Enquanto você pensa que entende
algo na eterna busca de si mesmo, eles te confundem e guiam por caminhos
diferentes dos que você queria, não tão seguros mas com certeza, mais doces...
Mas quando eles já não existem para
serem culpados por suas falhas, a quem você culpa?
***
Inveja
Na mansão dos 7 o clima era tenso, todos estavam apreensivos.
A Gula sentara-se em uma mesa e cercara-se de suas guloseimas
devorando o máximo delas que conseguia, por minuto. A Avareza estava trancada
em seu quarto sentada sob seu cofre de diamantes de olhos fixos na porta e
murmurando incoerente e periodicamente que: “ninguém levará meus preciosos”.
A
Ira, que na verdade era ele, quebrava tudo aquilo em que colocasse as mãos,
gritando que “a Luxuria é uma odiosa que fez por merecer e nele, ninguém
encostava”. O Orgulho sentava-se calmamente em seu divã preto, enquanto
observava com desdém o desespero de seus companheiros, afinal, em seu orgulho,
ele não admitia que algo, ou alguém, pudesse algum dia vir a molestá-lo, seria
muita ousadia, claro.
A Luxuria deitara-se em seu leito e adormecera após tomar várias doses
de calmante, já que ela esta inconsolável. E a preguiça dormia tranqüila sob
seu travesseiro de penas de ganso, murmurando que “ já não se pode dormir em
paz nem mesmo em um universo paralelo, onde esse mundo vai parar”.
E a Inveja, bem, a Inveja que havia passado a noite jogando cartas com
o mais próximo de uma amiga que um dia teria - a Morte - agora dirigia-se para
seu delicioso dossel, onde um sono e confortos merecidos a aguardavam.
Mas, ao passar por um espelho no corredor dourado da mansão ela se
deparou com uma visão traumática e perturbadora...
Sua linda pele de anjo estava cheia de furúnculos, seus olhos estavam brancos e vítreos, seus cabelos eram um chumaço no topo de sua cabeça, onde antes encontrava-se um coque exuberante, e seu corpo tinha o aspecto de uma caveira de tão magra.
Sua linda pele de anjo estava cheia de furúnculos, seus olhos estavam brancos e vítreos, seus cabelos eram um chumaço no topo de sua cabeça, onde antes encontrava-se um coque exuberante, e seu corpo tinha o aspecto de uma caveira de tão magra.
Ela gritou e correu pela mansão brilhante e suas paredes de espelho
que a torturavam, até a casa da morte para tirar-lhe satisfações do que “diabos
acontecera” com seu “lindo e perfeito corpo”.
_Mas sobre que diabos é todo esse escândalo – perguntou a Morte por
trás da porta fechada de sua mansão – clichê – gótica.
A Inveja quase riu, quase,
quando viu o estado da ardilosa, afinal não é todo dia que se tem o privilégio
de ver a morte em sua roupa de dormir calçando nada mais que pantufas de
porquinhos cor-de-rosa.
_E então? – perguntou a Morte calmamente.
_Você não vê? – perguntou a Inveja aos soluços.
_O que deveria estar, supostamente, vendo? – prosseguiu a Infalível em
sua típica voz fria e baixa, de braços cruzados e sobrancelhas arqueadas.
_Meu corpo! Meu rosto! Deformados! Destruídos! – gritou a Invejosa
gesticulando freneticamente.
_Mas não há nada de errado com eles, parecem exatamente os mesmos para
mim – retorquiu a outra
dando de ombros.
_Como é que é? – perguntou a Inveja histérica.
_Você parece a mesma de sempre para mim.
_Não é possível...Só um minuto.
A Maldosa então sacou de seu bolso seu celular roxo cromado de ultima
geração e discou.
_Orgulho querido, você pode vir aqui na Morte por um instante? –
começou ela controlando-se para manter-se sob controle e não começar a gritar
como uma chita maluca – Sim – respondeu ela desligando em seguida.
Em poucos minutos –que foram preenchidos por muito silencio por parte
da Venenosa e da Sempre-esperada – o Orgulho encaminhava-se para a “Obscura e
apavorante assassina da moda que faria os designers atuais do mundo todo
remexer-se em suas covas” que era como ele sempre se referia a casa da Morte.
Impaciente ele bateu na porta e iniciou sua batucada impaciente com o pé
direito. Não demorou muito para que a morte aparecesse em seu vestido preto - estilo
Morticia Adams – típico e sua cara de tédio e malicia costumeiras.
_Entre. – disse ela fazendo um amplo gesto, indicando o quanto achava
aquilo ridículo.
Ele passou por ela dirigindo-se ao sofá onde se encontrava a Inveja.
_Jesus cristo, Maria e José! Você consegue estar pior que a Lux! Vou é
manter distancia – dizendo isso ele se encaminhou a passos largos e rápidos em
direção a mansão.
_Vê? – indagou a Venenosa através do choro.
_Sim. Acho que não vi a mudança porque sempre a vi como você realmente
era, essencialmente falando, é claro – respondeu a Terrível sorrindo em sua
maior demonstração de humor afro-descendente.
_ EU NÃO SOU FEIA! Sua mocréia! – gritou a inveja indignada.
E dizendo isso ela partiu correndo o mais rápido que podia para seu
próprio quarto onde se trancou o resto do dia por vergonha, e adormeceu após
horas derramando lágrimas que poderiam ser o suficiente para irrigar o
Nordeste. Pois para ela, ficar feia era inconcebível e atualmente nem botox
resolveria seu problema.
Na Terra naquele dia não houve cobiça, as pessoas viviam normalmente,
mas já não havia o brilho da inveja em seus olhos e elas já não desejavam subir
no emprego só para serem melhores que seus vizinhos, mas a mudança mais notável
era, naturalmente, nas mulheres, pois elas não assistiam mais novelas invejando
o corpo das atrizes e coisas do tipo.
E naquela noite, ninguém fez fofoca na Terra.
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