e concreto que trasbordava pelas ruas a todo tempo, como num verdadeiro formigueiro concretado.
Ela não tinha medo de cair, segurava-se as bordas de tudo como sempre fizera durante os singelos 25 anos de sua existência inútil, por costume, já que nunca fora capaz de mergulhar profundamente em nada, sempre permanecera no raso, onde seus pés podiam alcançar o chão ao menor sinal de perigo.
Mas no fundo ela ansiava a imensidão, o voo inconsequente e único, digno da libertação. Um ultimo grito de protesto contra as amarras e mordaças que a amordaçaram a vida toda impossibilitando-a de dizer o que pensava, impedindo-a de sentir. Sentia-se como uma escrava da vida, portadora de correntes invisíveis.
Kamillie sempre desejara o infinito, ansiando voar pela borda do mundo, caindo na neblina da imensidão transcendental. Mas por muito tempo ela receara a escuridão, refugiando-se nas luzes unilaterais que a consumiam sem tocá-la. Porém, ela nunca fora capaz de exalar luz, as luzes sempre tocavam sua pele sem adentrá-la, pois a escuridão dentro dela era maior que qualquer outra.

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