São Paulo,
Dezembro de 2011
Ele sorria candidamente
em meio aos espasmos que dominavam seu corpo, aparentemente feliz, mas a boca
de Anthony abria-se em pequenos sussurros que vazavam de sua alma, a lembrança
de um passado que nunca pode aceitar e esquecer, porque foi algo que ele não pode
impedir e nem prever. Ele não pôde fazer nada para corrigir...
Rio de
Janeiro, Dezembro de 2000.
A cama ainda estava
desarrumada, os travesseiros amassados e o chuveiro ligado quando Alice voltou
com o café da manhã, era costume dos dois revezarem a cada dia, quem traria o
café da manhã, assim adiantavam o banho e podiam tomar café juntos. Desde que
eles se casaram estabeleceram uma rotina simples e satisfatória.
_Anthony, café tá
pronto – disse ela sentando-se na cama dossel do casal, cruzando as pernas e
deixando suas formas bem definidas a mostra pela abertura do roupão enquanto
esperava por ele.
Poucos segundos Anthony
sai do chuveiro e se depara com ela com um olhar perdido, ele se aproxima
enxugando os cabelos e a beija delicadamente.
_Bom dia!
_Oi – responde ela
puxando-o para um abraço apertado e beijando-o.
_Não faça isso, é
tortura, temos que trabalhar, você sabe.
_Porque não faltamos
hoje? – pergunta ela insinuante.
_Porque não podemos, eu
tenho reunião hoje a tarde.
_Droga – disse ela
fazendo beicinho – se é assim, vamos tomar nosso café antes que esfrie, depois
você se veste, coloque o roupão vermelho.
_Onde está?
_Atrás da porta –
respondeu ela rindo de sua grande cabeça oca.
Anthony vestiu o roupão
e eles desceram lado a lado pra cozinha e tomaram um café da manhã tranquilo e
feliz, como sempre. Algo parecia incomodar Alice, ele podia ver em seus olhos o
lampejo de algo, mas ele não sabia o que, e quando ele perguntou ela disse que
não era nada.
_Até mais tarde amor,
amo você – disse ele segurando-a pela cintura para beija-la.
O beijo foi doce e com
um gosto estranho de despedida que o deixou novamente preocupado, mas ele
resolveu deixar de lado, deveria ser coisa de sua cabeça.
_Eu também, e não se
esqueça, estarei sempre com você, não importa como, nunca duvide.
E assim cada um seguiu
para seu próprio trabalho. O dia seguiu tranquilo e sem nada de diferente, e no
fim da tarde Anthony, que fora dispensado mais cedo do serviço naquele dia,
decidiu ir buscar Alice no trabalho para comerem algo, decidiu não ligar,
queria fazer surpresa, ele adorava surpreende-la.
Chegando ao serviço de
Alice, perguntou sobre ela e soube que ela ainda estava em sua sala, mas que
ele podia entrar, sendo assim ele se encaminhou para a sala que conhecia tão
bem, onde já havia passado momento maravilhosos e deliciosos com Alice,
chegando lá, ele deu uma suave batida na porta e ouviu o costumeiro “entre’.
Ele entrou e se deparou
com ela sentada atrás de sua mesa, olhando sob o computador, ao vê-lo, ela
praticamente saltou do lugar, radiante e cheia de vida com a presença dele.
_Anthony! Amor, que
surpresa boa! – disse ela enlaçando-o pelo pescoço e trazendo-o mais para
perto.
_Pois é, sai mais cedo
do trabalho e decidi fazer uma surpresa – disse ele afagando a bochecha dela
calmamente enquanto a olhava nos olhos.
Ela o puxou pela
gravata e o beijou, o beijo era desesperado, sôfrego, possessivo. Alice queria
se afundar nele, se inundar dele, queria cada centímetro dele, nela, sendo
dela. Ela esticou o braço para trancar a porta e em seguida o arrastou para a
mesa em que tinha estado sentada trabalhando desanimada minutos antes. Anthony
tinha esse efeito nela, ele transformava o pior dia no melhor, só com a sua
presença, fora assim sempre, desde o momento em que entrou na vida dela naquela
manha quente de fevereiro quase 1 ano atrás. Ela abençoava aquele dia e momento
com todas as suas forças.
Anthony aproximava-se
dela, já não era possível dizer qual corpo era de quem, ele adorava aquelas
saias executivas que ela geralmente usava para trabalhar, eram tão
praticas...Ele descia com os lábios por seu pescoço, abrindo rapidamente cada
botão de sua camisa branca, beijando toda a pele descoberta de sua amada, como
uma reverencia ao ser amado.
Ela desabotoou a calça
dele baixando-a, e ele a penetrou, galgaram juntos para as bordas do mundo
mergulhando nos véus que permeiam o prazer e flutuaram.
_Querida, acho melhor
irmos – disse ele que estava sentado com ela sob a mesa, ainda nus e de dedos
entrelaçados.
_É, vamos – disse ela
vestindo-se e juntando suas coisas.
Minutos depois eles
estavam saindo da empresa do pai de Alice e atravessavam a rua conversando
animados, quando uma moto parou ao lado deles, e os rendeu. Eles estacaram na
hora e fizeram exatamente o que os homens encapuzados mandaram.
Alice tremia da cabeça
aos pé, o suor vazava em cachoeiras de seus poros, e sua respiração era de quem
correra uma maratona.
Anthony estava tão
nervoso quanto Alice, a diferença é que ele tentava encontrar uma saída, um
meio de se safarem dessa emboscada, mas os bandidos eram três, e mesmo que
fosse um, ele estaria armado, Anthony não, e a arma do cara estava apontada
justamente para Alice, se fosse para ele seria mais fácil, ele não se
importaria de morrer, contando que ela ficasse bem e a salvo.
Enquanto ele pensava em
alguma saída, em algum momento, sem que eles notassem, um dos seguranças da
firma aproximou-se sorrateiramente e lançou-se sobre o bandido armado que,
instintivamente atirou, na hora Anthony não viu, ele nem mesmo pode notar o pavor
tingindo a face de Alice, e o sangue saindo pela ferida recém aberta, ele só
queria render o meliante, já que os outros haviam fugido, com medo de serem
capturados.
Eles imobilizaram o
homem, mas quando Anthony virou-se para Alice que até aquele momento
mantivera-se em silencio, em choque,
pensou ele, seu chão sumiu, o mundo pareceu esmaga-lo, sua camisa branca estava
colada a pele tingida de vermelho e Alice comprimia-se sob o próprio abdômen,
sua face era cadavérica, não existia cor alguma nela, somente seus olhos
brilhavam vidrados no sangue que manchava suas mãos.
O mundo parou para
Anthony, nada mais existia, só o sangue, de Alice que saia em correntes de seu
belo e adorado corpo, o choque era tão grande que ele mal podia aguentar-se em
suas pernas, ele estava entorpecido, bêbado em sua dor.
_Chame a ambulância! –
gritou o guarda desesperado, tirando Anthony de seu estado catatônico.
Anthony abraçou Alice e
a deitou em seus braços, largando-se no chão com tudo aquilo com que se
importava esvaindo bem diante de seus olhos, e discou o número da ambulância.
Foi questão de minutos,
mas para ele não fazia diferença, o tempo havia parado enquanto ele via os
lindos olhos dela ficando sem brilho e desfocados, a vida vazava por entre seus
dedos e ele nada podia fazer, a sensação de impotência era esmagadora,
desesperadora e cruel, pois não há dor maior que ver aquilo que você mais ama
ser tirado de você, sem que você nem ao menos possa se defender.
O mundo poderia ter
acabado naquele instante que ele não saberia e nem se importaria, contando que
não tivesse que se separar dela.
Os paramédicos a
pegaram e colocaram em uma maca levando-a para a ambulância, Anthony acompanhou
cada movimento com olhos que nada viam, tudo o que ele via, era a cena repetida
do momento em que ele havia visto que ela fora baleada, era um pesadelo que
parecia não acabar, ele queria beliscar-se para acordar, mas ele sabia que nada
o resgataria desse pesadelo, pois ele era real.
Dentro da ambulância ele
ficava murmurando palavras de incentivo no ouvido de Alice, que estava
desmaiada, o suor escorria pelo rosto de Anthony como as lágrimas que seu
coração derramava.
Chegando ao hospital
levaram-na pra sala de cirurgia, e durante horas ele esperou, com uma esperança
cega, uma esperança que se recusava a deixar partir, ele se agarrava nela com
todas as suas forças, como se ela fosse uma corda e abaixo dele houvesse
somente um abismo que o sugaria caso ele a soltasse.
Foi quando ele viu o
médico chegando com cara de enterro que ele caiu, naufragou em sua dor
deixando-se levar para o vazio, e ele caiu, caiu na inconsciência, perdeu-se na
tristeza, na derrota em uma batalha que ele nunca poderia ter ganho, mas que
ele rezara para vencer, mesmo que não soubesse para quem.
Ele acordou horas
depois, meio zonzo, dopado com calmantes,
constatou ele. Anthony estava tão confuso que mal lembrava seu nome, tudo o
que ele queria era Alice, ele gritava e chamava por ela em meio aos soluços,
mas ela jamais voltaria, ele nunca mais a veria, nem ouviria sua voz, seu
riso...Nada, nada restara, ele perdera tudo, ele já não era nada, nunca fora, não sem ela.
Continua...
Ps: Penúltimo capitulo/parte galera.
Nem dá pra dizer os sentimentos que essa ultima parte do conto me passou, mesmo sabendo antes o que ia acontecer eu nao esperava a maneira que aconteceria. Porque vc conseguiu expressar o medo de todos os amantes...viver num mundo onde a criatura amada não existe mais...
ResponderExcluirMuito lindo...Parabens