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sábado, 4 de junho de 2011

Tatuagens do amor (Parte II)

São Paulo, Dezembro de 2011.

Aya, a enfermeira, se encontrava impaciente em seu turno da madrugada, afinal, na manhã seguinte tinha muitas coisas a fazer, como comprar os itens necessários para a ceia de Natal que teria que preparar as pressas, já que seus adoráveis sogros decidiram na noite anterior vir passar a noite de natal com seu filho adorado e a nora querida, esse fato soaria de certa forma adorável se não fosse pelo fato de que eles odiavam Aya,  e cada encontro ocorrido entre eles era um suplicio, pois eles sempre deixavam bem claras suas preferencias por uma antiga namorada de Carlos, Andrea, a doce e adorável Andrea.
E enquanto a cabeça de Aya era dominada por um furacão de pensamentos, o alerta do quarto 52 soava sem que ninguém o escutasse, e Anthony abandonado se debatia perdido em seus devaneios, ou lembranças, ele já não sabia distingui-las.

***

Rio de Janeiro, Fevereiro de 2000.

A lua pálida brilhava por trás da poluição, acompanhada pelas estrelas, mal era possível vê-las. As suas costas Anthony escutou um pesado suspiro e sentiu-se enlaçar, o toque quente e o perfume suave e ao mesmo tempo forte o fizeram ter a sensação de lar. Alice...Seu lar já não era onde residisse, e sim, onde ela estivesse, não importando onde fosse, ele acreditava que até mesmo no inferno se sentiria bem, se ela também estivesse lá. Sentindo-se mais tranquilo envolveu suas pequenas mãos nas suas, que estavam frias.
_Eu já não sei o que fazer Thony, parece que nada dá certo, tudo parece estar contra mim, sinto que a qualquer momento desmoronarei – virando-se para que ele a encarasse, Alice prendeu seus olhos nos dele e colocando suas mãos na nuca de Anthony o trouxe para mais próximo de si, colando suas testas, com os olhos derramando-se nos dele como se uma linha invisível os conectasse – mas ai me lembro que tenho você, e sinto que não importa quem  ou o que esteja contra mim, contra nós – corrigiu-se sorrindo – juntos podemos enfrentar qualquer coisa.

_Sinto o mesmo Al.
Aproximando seus rostos, Anthony a beijou de forma cálida, e não sôfrega e desesperada, mergulhando nesse beijo que buscava fundir a essência de dois seres que naquele momento sentiam-se completos, com um amor tão profundo vasando lhes do peito que chegava a causar dor, inundando seus seres com a necessidade do outro, de si.
Com relutância, eles se separaram, a ausência do contato e do calor do outro fez a com que se sentissem vazios, desejando mais que tudo juntarem-se novamente.
_Peço desculpas por minha mãe, as vezes ela é um tanto quanto indiscreta – começou ela envergonhada.
_Percebi – respondeu ele sorrindo, todo peso que antes habitava eu peito se dissolvendo em meio ao sangue quente que circulava por todo seu corpo.
Ainda envergonhada, Alice acariciou com a ponta de seus dedos a face amada.
_Logo ela perceberá o quanto gosto de você e, o quanto sua presença me faz bem, e vai ama-lo tanto quanto eu.
_Isso significa então, que você me ama Alice? – perguntou ele, a frase dita por ela ecoando em sua mente e alma como uma sinfonia mágica.
Naquele preciso momento ele sentiu-se flutuar, tocar as nuvens e as estrelas, perdeu-se em meio a satisfação de saber que ela o amava, pois, até aquele momento nenhum dos dois haviam dito as palavrinhas mágicas, ou feito qualquer alusão a elas. Claro que Anthony sabia que ela o amava tanto quanto ele a amava, ele nunca sentira duvidas quanto a isso, mas ouvir ela dizendo, era diferente, era uma realização, um sonho.
Ele quase não acreditava que eles haviam se conhecido a apenas uma semana, nem mais, nem menos. Para qualquer pessoa isso pareceria no mínimo estranho, e mereceria mil e uma palavras de recomendação de cuidado. Mas aquilo não importava, pois ele a conhecia como raramente acontece, ou melhor, eles haviam se reconhecido, seus corpos não eram os mesmos, mas a alma, que é eterna sim.
E surpreendendo a todas as expectativas, eles haviam se reencontrado em meio a brumosa lembrança que dorme na inconsciência de cada ser.
Anthony não sabia explicar, mas ele sempre ansiara por aquele momento naquela belíssima manhã, em que encontraria aquilo pelo qual ele sempre procurara, desejo pelo qual vivia, o seu objetivo maior, o seu anseio mais profundo, em nenhum momento ele hesitou, pois assim que a viu ele soube que qualquer hesitação de sua parte poderia significar perdê-la.
Afastando-se, Anthony percebeu que Alice estava branca como um papel e rígida, como que congelada.
_Alice? – perguntou ele preocupado.
_Oi – respondeu ela ainda perdida em seus próprios pensamentos.
_Eu também amo você – disse ele sussurrando ao pé do ouvido dela.
E ela se sentiu derreter, como cera em contato com o fogo, como chocolate na boca. E mergulhou e rodou junto a sua própria corrente sanguínea, navegando por si mesma, sem saber o que sentia, era tudo, era nada, era sublime e indescritível. Ela sempre ouvira homens lhe dizendo que a amavam, mas sempre, sempre era da boca pra fora e ninguém nunca realmente a amara, e naquele momento e com Anthony, ela simplesmente sabia que era verdade, ele a amava de fato, não o dizia simplesmente para levá-la para a cama como muitos outros o haviam feito, e ela, a boba, sempre acreditava, e a decepção de se ver enganada a cada vez que entregava seu coração e seu corpo era ainda presente em seu ser, como uma ferida que quando cutucada sangrava e seu coração com o tempo foi se endurecendo, tornando-se por vezes praticamente inacessível.
E naquele singular momento em que a sensação de ser realmente amada a preenchia por completo é que a pedra de gelo, que era agora seu coração, derreteu-se, e ela simplesmente sentiu aquela sensação por cada poro de seu corpo, sentindo-se irradiar alegria. Alice acreditava que poderia dar um abraço até mesmo naquela garota insuportável da sua sala na faculdade, “sim, até com ela eu dividiria minha alegria agora”, pensava ela alegremente, sentindo-se flutuar de tão leve que se sentia.
_Alice!- chamou uma voz vinda do interior da casa.
_ Já vou! – respondeu ela – tenho que ir – disse ela com seus olhos azuis brilhando e a testa colada novamente na de Anthony.
_Quando poderei te ver? – perguntou ele, entrelaçando suas mãos nas dela.
_Amanhã, vou te esperar na faculdade ai podemos passar o dia juntos, o que acha? – perguntou ela sorrindo.
_Perfeito, nos vemos amanhã então Meine schöne...
_Meine... sch... o que? – perguntou ela, intrigada.
_Minha bela, linda... –  respondeu Anthony, e ela o interrompeu com um beijo.
_Não sabia que você falava alemão – começou ela.
_Mas não falo, arranho – respondeu ele com um sorriso malicioso.
E naquele momento, Alice descobriu quão pouco sabia daquele homem, se ele  fosse uma equação, provavelmente seu conhecimento sobre ele seria no máximo 10%. Afinal, uma semana, quase duas é pouquíssimo tempo para conhecer uma pessoa, mas será que é possível realmente conhecer uma pessoa?
Ela duvidava, uma vida inteira não era suficiente para conhecer completamente uma pessoa, pois, por mais que as conheçamos, elas sempre parecem nos surpreender, positiva ou negativamente. Talvez minha mãe tenha razão, pensou ela lembrando-se da conversa que tivera com a mãe naquela mesma manha:
_Alice! É cedo demais, você mal conhece o rapaz, vocês não podem casar-se ou morar juntos, o que quer que seja! É insano e irracional, e logo você, que sempre fora mais racional do que tudo, sempre fora sensata nas situações mais absurdas, nunca pensei que você fosse capaz de cogitar uma loucura como essa! Esperaria isso de sua irmã, aquela pequena cabeça de vento, mas nunca, nunquinha de você, espero realmente que mude de ideia e, se não o fizer, que não se arrependa.
De fato conversa não seria o termo exato, já que a mãe falara, falara e, falara, e ela, Alice, só ficara a ouvir, indignada, mas, resignada. Aquele não era o momento para aquela discussão. Afinal a mãe nunca entenderia o modo como as coisas realmente são, ela sempre só acreditara naquilo que os cientistas podiam confirmar, e Alice tinha que admitir, até conhecer Anthony ela era tão cética, ou mais, que a mãe, e ela realmente não podia enfiar um novo conceito, uma nova: teoria, suposição, ideia – quem se importa? – na cabeça de Rebeca.
Ela só esperava não desapontar Anthony, não ser para ele uma decepção completa, afinal a inconstante da relação é e sempre seria ela, ela que era indecisa, que mal conseguira optar por qual faculdade fazer, ela que sempre temia qualquer escolha e decisão e que demorava horas para enfim tomar uma maldita decisão, ela que se lhe fizessem uma pergunta simples como: Qual sua cor preferida?  Não saberia responder e, diria que amava o arco-íris todo, o que sabia ser mentira, e ela só o responderia assim por incerteza de qual era a preferida, ela que não suportava estar errada, errar para ela era um tormento intenso, e uma humilhação gigantesca.
Tantos defeitos... Quais seriam os dele? Alice se recusava a acreditar que fossem maiores que os seus. Naquele momento ela queria mais que tudo conhecê-lo a fundo, compreendê-lo, saber seus sonhos e vontades... Mas isso teria que esperar.
Ela se retirou libertando suas mãos das dele vagarosamente, com os olhos a derramar-se nos dele, até fechar a grande porta de vidro de sua casa, separando-os fisicamente.
Anthony suspirou e dirigiu-se para seu carro que estava estacionado do outro lado da rua, de maneira vagarosa, devaneando, andando pelo rumo enquanto navegava na via láctea de seus pensamentos. Sorrindo ao se lembrar do jantar da noite, o primeiro de muitos, com os pais de Alice, o pai parecia bastante feliz e até mesmo aliviado quando constatou que o futuro noivo de sua filha, aparentemente não era nenhum psicopata maníaco obsessivo. Mas a mãe, sua feição foi a mesma que se ele lhe dissesse que iria levar sua filha para um tipo de culto satânico ou que era um assassino de aluguel, tal era a felicidade contagiante que derramava-se por sua face.

***

São Paulo, Dezembro de 2011.

Anthony suspirava e sorria febrilmente, completamente alheio a realidade, estava perdido novamente, enclausurado em sua própria mente sem qualquer chance de liberdade, se é que era liberdade o que ele queria. Não, essas lembranças e devaneios fora ele mesmo quem causara, ao tentar não esquecer, ao tentar lembra-se de tudo como se fosse ontem, com total nitidez, porque seu maior medo era esquecer-se de tudo...E maior que tudo era seu desespero ao pensar que poderia um dia vir a esquecer o sorriso de Alice, ele preferia morrer. Porque sem o brilho do sorriso dela, tudo seria escuridão e tormento e nada mais poderia liberta-lo.

***

Rio de Janeiro, Março de 2000.

Era um dia brilhante de verão e sol forte e quente típico do Rio de Janeiro ofuscava a vista de Alice assim como a expectativa sobre como seria a noite de hoje, não importava o quanto tentava se concentrar no que tinha que fazer, seus pensamentos teimavam em a cada 5 minutos, no máximo, desviarem-se do foco que lhes era imposto para continuar a devanear sobre como seria a sua primeira noite com Anthony.
 Logo que se conheceram um fogo intenso de desejo tomara conta de ambos, mas eles decidiram esperar um pouco, não por hipocrisia de tempo, porque a noção de tempo é muito relativa e por vezes, conturbada. Não, eles decidiram esperar simplesmente para que, ao deixar o desejo em “banho Maria” impondo-lhe cargas altíssimas de excitação e depois cortando as ondas de excitamento afastando-se  repentina e prematuramente um do outro, deixassem o desejo mais forte, em níveis altíssimos, criando uma tensão e uma aura de expectativa muito excitante e envolvente.
E era por isso que Alice simplesmente não conseguia se concentrar, não ficara claro que seria hoje, eles não haviam determinado uma data, até porque esse tipo de coisa não é feito a base de cálculos matemáticos, é coisa de momento, de sentimento... Mas, ela sabia que seria hoje, e estava disposta a fazer de tudo para que sua vontade fosse feita, e seu desejo satisfeito, pois se não o fossem, ela ficaria louca.
O dia teimava em não passar, suas horas arrastando-se vagarosamente enquanto sua ansiedade chegava a níveis elevadíssimos. Alice tinha tudo preparado, a lingerie, o vestido que usaria no jantar, a maquiagem, o perfume, a forma como prenderia o cabelo, tudo preparado com o maior zelo e cuidado, afinal hoje era um dia especial, portando deveria ser tratado como tal, somente o melhor, para o melhor.
Ela se lembrava com certo pesar de quantas vezes antes se arrumara para encontrar-se com caras que não mereciam nem metade do sofrimento que ela se impunha para ficar bonita, sexy e charmosa para eles, e o pior de tudo era calcular cada peça de roupa que utilizaria com a maquiagem e os acessórios para que tudo fosse perfeitamente elegante e sexy e nunca chegassem ao vulgar, mas a linha era tão tênue... E as vezes era tão cansativo ter que calcular tudo com o máximo de exatidão possível.
E o pior ainda, era depilar-se, era uma tortura gigantesca a qual ela se submetia simplesmente para ficar deslumbrante para os olhos do escolhido, afinal se ela não o fizesse provavelmente levaria um chute na bunda, e qualquer deslize seu seria motivo de risos entre a rodinha de amigos.
Todos seus encontros antes de Anthony foram uma espécie de dança premeditada, com as coreografias todas impostas, ela nunca pudera ser ela mesma, ser espontânea, e totalmente sincera, em todos eles ela fora obrigada a usar mascaras, para que fosse mais interessante, mais bonita, mais educada, mais sensual, e assim fosse notada.
Mas com Anthony tudo fora tão espontâneo, tão diferente, tão...Imprevisível, que nunca houvera tempo para vestir suas máscaras e cercar-se de suas armaduras convencionais e, por isso, apesar de já ter tido vários namorados, mais até do que gostaria, agora tudo era inédito, pois nada pelo que passara antes se comparava aquilo. Com Anthony, ela nunca sabia o que a esperava no próximo passo, o que aconteceria a seguir, era sempre uma surpresa, e cada caricia era um novo pedaço do paraíso oferecido lhe como brinde.
Anthony estava ansioso, passara o dia visitando joalherias em busca no presente perfeito, afinal um mês de namoro, apesar de parecer pouco, merecia comemoração, afinal fora um mês intenso, cheio de novas descobertas e caricias. Se lhe perguntassem qual fora o melhor mês de sua vida, ele provavelmente responderia que havia sido aquele.
A maior preocupação de Anthony naquele momento era saber se daria tempo de organizar tudo, mas agora faltava pouco, ele já havia feito reserva no restaurante e no motel, ambos lindos e deliciosos, segundo suas fontes, e agora só faltava comprar o presente, mas para ele essa era a tarefa mais difícil e que demandava mais tempo, afinal o presente tinha que ser perfeito, e brilhante, assim como os olhos de Alice.
Depois de passar por várias lojas e sair insatisfeito Anthony finalmente viu a joia perfeita, era linda, assim como sua futura dona. O crepúsculo descia singelo pelo horizonte quando ele saiu da loja, tinha que correr se quisesse ser pontual, pois em breve deveria estar com Alice no restaurante em que fizera as reservas.
Alice estava pronta, linda e sensual, perfumada e maquiada da melhor forma que sabia e podia, pois Anthony merecia isso, eles mereciam o melhor que pudessem oferecer um ao outro. Já haviam se passado cinco minutos da hora que Anthony dissera que viria busca-la para jantarem, mas um atraso mínimo era sempre tolerável.
Anthony se encontrava em frente a porta de Alice, mal tocou a campainha a porta já se abria mostrando-lhe uma Alice deslumbrante, seus olhos percorreram vagarosamente cada pedaço daquele ser perfeito, desde os Scarpins vermelhos, até seu cabelo negro solto e esvoaçante, demorando-se mais ainda em seu corpo, coberto por um vestido preto simples e totalmente justo que lhe acentuava as curvas bem delimitadas, e seus olhos pareciam duas chamas azuis vivas que dardejavam em sua direção, magnifica, era a única palavra com a qual ele podia descreve-la.
Alice percebeu o olhar de desejo nada sutil que ele deitava por seu corpo, mas ela estava ocupada demais esbaldando-se com a visão que era ele ali, naquele momento parado na porta de sua casa, incrivelmente lindo e soubera se vestir muito bem, por sinal, sua camisa vermelha lhe caia de forma perfeita e sua elegância era sublimada pela calça social preta e os sapa tênis também pretos, seus cabelos displicentemente arrepiados lhe concediam um ar de rebeldia irresistível.
Era quase impossível controlar a ânsia que lhe corroía desde o amago de seu ser, espalhando-se por toda a sua carne, como um fogo vivo. Mas ela deveria faze-lo, assim como ele,  respirando fundo, ela aproximou-se dele e lhe deu um beijo casto nos lábios, afinal se se demorassem demais ali, provavelmente não sairiam de sua casa tão cedo, apesar da presença de seus pais.
Eles se dirigiram para o carro, e conversaram calmamente durante o percurso, o jantar também foi calmo, e nada além de flertes despreocupados continham teor erótico. Ao final do jantar, Anthony se levantou e parou logo atrás dela colando seus lábios no lóbulo de sua orelha e sussurrando:
_Alice, sei que faz pouco tempo que nos conhecemos e que eu vou parecer um maníaco, mas, você quer se casar comigo?! – a voz dele soava tão quente, tão deliciosa, que mesmo que ele estivesse lhe pedindo algo insano como “Dance pela rua nua comigo” ela provavelmente lhe atenderia prontamente, e nesse caso, não foi diferente. Mas ao ouvir a palavra casamento, seu ser se rejubilou em puro êxtase.
Alice nunca pensara que se sentiria assim ao ser pedida em casamento, sempre se imaginara saindo correndo e gritando sempre que lhe pediam em casamento, em seus devaneios, mas naquele momento, com ele, isso nem lhe passou pela cabeça, e a ideia de casar-se com ele, lhe pareceu um néctar dos deuses, algo incrível e fascinante.
Sem perder tempo, e mal conseguindo conter a felicidade que lhe invadia, ela se levantou, virou-se para ele e disse:
_Aceito.
Para logo em seguida lançar-se em seus braços e beijar-lhe desesperada.
Minutos depois eles estavam dentro do carro dirigindo-se ao Motel que ele reservara para eles, afinal não era qualquer motel, era um motel maravilhoso, cheio de mimos e caprichos.
A entrada do motel era magnifica, a pintura creme com detalhes em vermelho vivo e as paredes eram ornadas com quadros sensuais, dando ao ambiente um aspecto elegante e ao mesmo tempo sensual, sem ser exuberante, era simplesmente charmoso.
Mas Alice, e nem mesmo Anthony, se atentaram muito a esses detalhes, praticamente voaram para o quarto 52, ao qual ele havia pedido que acendessem velas e deixassem um champanhe sobre a banqueta ao pé da cama.
A parede do quarto era branca, os moveis eram tabaco, e tanto as cortinas quanto as colchas e toalhas do banheiro eram vermelho vivo.
Novamente, nem um, nem outro se atentaram a esse fato, mas tão logo cruzaram a porta do quarto, se atiraram desesperados um nos braços do outro, como um faminto sobre um pão que por ventura lhe aparecesse ao alcance das mãos. Acariciando, apalpando, degustando com desespero um ao outro, sentindo a textura, o gosto, o perfume, querendo mais do outro a cada segundo, tentando fundir-se.
Buscando a racionalidade que lhe fugia, e agarrando-a pelo colarinho com as duas mãos, Anthony, que estava determinado a tornar a noite inesquecível, “a primeira de muitas” – pensou ele sorrindo com a boca colada na de Alice.
Com esforço afastou-se dela, e a trouxe pela mão até a cama, onde a sentou, sempre com os olhos a derramarem-se nos dela, e presos um no outro por uma linha invisível.
Vagarosamente despiu-a, até deixa-la somente com a lingerie que era vermelha, com rendas bordadas, e drapeados que lhe davam uma delicadeza incrível... Sua tatuagem na parte inferior da barriga, do lado direito, a borboleta vermelha que ele sabia existir mais que nunca havia visto, era bela e delicada como aquela que a carregava, e por isso ele lhe deu um beijo singelo.
Naquele momento em que a viu pela primeira vez, seminua diante de seus olhos, não pode deixar de se lembrar que ela sempre reclamava de suas celulites, de suas estrias...Mas ele nada via, para ele tudo era lindo, contando que fosse nela.
Seus dedos percorreram-na lentamente, sentindo a textura e as leves vibrações que seu toque causava nela, ela estava deitada ali bem enfrente a ele, o que ele mais desejava era fazê-la sua, e fazer-se dela, mas tinha que se controlar e fazer tudo lentamente.
Ele inclinou-se sobre ela roçando seu nariz do dela, e descendo para retirar o resto de roupa que a envolvia, descobrindo seus segredos mais profundos, e buscando conhecer cada canto do corpo de Alice, e quando enfim não sobrara nem um pedaço de seu corpo que não fora acariciado por ele, ela despiu-o e fez o mesmo, conhecendo cada pinta existente em seu corpo, cada detalhe, cada cicatriz, e ela pode ver a cicatriz que ele tinha no lado direito do peito, onde ele arranhara no arame farpado, da fazendo onde ele vivia quando criança, ao tentar fugir de uma vaca desgovernada.
E o sentimento de conhecer os segredos mais profundos do corpo dele, cada cantinho... Cada detalhe era maravilhoso.
Aquela altura, o desejo que ambos sentiam pela concretização do ato e sublimação de seu amor, chegava a níveis preocupantes, tornando-os mais ávidos que nunca pelo corpo um do outro, até que finalmente seus desejos foram saciados, quando Anthony permitiu-se toma-la como uma parte de si e, naquele momento, mas do que nunca o sentimento de serem apenas um os dominava em cada partícula de seus seres.
Em meio a loucura do prazer eles transbordaram pela borda do mundo, caindo pela via láctea do prazer e navegando pela satisfação atingida, flutuando sobre a felicidade e plenitude do momento.
Alice sentia uma felicidade sublime a invadir, mas, sem saber de onde ou porque uma tristeza profunda a observava, se esgueirando pelas frestas de seus pensamentos, espalhando-se e tomando conta de seu ser, transformando toda a alegria em medo, medo de perdê-lo, pois sabia que não suportaria essa perda.
Ela queria mais que tudo acreditar que nada os separaria e, que existiria um “felizes para sempre” esperando por eles, mas elas sabia que isso não aconteceria e que, seria ilusão e loucura pensar o contrário.
E nunca, nunca antes a realidade esmagadora da inexistência do “Felizes para sempre” lhe pareceu tão triste.


CONTINUA

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Um comentário:

  1. Simplesmente adorei a primeira noite deles, e até que enfim alguém apareceu com uma tatuagem nessa história (apesar de eu ter entendido o titulo, o que nao significava que alguém haveria de ter algum desenho). Muito bom, acho que vc daria uma ótima escritora de chick-lit, mas claro que mais erudita...parabéns.

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