A vida e o Nada
Imagem de: VikkiGothAngel
Hoje, tudo o que me
resta são as memórias que se perdem na bruma de um tempo que se foi e a brisa
gélida perfumada de jasmins, nessa noite pálida de lua cheia, carregará consigo
o meu último e cansado suspiro. As flores negras que banhadas da prata luz
lunar, possuem um brilho etéreo e difuso, já não sei a que mundo pertenço e se
tudo não passa de uma ilusão. Mas se em meu corpo ainda há o sopro então serão
elas as únicas a velarem por minha carne decomposta, as testemunhas lúgubres do
banquete dos corvos. Pois não há nada, não há ninguém, somente o vazio e o
abandono permanecem.
Em minha garganta um nó
se forma ao fitar ao longe o balanço que se move fantasmagoricamente, suas
correntes enferrujadas a ranger sonoramente no silêncio mórbido da noite –
sinto que quase posso ver como em um filme as
lembranças se desenrolarem diante de meus olhos... Foram tantos momentos naquele mesmo cenário e os sonhos e
esperanças que nutríramos naquele tempo, os amores que jurei levar ao túmulo,
qual eram afinal? Não sei...
E o sorriso doce que
vazava de nossos lábios sempre que brincávamos naquele balanço rústico, onde
foi parar?
Com esforço sei que
poderei reviver tudo aquilo em minha mente, todos os risos e choros, e o abraço
cálido de minha irmã, quase consigo sentir o cheiro de morangos no vento - para
mim esse sempre seria o cheiro dela – a escapar de seus lisos fios negros
enquanto me dizia que seríamos inseparáveis, “mesmo quando fossemos duas velhas
feias e enrugadas, com cara de chuchu passado, igual a vovó”.