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sexta-feira, 7 de junho de 2013

Euevocê.com (Quarta Parte)

        


             De certa forma eu estava certa, sobre a importância que aquele reencontro teria sobre minha vida, mas acho que nem em meus sonhos mais bizarros - em que unicórnios de crinas coloridas e fosforescentes atravessam o ar como grandes Pégasos de asas alvas... – eu poderia ter imaginado como esse conto se desenrolaria.
         Naquele tempo eu contava com meus 20 e tantos anos e cursava a faculdade, o mundo abria-se diante de mim, alargando meus horizontes e concedendo-me novas perspectivas. Obviamente isso também influenciava em minha personalidade, ao mesmo tempo em que a enxurrada de conhecimento que se derramava sobre minha consciência era boa, era também desnorteante.



Havia momentos em que eu não sabia mais dizer quem eu realmente era, algumas vezes, ao cometer erros - coisas que eu julgara nunca ser capaz de fazer – postava-me em frente ao grande espelho que havia em meu quarto, nua e despida de todas as máscaras sociais e camadas de tecidos que me obscureciam de meus próprios olho. Fitando aquele ser, aquela jovem mulher, que mirava de volta eu não me  reconhecia, não conseguia entender para onde haviam ido os meus princípios, fortemente lapidados na infância. Assim como também não podia encontrar a determinação daqueles que seguem os sonhos até as ultimas consequências naqueles olhos verdes que pareciam tão brilhantes, e ao mesmo tempo tão vazios.
Nesses momentos eu me sentia um lixo humano, um ser sem vontades, como uma pequena árvore, de tronco tão fino e singelo, que qualquer brisa poderia submetê-la sob sua vontade.
Não me leve a mal quando digo isso e não pense nem por um segundo que considero o conhecimento algo ruim. Acredito piamente que o conhecimento que adquirimos em nossa fugaz existente, seja, de fato, uma das únicas coisas que realmente nos pertencem e que ninguém pode nos tirar, permanecem conosco até a hora de nossa morte, talvez até além dela, quem sabe...
Mas de qualquer forma, como ia dizendo, o conhecimento é uma dádiva, mas ele também nos leva a refletir, o que causa desconforto, porque raramente gostamos de descobrir que estávamos errados, ou que tudo o que conhecemos é pautado em mentiras... Coisas desse tipo nos deixam confusos, e quando isso acontece em momentos que não nos sentimos bem com as nossas crenças... Bom, pode ser complicado. No meu caso foi exatamente isso que aconteceu.
 Olhando para aquele tempo, da perspectiva que tenho hoje, não me julgo uma pessoa menos inteligente ou capaz pelo que aconteceu, sei, que foi simplesmente natural que eu me perdesse em meio aos diversos caminhos e escolhas que se estendiam diante de mim. Pois aos 21 anos eu tinha plena convicção de minhas habilidades e acreditava que poderia ser o que eu quisesse, se realmente tentasse com afinco... O problema é que o “ser o quiser” é ilimitado demais e quando não se tem limites, ou um ponto fixo em que se basear isso pode ser desnorteante.
Imagine que você está em uma sorveteria que possui diversos sabores de sorvete a venda, como saber qual o seu preferido sem ter provado todos? Algumas vezes, por sabermos de nossas preferências, por chocolate, por exemplo, escolhemos sabores que são variações do típico chocolate, mas em muitas outras ocasiões permanecemos parados em frente ao freezer (sei lá se é freezer aquilo), e a dúvida nos assoma, não conseguimos decidir qual sabor de sorvete levar em meio a tantas opções. Agora, se fazer essa escolha com o sorvete já é difícil, imagina ter que escolher, entre tantas opções disponíveis, qual faculdade fazer, quem namorar... E etc. São escolhas que definem nosso futuro.
Quando escolhi o curso que faria, não tive muitas dificuldades e nem problematizei muito a questão. Simplesmente optei por um que tinha algo que sempre gostei. Esse é o tipo de pessoa que sou; um peixe que nada de acordo com a corrente. Mas não no sentido de seguir o fluxo e sim de ir aproveitando as oportunidades que a vida me dava sem problematizar muito a questão, porque acabei percebendo, que sempre que ficava pensando e repensando minhas ações, a coisa toda ficava por isso mesmo.
Não que eu fosse o tipo de garota “porra louca” que saia fazendo merda pelo caminho sem pensar nas consequências, completamente o contrário; sempre fui muito responsável, acredito que até demais. No âmbito pessoal eu sempre pensei muito. O problema era no aspecto profissional, no qual eu não sabia direito o que queria, a única certeza que tinha nesse aspecto era que queria publicar um livro, mas eu também não sabia se um dia conseguiria e nem como faria isso acontecer, era um sonho distante, não um objetivo.
Quando reencontrei Vinicius, senti como se tivesse a chance de mudar o passado. Como se a coisa mais errada que eu havia feito até aquele momento fosse ter terminado com ele - o que não é verdade –  e estar com ele de novo de alguma forma pudesse trazer de volta aquela inocência doce e prazerosa que eu sentia naquela época. Na verdade, acho que eu queria me sentir livre e pura novamente, sem responsabilidades, sem medos e aflições e uma dúzia de fracassos na estante onde deveriam estar os troféus, que era como eu me sentia na época em que eu o havia conhecido.
Obviamente isso não tinha chance alguma de dar certo, ao menos não comigo com a cabeça completamente voltada para o passado quando deveria focar totalmente no presente.
Minha vida estava uma bagunça, como sempre, e deixar Vinicius voltar para ela sem antes tirar o pó dos móveis e de mim, foi errado de minha parte, mas em minha defesa, não foi premeditado, simplesmente aconteceu, quando percebi havíamos jantado várias vezes e a química que só crescia a cada encontro transformou-se em um material inflamável e acabou por entrar em ebulição em meu quarto, com direito a roupas lançadas para todo lado e meu cachorro  latindo do lado de fora da porta.
Depois disso as coisas simplesmente continuaram a fluir, até porque nos dávamos muito bem, quase não discutíamos e adorávamos ir ao cinema ou ao paintball nos finais de semana. Só havia um problema, ambos tínhamos medo de aprofundar a relação. Tudo ia rápido demais e nós só desejávamos que as coisas continuassem como estavam, sem preocupações com: apresentar para as famílias, mudar os status do Facebook de solteiro para em um relacionamento sério, traições, compromissos e etc. Só queríamos aproveitar o prazer da companhia um do outro.
Mas obviamente chegou um momento em que isso não deu mais certo e o ciúmes e a insegurança começaram a surgir. Admito que grande parte das brigas que começaram a surgir foram minha culpa, já que, como disse antes, minha vida estava uma bagunça.
Sabe como todas as frases se organizam? Com vírgulas, ponto e vírgulas e pontos finais? Pois bem, a minha vida era repleta de vírgulas, frases que eu já deveria ter concluído, capítulos que eu já deveria ter encerrado, mas que sempre acabavam voltando pra me assombrar. E foi exatamente o que aconteceu.
Apesar de me considerar uma pessoa razoavelmente positiva, em alguns momentos eu tendo a me lembrar das coisas ruins que já me aconteceram e me sinto péssima, quando isso acontece eu fico com raiva e magoada, e me lembro de quão amargo é o sabor da decepção, quando isso acontece eu acabo querendo me trancar em um casco de tartaruga sentimental e ficar lá dentro, observando a tudo de forma indiferente, para que ninguém mais possa me atingir.
Eu claramente tenho consciência de que isso é patético, mas, cada um com seus problemas, esse era um dos jeitos que eu encontrava para seguir minha vida, que é o que todos fazemos ao final: seguimos em frente, independente do que aconteça.
Em dado momento eu passei a ter tanto medo de perdê-lo que me transformei em uma megera ciumenta e má que tratava ele de forma cruel, além de persegui-lo com mensagens o tempo todo querendo saber cada passo dele. Quem aguentaria algo assim? Ninguém.
O problema é que em minha vida de fracassos sentimentais eu adquiri um senso de "ninguém é confiável   muito forte o que uso como justificativa (pobre), para minhas reações patéticas em meus relacionamentos, pois apesar de filosoficamente falando entender várias teorias, conhecer o enredo de diversos livros inteiros e etc. emocionalmente eu era uma espécie de criança. Claro que a culpa do relacionamento não ter dado certo não é completamente minha, Vinicius também tinha a sua parcela de culpa. 
Porém, esse meu desespero injustificado desencadeou uma reação em cadeia: eu cada vez mais insegura (o que me deixa meio pirada) e ele cada vez mais disperso e distante. O que gerou o que podemos chamar de: "começo do fim". O fato que mais me magoa é que  estraguei tudo simplesmente por não ter a paciência necessária para deixar as coisas acertarem-se, e acabei estragando algo que, no tempo certo, provavelmente seria meu. E mesmo que não fosse, teria sido divertido enquanto durasse.
Logo, a situação ficou inviável, aquele desespero todo estava me matando aos poucos, eu não conseguia mais dormir direito, passava noites acordada com as minhas neuroses infindáveis – que reconheço ser um dos meus grandes defeitos, mas não consigo livrar-me delas – então, fiz o que sempre faço: saltei daquele barco chamado relacionamento em busca de novas aventuras, como um capitão abandonando o navio diante do possível naufrágio – Capitão Jack Sparrow se envergonharia de mim. Com isso consegui inserir mais uma vírgula nesse romance sem rascunhos que chamamos de vida.
De certa forma os relacionamentos amorosos podem ser comparados com um grande jogo de xadrez, jogo esse que naquele momento eu não dominava. Talvez o meu excesso de sinceridade fosse um dos motivos para isso.
A pior parte era que eu transformara um assunto que antes estava encerrado, em uma vírgula que provavelmente me traria problemas no futuro. E apesar de a essa altura do campeonato ter plena convicção que deveria organizar as coisas na minha vida antes de permitir que qualquer outra pessoa entrasse nela, saber e fazer são duas coisas diferentes e, por isso, as merdas não pararam por ai, e meu casco de tartaruga sentimental, ficou ainda mais pesado.

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