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sábado, 7 de maio de 2011

Vórtice: em meio a inconstância do querer.


Quando um coração não sabe o que quer a inconstância se torna constante, trazendo consigo a dor e o sofrimento, calcando feridas na alma do ser que se perde em meio a noite eterna e morna que o cerca.

***
Dois olhares. Como dardos embebidos em veneno, lançados. Suspiros. Saudade. Medo.
Evelyn se sentia acuada, sem conseguir respirar, presa em uma teia de afetos e desafetos, medos. Não havia para onde correr, não que ela acreditasse que de fato fosse capaz de fugir, correr e sumir por entre a bruma da noite, acompanhada ou não por Ethan, ela já não se importava.
Mas ela não podia fugir, não quando sua família colocara seu nome e honra assim de forma tão entregue em suas mãos, tudo dependia dela. Era como um abismo sem fim no qual ela caia cada vez mais sem ao menos poder gritar, sofrendo quieta.
Sentindo sua pele acima dos seios protuberantes serem levemente tocados ela se volta alarmada e se depara com uma borboleta de asas vermelhas adornada com  pequenos desenhos negros como o carvão.


 




Encantada, ela a apanha com a ponta de seu delicado indicador direito, fino e comprido assim como o resto de sua mão, mas a pequena criatura rapidamente alça voo novamente, de forma ágil e elegante. E naquele momento Evelyn a invejou com todo seu coração e alma, desejando com todas as forças ser também uma borboleta, bela e livre, não que ela não fosse bela. Evelyn sabia que era belíssima, a sua maneira, afinal não fora tal beleza exuberante que despertara a atenção de Lord Henry Harrisow para ela?
Evidentemente fora por isso, afinal ela não tinha muito talento no que diz respeito à costura e aos cuidados da casa, por outro lado pintava de forma completamente aceitável e possuía talento evidente para a música.
No entanto, para todos os presentes naquela sala, ela não passava de um rosto bonito por traz do qual não deveria existir nenhuma inteligência, e Evelyn se contentava com isso, quase com um deleite misterioso e malicioso, e nunca protestara ou tentara demonstrar seu intelecto, provando que estavam todos errados a seu respeito, mas ela achava tudo isso perda de tempo, e tempo era algo que ela já não tinha.
O salão dourado de pisos e esculturas de mármore, o teto alto pintado com uma imagem renascentista, retratando um par de anjos com as mãos espalmadas a tocar-se, estava lotado e resplandecia brilhantemente, transbordando perfumes e sabores, risos, luxuria, e uma alegria da qual ela não partilhava.
Certamente quem a via, sorrindo satisfeita, não imaginaria nem em seus piores pesadelos que do fundo do coração e no mais intimo de sua alma, ela clamava por socorro, um socorro que sabia, não viria.
Do outro lado do salão Ethan observava atentamente Evelyn, de seus olhos sentimentos sem fim transbordavam confusos. E seu coração inquieto clamava por seu amor, sua musa. Afinal todo jovem, pintor ou não, precisa de sua musa inspiradora, e ele a tinha, a sua Afrodite perfeita e encantadora.
Ele sorvia o vinho tinto de sua taça de forma vagarosa, saboreando, ao mesmo tempo em que se deleitava com a visão de sua bela prima, e seus olhos pareciam que iam devorá-la, desde os pés pequenos até os cabelos vermelhos e sedosos, como o nascer do sol, aquele momento exato em que o dia substitui a noite, na mais radiante aurora de sangue, mas ele não gostava de seus cabelos presos, não, ele preferia quando estavam soltos caindo em cascatas onduladas por sobre seus ombros e colo, contrastando assim com sua pele alva. Seu corpo era tão belo que parecia ter sido esculpido pela mão de um grande artista; busto farto, cintura fina, quadril largo e pernas compridas e esguias, perfeita...
Ela bebericava tranquilamente uma taça de vinho branco, ela não gostava de vinho tinto, ele sabia, e mesmo a distancia pode notar uma gota de vinho escorrendo por seus lábios cheios e rubros, e alcançando seu espartilho, onde se perdeu em meio ao tecido. Mas algo o incomodava, era a tristeza evidente nos olhos verdes de Evelyn, pois seus olhos que eram sempre brilhantes, agora se encontravam opacos e sem brilho algum.
Evelyn se encontrava deslumbrante em seu vestido preto com fitas de cetim vermelho adornando o espartilho que modelava seu corpo. Ele queria se aproximar dela, tomá-la em seus braços e beijar aqueles lábios saborosos como já fizera tantas outras vezes desde que eles começaram a ter aulas de pintura juntos, mas seu amor por ela praticamente havia nascido com ele, pois, suas primeiras lembranças contam com sua presença delicada e ao mesmo tempo imponente. E ele se lembrava com perfeição a primeira vez que a vira.
Era um domingo calmo e claro de primavera, e o degelo já estava avançado nas colinas por onde ele e sua família passavam, ele contava na ocasião com apenas cinco anos e viajava pela primeira vez com os pais para visitar seus tios do norte, e, quando ele a viu, foi como se o mundo estivesse em câmera lenta, na época, Evelyn tinha seus oito anos, e já era adorável.
Ethan sorri com a lembrança da pequena garotinha branca como um copo de leite, bochechas rosadas, cabelos e lábios rubros, mas, apesar de tudo, foi nos olhos dela que ele mergulhou e caiu num mergulho sem volta, ele sabia, no entanto, ele não teve forças para resistir, era como se um buraco negro o sugasse; implacável, irresistível... E adorável.
Parecia a Ethan extremamente fascinante a simples ideia de poder tocar novamente seus cabelos sedosos e acariciar seu corpo alvo nu junto ao dele, na dança firme, inebriante e sensual do amor, para ele era incompreensível a insegurança, vergonha e medo a dominavam sua bela prima, afinal o que eles sentiam era lindo, e o que fizeram pela primeira vez naquela noite morna de junho, e muitas vezes depois, nada mais era do o manifesto absoluto e perfeito do amor que os envolvia.
Mas de tempos pra cá ela se mostrava irritadiça e melancólica, evitando ao máximo a sua presença e seus olhos, outrora tão alegres, agora pareciam carregados do mais profundo desespero e a mais desesperadora tristeza.
E isso era algo que ele não conseguia de forma alguma entender.
_Boa noite Ethan – disse uma voz forte e feminina bem próxima de seu ouvido – se continuares a observar nossa prima dessa forma, acabarão por acreditar que estas enamorado dela.
Sua voz continha um tom divertido e ao mesmo tempo irônico, Ethan teve vontade de esbofeteá-la por ser tão inconveniente e enxerida, mas, respirou tranquilamente e disse em uma voz igualmente irônica, no entanto ela estava mais para falsa e mordaz do que divertida.
_Boa noite querida Rebecca, como estas prezada prima? Ouvi dizer que estava de casamento marcado com um nobre conde sulista e, que o casamento seria adiantado, pois que o noivo havia apreciado o bolo antes das núpcias e a você estava grávida, espero que seja feliz.
Rebecca corou violentamente e sua face pálida agora se encontrava vermelho escarlate, seus olhos verdes, geralmente tão alegres e suaves, agora brilhavam furiosamente denunciando perigo, mas ela não se deixou abalar, com um sorriso desdenhoso e a voz derramado veneno por sobre cada silaba pronunciada disse:
_Ora primo, não devias fazer fuxicos sobre quem deita na cama de quem, já que ambos sabemos que a muito não dormes só, tendo por companhia uma bela dama conhecida de ambos e que, por sinal é prometida a outro. Essa informação poderia ser muito valiosa nas mãos das pessoas erradas...
“Quanta impertinência” – pensou Ethan morrendo de raiva. Mas se controlou e respondeu sorrindo, no que considerou ser seu sorriso mais angelical.
_Não sei a que se refere querida, deves estar a delirar devido ao seu estado. Mas veja! Arthur estas a chamar-me, irei ter com ele, passar bem Becca.
Ethan partiu o mais rápido que pode, já que se ficasse mais tempo na presença de Rebecca já não responderia por seus atos, “Maldita! Criadora de intrigas” – pensava ele ainda soltando fumaça pelas ventas.
Com um ultimo olhar para sua prima nada adorável, constatou satisfeito que ela estava agora estupefata. Apesar de tudo era bela, muito bela, com seus cabelos loiros e ondulados esvoaçando a sua volta enquanto se afastava a passos largos, seu vestido vermelho e longo escorrendo pelo piso polido, seu espartilho diferente do da maioria das senhoras e senhoritas ali presentes, era afivelado e não trançado com cetim, era preto como um eclipse, mas os brilhos que eram lançados pelas fivelas prateadas davam uma impressão de céu estrelado a ele, tornando-o único.
Mas Ethan já não a via, seus olhos estavam focados em Evelyn que agora estava conversando algo com suas amigas da corte, aparentava pra quem não a conhecia o suficiente, estar animada, no entanto, Ethan sabia que era fachada, já que o brilho triste permanecia obscurecendo seus olhos.
Evelyn sentiu, antes mesmo de ver, que Ethan estava ao seu lado, pois sua presença causava uma pequena mudança na atmosfera próxima, fazendo com que seus pelos se eriçassem com a simples proximidade entre seus corpos.
Sua mão a tocou respeitosamente no braço, qualquer um que os visse juntos naquele momento de nada suspeitaria, mas a lembrança queimava de forma quase dolorosa em sua mente, provocando uma fome dele e de suas caricias que ela não compreendia.
Virou-se lentamente para contempla-lo, ele estava lindo, como sempre, sua beleza tão única, tão dele, seus traços suaves eram ao mesmo tempo másculos e lhes causavam uma comichão ao pé da barriga que fazia com que as conhecidas borboletas que pareciam revoltar-se sempre que estava na presença de Ethan.
Seus olhos de um azul profundo, adornados por sobrancelhas espessas a fitavam, e em cada ponto que seus olhos se fixavam, sua pele parecia queimar, e seus lábios entreabertos em um sorriso malicioso, deixavam seus dentes brancos em fileiras perfeitas a mostra, sua barba negra perfeitamente aparada era da mesma cor de seus cabelos dourados, lisos e rebeldes que lhe chegavam quase ao ombro.
Mesmo com o salto, Evelyn era pelo menos uns sete centímetros menor que ele, que deveria ter seus 1,90 de altura, sendo alto até mesmo entre os homens, mas o que mais chamava a atenção para ele, era seu porte elegante, seu andar gracioso e despreocupado, do tipo de homem que faz com que os pensamentos escapem por entre as unhas dos dedos, como a nevoa branca e fria que se sobrepõe aos lagos no outono.
Com um esforço quase sobre-humano Evelyn conseguiu controlar a voz e fazer com que soasse despreocupada, era incrível como todas as suas convicções pareciam derreter-se e escorrer e vazar por cada poro seu quando estava perto dele, afinal, não fora alguns minutos antes que  pensara ao vê-lo que, “ele já não tinha influencia alguma sobre ela?”. Era maravilhoso e ao mesmo tempo deprimente e preocupante o fato de que não importasse com quantas barreiras ela cerca-se seu coração, ele sempre podia alcança-lo.


CONTINUA









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3 comentários:

  1. Muito bom, espero que a trama seja cheia de mistérios entre esses dois. Isso promete *-*

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  2. Ficou muito gostoso de ler...tô curiosa pra saber o que essa cabecinha loira tá tramando...tem tanta coisa que pode acontecer...
    Beijos

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