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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Lágrimas de Sangue {Parte Final}


AnastasiaTieflust 

“Não me lembro exatamente como tudo aconteceu e sempre que tento é como se um buraco negro me preenchesse e sugasse minha energia fazendo com que minha cabeça e corpo doam profundamente.
Tudo o que me lembro é que era um sábado normal, como outro qualquer, eu cuidava de minhas flores com o mesmo carinho de sempre, totalmente distraída, quando escutei vozes chegando aos meus ouvidos pela estrada. O crepúsculo envolvia o mundo possessivamente com seus dedos frios e belos. E a lua já começava a ser perceptível no céu. Levantei-me cambaleante e me aproximei da estrada para ver-se eras tu, Ian, quem chegava mais cedo para os meus braços.
Quisera eu que pudesse permanecer onde estava, ou fugir o mais longe possível.
Assim que meus olhos caíram em sua pele fantasmagoricamente pálida, meu coração acelerou-se, eu queria correr, mas minhas pernas não me respondiam. Seus olhos negros e profundos me sugavam, acorrentando-me ao chão. Eu era prisioneira de meu próprio corpo e o sabia, instintivamente, é claro, ele nenhum movimento fizera desde que chegara em seu cavalo negro como a morte.
Ele estava a apenas alguns passos de mim, eu queria com todas as minhas forças correr, mas eu era a caça do dia, por mais que sua expressão fosse gentil.
Ele desceu do cavalo e veio em minha direção saboreando o momento e meu medo, eu sabia o que ele era, essa criatura. Histórias que minha avó me contara quando criança apitavam em minha cabeça, histórias essas que eu lacrara em meu pequeno relicário mental.
Seus cabelos eram escuros como a noite, e a lua cheia brilhava derramando-se sobre ele, transformando-o na coisa mais linda que eu já havia visto. Sua pele era cadavérica como a face da morte, suas mãos de dedos longos continham unhas igualmente compridas, ele era alto e forte, e mesmo que fosse humano, eu não teria a menor chance, nem você, Ian.
E sabendo disso eu rezei com toda a minha alma mudamente para que não viesses para casa naquele momento, e pedi a Deus, e aos deuses nos quais minha família acreditava, para que você ficasse a salvo... Pois eu suportaria tudo e já havia me resignado com o fato de que morreria... Mas eu não podia perdê-lo para a morte, aquela amante ingrata que ceifa vidas como quem colhe flores de um jardim.
De olhos fechados eu sentia aquela respiração pavorosa em meu pescoço, e era fria, fria como a água em degelo, fria como a ponta de uma adaga.
_Eres tão linda, que penso se não seria útil faze-la minha, ando só há muito, muito tempo.
Eu não me mexia, eu mal respirava, e tremia enquanto sentia suas presas afiadas a rasgar-me.
Eu sentia o frio me invadindo, cortando-me, ao mesmo tempo em que meu sangue, minha vida, me abandonava.
Minhas pernas perderam a força, eu já não podia pensar e a única coisa que me segurava ao chão eram seus braços.
Logo senti que a dor, e por Deus, o prazer, já não me afligiam e tentavam penetrar na barreira de meus pensamentos, tudo o que restava era... Nada, um vazio terrível e excruciante, e em seguida, tudo foi escuridão.
Quando acordei, estava no meu próprio túmulo a sete palmos de chão. Eu tentava gritar e batia louca e frenética na madeira que me enclausurava, mas nada acontecia, até que desisti de minhas investidas inúteis e fiquei totalmente quieta pensando, era tudo confuso, mas quando se tem tempo, não é tão difícil organizar os pensamentos, que foi o que fiz.
A primeira coisa de que tive certeza foi que estava morta e aquela era minha genuína mortalha. O resto veio fácil, eu por certo não estava completamente morta, tão pouco viva, já que não asfixiava na ausência de ar de minha cova. Eu era uma morta-viva, uma vampira.
Depois de um tempo que não é possível contabilizar, ouvi o barulho de terra sendo movida, em seguida, senti a tampa sendo retirada e lá estava meu mestre, meu criador, lindo em sua glória fria. Era tudo tão intenso, os detalhes, as sensações, era tudo muito único e... Confuso.
A lua brilhava enquanto ele me ensinava tudo que eu necessitava saber, mas foi preciso menos que uma noite para que eu me lembrasse de ti, meu amor.
E foi por isso que voltei, todas as noites, após separar-me de meu mestre e um pouco antes de retirar-me para nossa cripta, eu o visitava, Ian, porque meu amor era maior do que minha fome e meu desejo doloroso por seu sangue. Como deves imaginar, não foi difícil convencê-lo a me convidar para nossa... Sua casa.
Todas as noites eu o via dormindo e chorar chamando meu nome, além de ler suas anotações, e, foi por isso que apareci, porque eu não suportava mais vê-lo sofrer. Doía em minha carne, eu sentia como se fosse rasgada por dentro, como se estivesse morrendo novamente, mas pior.
E... Eu decidi vir despedir-me, pois devo partir com meu mestre, mesmo que eu não o quisesse, eu iria, pois não posso recusar-me a atender um chamado de meu criador. E agora, Ian, eu o amo, assim como lhe amo, de uma forma diferente, pois sem ele eu morreria, por motivos mais do que óbvios.
E é por isso meu amor, que devo partir, e, dessa vez, é realmente para sempre.
E agora, eu lhe pergunto:
_Ian, me perdoas? Por tudo?
_Sim. Sempre, não vá!
_Eu preciso... Adeus, Ian...”
***

Ian Einsamhertz



E dizendo isso, ela se foi, como uma brisa fria e leve como uma pluma, deixando-me com as respostas que tanto desejei, mas que hoje desejaria não ter. E o vazio em meu peito, era como um buraco negro que ameaçava sugar-me para o meu interior sangrento, pois em mim agora, tudo era dor e ausência. O fato de saber que ela não se fora era ainda pior, pois a cada crepúsculo, eu inutilmente esperava por ela, mas ela jamais apareceu, ao menos eu não a vi mais. Talvez ela tenha conseguido me esquecer, mesmo que eu nunca seja capaz de fazer o mesmo.
Anos depois eu me casei com uma moça que conheci em uma de minhas andanças em busca de informações sobre vampirismo, temos dois lindos filhos, uma menina e um menino, chamados Erika e Alfred, eles são agora a razão de minha vida e a esperança que pensava nunca voltar a ter.
Amália, minha esposa, não sabe de tudo que aconteceu com vós, somente que morrestes, ela não precisa carregar o fardo que carrego em minha alma desde aquele dia, sete dias após vossa morte.
Sei que em breve partirei para os véus desconhecidos pelos quais todos os Homens inevitavelmente passam um dia, sinto isso, meu corpo já não é o mesmo e minha saúde definha a cada dia que passa, mas eu não me importo, eu fui mais feliz do que pensei que seria, porque depois que partistes eu me sentia morto por dentro.
Os dias agora são longos e as noites curtas, imagino que não deves gostar disso, mas as crianças adoram, elas passam o dia todo brincando com os animais, adorarias ver isso, a alegria e inocência deles é contagiante, é como um gole de água fresca após horas no sol quente, refrescante.
Deves de estar perguntando-se por que escrevo isso, ao pé das cartas alucinadas que escrevi naqueles sete malditos dias, pois bem, é porque sei que quando meu corpo estiver aprisionado a mortalha que encerará minha carne para sempre, irás visitar nossa antiga casa. Lá, haverá para vós, esse pequeno diário em que decidi contar-te o fato, de que apesar de tudo, eu encontrei a felicidade, e caso ainda se sinta culpada por abandonar-me, isso sirva de refrigério para vosso cansado coração.
Desejo sinceramente que sejas feliz da melhor forma possível;


 Ian





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Um comentário:

  1. Allan Poe deve eswtar se revirando de inveja no tumulo, por sua Anastacia ser muito melhor do que a Ligéia dele. rsrs
    Eu simplesmente acho que esse conto, foi um dos melhores textos que a senhorita já escreveu até hoje. Espero encontrar esses personagens mais vezes rondando aqui pelo blog. Quem sabe sua vampira não faz uma visitinha para os meus heim? hehehe
    Parábens.

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