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domingo, 18 de setembro de 2011

Tatuagens do Amor (Parte IV)


São Paulo, Dezembro de 2011

Ele sorria candidamente em meio aos espasmos que dominavam seu corpo, aparentemente feliz, mas a boca de Anthony abria-se em pequenos sussurros que vazavam de sua alma, a lembrança de um passado que nunca pode aceitar e esquecer, porque foi algo que ele não pode impedir e nem prever. Ele não pôde fazer nada para corrigir...
Rio de Janeiro, Dezembro de 2000.

A cama ainda estava desarrumada, os travesseiros amassados e o chuveiro ligado quando Alice voltou com o café da manhã, era costume dos dois revezarem a cada dia, quem traria o café da manhã, assim adiantavam o banho e podiam tomar café juntos. Desde que eles se casaram estabeleceram uma rotina simples e satisfatória.
_Anthony, café tá pronto – disse ela sentando-se na cama dossel do casal, cruzando as pernas e deixando suas formas bem definidas a mostra pela abertura do roupão enquanto esperava por ele.
Poucos segundos Anthony sai do chuveiro e se depara com ela com um olhar perdido, ele se aproxima enxugando os cabelos e a beija delicadamente.
_Bom dia!
_Oi – responde ela puxando-o para um abraço apertado e beijando-o.
_Não faça isso, é tortura, temos que trabalhar, você sabe.
_Porque não faltamos hoje? – pergunta ela insinuante.
_Porque não podemos, eu tenho reunião hoje a tarde.
_Droga – disse ela fazendo beicinho – se é assim, vamos tomar nosso café antes que esfrie, depois você se veste, coloque o roupão vermelho.
_Onde está?
_Atrás da porta – respondeu ela rindo de sua grande cabeça oca.
Anthony vestiu o roupão e eles desceram lado a lado pra cozinha e tomaram um café da manhã tranquilo e feliz, como sempre. Algo parecia incomodar Alice, ele podia ver em seus olhos o lampejo de algo, mas ele não sabia o que, e quando ele perguntou ela disse que não era nada.
_Até mais tarde amor, amo você – disse ele segurando-a pela cintura para beija-la.
O beijo foi doce e com um gosto estranho de despedida que o deixou novamente preocupado, mas ele resolveu deixar de lado, deveria ser coisa de sua cabeça.


 

_Eu também, e não se esqueça, estarei sempre com você, não importa como, nunca duvide.
E assim cada um seguiu para seu próprio trabalho. O dia seguiu tranquilo e sem nada de diferente, e no fim da tarde Anthony, que fora dispensado mais cedo do serviço naquele dia, decidiu ir buscar Alice no trabalho para comerem algo, decidiu não ligar, queria fazer surpresa, ele adorava surpreende-la.
Chegando ao serviço de Alice, perguntou sobre ela e soube que ela ainda estava em sua sala, mas que ele podia entrar, sendo assim ele se encaminhou para a sala que conhecia tão bem, onde já havia passado momento maravilhosos e deliciosos com Alice, chegando lá, ele deu uma suave batida na porta e ouviu o costumeiro “entre’.
Ele entrou e se deparou com ela sentada atrás de sua mesa, olhando sob o computador, ao vê-lo, ela praticamente saltou do lugar, radiante e cheia de vida com a presença dele.
_Anthony! Amor, que surpresa boa! – disse ela enlaçando-o pelo pescoço e trazendo-o mais para perto.
_Pois é, sai mais cedo do trabalho e decidi fazer uma surpresa – disse ele afagando a bochecha dela calmamente enquanto a olhava nos olhos.
Ela o puxou pela gravata e o beijou, o beijo era desesperado, sôfrego, possessivo. Alice queria se afundar nele, se inundar dele, queria cada centímetro dele, nela, sendo dela. Ela esticou o braço para trancar a porta e em seguida o arrastou para a mesa em que tinha estado sentada trabalhando desanimada minutos antes. Anthony tinha esse efeito nela, ele transformava o pior dia no melhor, só com a sua presença, fora assim sempre, desde o momento em que entrou na vida dela naquela manha quente de fevereiro quase 1 ano atrás. Ela abençoava aquele dia e momento com todas as suas forças.
Anthony aproximava-se dela, já não era possível dizer qual corpo era de quem, ele adorava aquelas saias executivas que ela geralmente usava para trabalhar, eram tão praticas...Ele descia com os lábios por seu pescoço, abrindo rapidamente cada botão de sua camisa branca, beijando toda a pele descoberta de sua amada, como uma reverencia ao ser amado.
Ela desabotoou a calça dele baixando-a, e ele a penetrou, galgaram juntos para as bordas do mundo mergulhando nos véus que permeiam o prazer e flutuaram.
_Querida, acho melhor irmos – disse ele que estava sentado com ela sob a mesa, ainda nus e de dedos entrelaçados.
_É, vamos – disse ela vestindo-se e juntando suas coisas.
Minutos depois eles estavam saindo da empresa do pai de Alice e atravessavam a rua conversando animados, quando uma moto parou ao lado deles, e os rendeu. Eles estacaram na hora e fizeram exatamente o que os homens encapuzados mandaram.
Alice tremia da cabeça aos pé, o suor vazava em cachoeiras de seus poros, e sua respiração era de quem correra uma maratona.
Anthony estava tão nervoso quanto Alice, a diferença é que ele tentava encontrar uma saída, um meio de se safarem dessa emboscada, mas os bandidos eram três, e mesmo que fosse um, ele estaria armado, Anthony não, e a arma do cara estava apontada justamente para Alice, se fosse para ele seria mais fácil, ele não se importaria de morrer, contando que ela ficasse bem e a salvo.
Enquanto ele pensava em alguma saída, em algum momento, sem que eles notassem, um dos seguranças da firma aproximou-se sorrateiramente e lançou-se sobre o bandido armado que, instintivamente atirou, na hora Anthony não viu, ele nem mesmo pode notar o pavor tingindo a face de Alice, e o sangue saindo pela ferida recém aberta, ele só queria render o meliante, já que os outros haviam fugido, com medo de serem capturados.
Eles imobilizaram o homem, mas quando Anthony virou-se para Alice que até aquele momento mantivera-se em silencio, em choque, pensou ele, seu chão sumiu, o mundo pareceu esmaga-lo, sua camisa branca estava colada a pele tingida de vermelho e Alice comprimia-se sob o próprio abdômen, sua face era cadavérica, não existia cor alguma nela, somente seus olhos brilhavam vidrados no sangue que manchava suas mãos.
O mundo parou para Anthony, nada mais existia, só o sangue, de Alice que saia em correntes de seu belo e adorado corpo, o choque era tão grande que ele mal podia aguentar-se em suas pernas, ele estava entorpecido, bêbado em sua dor.
_Chame a ambulância! – gritou o guarda desesperado, tirando Anthony de seu estado catatônico.
Anthony abraçou Alice e a deitou em seus braços, largando-se no chão com tudo aquilo com que se importava esvaindo bem diante de seus olhos, e discou o número da ambulância.
Foi questão de minutos, mas para ele não fazia diferença, o tempo havia parado enquanto ele via os lindos olhos dela ficando sem brilho e desfocados, a vida vazava por entre seus dedos e ele nada podia fazer, a sensação de impotência era esmagadora, desesperadora e cruel, pois não há dor maior que ver aquilo que você mais ama ser tirado de você, sem que você nem ao menos possa se defender.
O mundo poderia ter acabado naquele instante que ele não saberia e nem se importaria, contando que não tivesse que se separar dela.
Os paramédicos a pegaram e colocaram em uma maca levando-a para a ambulância, Anthony acompanhou cada movimento com olhos que nada viam, tudo o que ele via, era a cena repetida do momento em que ele havia visto que ela fora baleada, era um pesadelo que parecia não acabar, ele queria beliscar-se para acordar, mas ele sabia que nada o resgataria desse pesadelo, pois ele era real.
Dentro da ambulância ele ficava murmurando palavras de incentivo no ouvido de Alice, que estava desmaiada, o suor escorria pelo rosto de Anthony como as lágrimas que seu coração derramava.
Chegando ao hospital levaram-na pra sala de cirurgia, e durante horas ele esperou, com uma esperança cega, uma esperança que se recusava a deixar partir, ele se agarrava nela com todas as suas forças, como se ela fosse uma corda e abaixo dele houvesse somente um abismo que o sugaria caso ele a soltasse.
Foi quando ele viu o médico chegando com cara de enterro que ele caiu, naufragou em sua dor deixando-se levar para o vazio, e ele caiu, caiu na inconsciência, perdeu-se na tristeza, na derrota em uma batalha que ele nunca poderia ter ganho, mas que ele rezara para vencer, mesmo que não soubesse para quem.
Ele acordou horas depois, meio zonzo, dopado com calmantes, constatou ele. Anthony estava tão confuso que mal lembrava seu nome, tudo o que ele queria era Alice, ele gritava e chamava por ela em meio aos soluços, mas ela jamais voltaria, ele nunca mais a veria, nem ouviria sua voz, seu riso...Nada, nada restara, ele perdera tudo,  ele já não era nada, nunca fora, não sem ela.



Continua...

Ps: Penúltimo capitulo/parte galera.

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Um comentário:

  1. Nem dá pra dizer os sentimentos que essa ultima parte do conto me passou, mesmo sabendo antes o que ia acontecer eu nao esperava a maneira que aconteceria. Porque vc conseguiu expressar o medo de todos os amantes...viver num mundo onde a criatura amada não existe mais...
    Muito lindo...Parabens

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