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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Euevocê.com (Terceira Parte)





A forma ou o lugar em que nos encontramos foi, no mínimo, interessante, já que era um lugar ao qual eu não havia colocado os pés em muito tempo. O mais estranho foi o fato de que não planejei ir aquele lugar, o mero acaso me levou até aquela lanchonete, do outro lado da cidade, que anos atrás havia sido o palco do termino de um garoto chamado Vinicius e uma menina tola, estranha e magrela.




Naquele dia, em que os astros pareceram conspirar contra mim, já que tudo estava dando errado, eu havia perdido o ônibus que costumava pegar e, por consequência acabei subindo em um ônibus completamente diferente, pensando que ele me levaria para um lugar razoavelmente perto de casa, o problema é que eu confundi os bairros. Quando percebi a cagada já era tarde demais, então coloquei os fones de ouvido e esperei chegar novamente ao terminal pra poder pegar o veiculo correto – não se atreva a sugerir um táxi, sou pobre.
Então, enquanto estava viajando no som e observando as casas e o movimento da cidade em ebulição através da janela, vi passar um letreiro que a muito havia esquecido, mas que despertou um lugar recôndito de minha memória.
No mesmo momento, movida por um impulso, apertei o botão de “solicitação de parada” e com o coração apertado desci do veiculo e caminhei em direção a lanchonete. Ela havia mudado de dono – como descobri mais tarde- e agora possuía uma decoração totalmente destoante da que eu costumava conhecer como se fosse a de minha própria casa. Hoje, onde antes haviam sofás grudados e as mesas redondas que dão aquela sensação de intimidade e conforto, agora encontravam-se mesas quadradas, com poucas cadeiras e um visual moderno e prático, tão característico de tantas outras lanchonetes. Aquele lugar que eu tanto amara perdera sua singularidade, os quadros pela parede agora eram de cantores pop do momento, em tons tristes e mortos, as gravuras com molduras em vermelho haviam desaparecido...
Como tudo, aquela lanchonete também se adaptara a modernidade e praticidade da vida moderna. Mas não desisti de sentar-me e fazer meu pedido – até porque estava faminta – infelizmente a primeira mordida trouxe consigo um gosto amargo de decepção; o gosto era exatamente igual ao de outras lanchonetes de cadeias de fast food, que eu particularmente não gosto, já que sempre preferi minha comida feita na hora, mesmo quando estou com pressa – apesar de as vezes comer aquelas lasanhas de micro-ondas, que são muito boas, obrigada.
Larguei meu lanche meio comida na bandeja e passei a observar o lugar, naquele exato momento um homem alto, de ombros largos, camisa e calça sociais e cabelos negros adentrou o recinto e eu imediatamente o reconheci, aquele perfil e aquele jeito de andar que não mudaram nada durante os anos que se passaram me fizeram sorrir. Vê-lo trouxe um perfume de nostalgia e despertou memórias que eu pensava não existirem mais.
Silenciosamente observei-o enquanto caminhava em direção ao balcão e fazia o seu pedido. Parte de mim desejava saber se ele me reconheceria – e outra, agradecia fervorosamente aos deuses, aos astros e ao acaso, pelo simples fato de ter saído bem arrumada naquele dia, e não ter colocado a camisa bege.
Mas minhas dúvidas fúteis duraram poucos segundos, pois, no momento em que ele se virou e procurou um lugar para sentar-se, seus olhos de jabuticaba encontraram os meus e ele, um pouco surpreso, veio em minha direção a passos largos.
Eu não sabia se deveria sorrir ou permanecer série, se levantava para cumprimentá-lo, ou esperava sentada. Aquela mulher em frente a ele, era definitivamente bem diferente da menina de agudos olhos verdes de ave rápida, lábios finos, cabelos longos, loiros e enrolados, com óculos grandes demais que pareciam pertencer ao Harry Potter, e não a uma adolescente comum.
Aquela garota, que andava de skate e usava roupas largas para tentar parecer menos magrela (não funcionava), morrera a muito tempo, fora soprada para um lugar no passado do qual eu mal me lembro, um lugar ao qual eu já não tenho acesso.
Obviamente não pude deixar de imaginar, ou cogitar, como ele me via agora, anos mais velha, de cabelos curtos e uma aparência despreocupada, ao mesmo tempo em que transmitia segurança e personalidade (não estou sendo convencida, juro).
Levantei-me no momento em que ele chegou a mesa e abrace-o – por instinto ou por “vontades que vem do nada”, mas isso não importa – eu precisava daquele abraço, aquela sensação de conforto que somente o calor humano pode transmitir.
Acredito que ambos sorriamos, pelo menos é o que constatei após ver meus lábios refletidos nos olhos dele, com um sorriso que eu não sabia ter dado, e de ver o sorriso amistoso e belo do qual me lembrava tão bem.
Sentamo-nos e começamos a conversar, ele trabalhava a aproximadamente quinze minutos daquela lanchonete, mas não costumava comer ali, acabara aqui hoje por mero acaso, já que o local ao qual ele ia estava fechado.
Confesso que na minha cabeça aquilo pareceu um grande golpe do destino para nos unir novamente, afinal, quais as chances de algo assim acontecer? Para mim naquele momento só existiam duas alternativas, a primeira era acreditar que aquilo era pura coincidência, ou seja milhares de acasos simplesmente nos colocaram juntos, assim sem querer, na mesma lanchonete (a qual nunca mais havíamos frequentado), no mesmo exato momento. E a segunda – e mais repulsiva para os céticos – era acreditar que tudo na vida está interligado, e talvez, só talvez, algumas coisas simplesmente precisam e vão acontecer. Eu sinceramente preferia – romântica e tolamente – acreditar na segunda opção.
Mas, voltando a praticidade do dia-a-dia, não tínhamos muito tempo, o horário de almoço dele já estava acabando (ele demorara a encontrar um lugar pra almoçar), portanto conversamos sobre o que estávamos fazendo atualmente, onde vivíamos e coisas casuais do tipo enquanto ele devorava seu X-algumacoisa.
- Então, você voltou para cá... Tem quanto tempo? – perguntei.
- Tem uns dois anos, apareceu uma vaga de emprego na minha área na empresa em que um amigo trabalha e ele me avisou, então vim pra entrevista de emprego e acabei ficando. E você acabou não indo embora...
Sorri ao recordar meus sonhos juvenis de viajar o mundo com uma mochila nas costas e conhecer vários povos e lugares.
- Sim, a verdade é que nunca consegui reunir a coragem necessária para me tornar uma mochileira e viver sem me preocupar com o dia de amanha, seguindo plenamente o conceito “carpe diem” de ser, eu sou preocupada demais – respondi sorrindo.
- Sim, eu sei. Sabe, tenho mantido contato com seu irmão durante esses anos, ele conseguiu emprego na área de desenvolvimento de jogos não é?
- Sim, agora ele fica me infernizando para comprar os jogos da empresa em que ele trabalha – respondi revirando os olhos.
- Imagino...Então, você ainda joga?
- Sim, mas prefiro jogos de desktop, porque posso jogar enquanto estudo, ou trabalho. Bem mais prático.
- Entendo, eu também faço isso – respondeu ele rindo – é algo que apesar dos anos ainda temos em comum, aparentemente.
Era simplesmente relaxante, ao mesmo tempo em que me assustava. Estar conversando de forma tão fácil e gostosa com alguém que era tão desconhecido e tão familiar. O que posso dizer, fazia tempo que não me sentia tão relaxada e em paz, sem me preocupar se meu cabelo estava desalinhado, se meu batom estava borrado...Eu não estava nenhum pouco preocupada em impressioná-lo, até porque ele já me vira em situações muito piores.
Se você já se encontrou com um antigo amigo, depois que muitos anos se passaram sem que vocês se falassem, e quando se reencontraram novamente o assunto desenrolou que nem carretel de linha, essa pessoa pode realmente ser considerada um amigo. Porque, verdade seja dita, as pessoas entram e saem de nossas vidas, as vezes com uma velocidade impressionante e por mais que quando somos adolescentes, desejemos acreditar que o “amigos para sempre” existem, e que nós já o encontramos. O fato é que isso é muito raro, pessoas mudam a todo momento, a cada escolha que fazem e nem sempre permanecem ao nosso lado, seja lá por quais motivos, muitas vezes elas tornar-se-ão verdadeiros desconhecidos para nós, e nós para elas, de forma que quando nos encontrarmos novamente, elas serão meras lembranças de um passado, e de alguém que já não somos.  Não que por isso elas nunca tenham sido importantes, acredito que cada pessoa que surge em nossa vida contribui em algo, seja positiva, ou negativamente.
Então, quando Vinicius e eu nos encontramos naquele dia, eu senti um tipo de ligação com ele, pelo passado em comum que tínhamos e porque parecíamos ter mais em comum do que nunca (o que era fácil, já que quando adolescentes não tínhamos basicamente nada). Acredito que tenha sido por isso que trocamos e-mail e outras formas de contato, como celular e etc. o ser humano é incrivelmente nostálgico, gostamos de rever, relembrar, guardar (as fotos e diários comprovam isso).
Naquela tarde não tivemos muito tempo para conversar, separamo-nos cedo demais para voltarmos as nossas vidas humanamente corridas e quando saímos daquela lanchonete, senti que aquele era um novo começo para mim, que minha história começava um novo capitulo, e eu esperava que fosse um importante.


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