expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Euevocê.com {Primeira parte}


A história que agora lhes contarei, a muitos parecera boba, ou até mesmo fantasiosa, mas é de fato a história de minha vida. Sem muitos floreios ou dramas exagerados, é a verdadeira história, tal e qual me lembro dela. Se é que se pode confiar na memória.
E a minha história começa e termina no amor. E pensarão vocês que é um clichê imperdoável uma “história de amor”. Que fechem o livro então aqueles que nunca viveram uma história de amor. A sua própria. Seja platônica ou consumada. Uma simples paixão que se apaga tal logo surge, ou um amor pra vida toda. Se de fato realmente não tiveram em sua vida, em nenhum momento alguma história de amor, então fechem o livro. Eu os ordeno que fechem, pois não sabem o que é viver, e não merecem ler essas linhas que aqui traçarei. Pois aqui exporei todo meu coração, fibra por fibra; e todo meu sangue, gota por gota.
Mas, entremos então na tal história, sem mais rodeios. E que aqueles que a lerem me perdoem os excessos ou a ausência deles, ou não me perdoem. De fato isso não mudará em nada minha vida.
Talvez devesse me desculpar por em alguns momentos parecer mal educada. Juro que não o sou, sério, não sou mesmo. E por sinal, minha mãe ficaria extremamente ofendida se soubesse que me taxaram de mal educada, então, se não for por mim, que seja por minha mãe, e relevem, sim relevem, meus excessos. Mas é que não conheço o meio termo, ou é, ou não é e ponto final. Nada do talvez. O talvez é deprimente e degradante na minha humilde opinião, se é que me permitem dize-la. De qualquer forma, já disse, ou escrevi. Que seja.
Ah sim, a história. E tentarei ser o mais direta possível. Juro!

***


Era Março, e o tempo, como em todo mês de Março, era chuvoso. Eu contava na época com meus 22 anos, cursava História, e adorava o curso, diga-se de passagem. As festas nas republicas também contribuíam bastante para esse fato. Eu adorava sair com meus amigos, ou sem eles, pois sempre fui sociável, ou se preferirem, cara de pau. Comigo não tinha problema. Eu fazia coleguinhas facilmente, mas me magoava, confesso, o fato de na maioria das vezes não se lembrarem mais de mim no dia seguinte. Enfim, eu era uma estudante normal. Saía, me divertia, cantava, dançava, dava uns amassos em algum gatinho e, estudava, claro estudar é importante também e eu o fazia, pelo menos é o que acha minha mãe.
Claro, isso tudo visivelmente, mas obviamente, eu tinha um lado que poucos conheciam. Eu era GEEK. Sim! Eu era e sou, GEEK. Desde novinha adorava jogos de vídeo game. Constantemente vencia meu irmão e seus amigos em jogos de luta ou futebol, qualquer um. Eu era de fato muito boa naquilo, o que, obviamente deixava meu irmão possesso. E depois de um tempo passou a me impedir de ir jogar com ele quando seus amigos estivessem presentes. Acho que feria sua honra ser vencido no vídeo game pela irmã mais nova, e pensando bem, acho que os amigos dele também não deveriam gostar muito disso. Devia ser realmente humilhante perder pra uma garota, e ainda por cima mais nova. Maldito conceito implantado na mente humana de que os homens são os fortes, as mulheres fracas, e que devemos ser protegidas por eles, os machos alfas.
De qualquer forma, eu adorava jogos de vídeo game e quando menor, ganhei de presente de aniversário um computador, já que meu irmão egoísta não me deixava mexer no dele, pois eu “iria quebrá-lo”, como dizia ele, como se eu fosse alguma idiota. Foi o suprassumo ter o meu próprio computador. A sensação que senti de fato, é indescritível. É como o primeiro carro, o primeiro sutiã e etc. Praticamente todo mundo se lembra dessas coisas com carinho, assim eu me lembro do meu primeiro computador. Logo que o liguei na tomada, instalei um joguinho que um amigo tinha me dado por DVD, e comecei a jogar. Era demais. Sério! Quem nunca jogou algum jogo em seu computador não sabe o que está perdendo. E lembrem-se, na ocasião eu contava com meus 12 anos, se a memoria não me falha.
Fiz vários e vários amigos naquele jogo e no seguinte, e ainda no outro. Alguns foram como cometas em minha vida, cintilaram por um tempo, mas depois sumiram sem deixar vestígios, exceto o brilho que a sua passagem deixaram em mim ao passar, e outros, muitos outros permanecem até hoje. Me são amigos extremamente caros, e às vezes me espanta a força e a intensidade de nossa amizade, já que, alguns deles nunca nem mesmo vi pessoalmente. E devido a esse fato, segundo algumas pessoas, devo considera-los “completos desconhecidos”. Tolice! Não preciso tocá-los para conhecê-los. É como dizer que não existe uma força maior acima dos seres humanos. Alguns chamam essa “força maior” de Deus, e outras lhe dão outro nome. De qualquer forma, ela existe. Seja qual for o nome que a damos, ela está ali. Assim como também meus amigos estavam. É claro que o contato humano faz falta, mas a amizade verdadeira supera até mesmo essas barreiras.
E em um desses jogos, conheci Ian. Sim, o Ian. Foi lá que o conheci. Naquele jogo que muitos julgavam idiota, e perda de tempo, alienação e coisas do tipo. Quer prova maior de que o amor pode acontecer em qualquer lugar, ou até mesmo, em qualquer situação?
Não pensem vocês, que foi amor a “primeira vista”, ou amor a “primeira cura” – só quem joga ou jogou entende - ou mesmo amor ao primeiro “sussurro”. Não! Nada disso. Foi algo gradual, tão natural quanto respirar.
Na época em que o conheci eu tinha 18 anos, e ele 24, e foi até mesmo engraçado o modo como aconteceu. E vou lhes contar como foi, não só para vocês decidirem se acreditam ou não em destino, como também pelo fato de que adoro contar essa história. De fato eu já devo tê-la contado umas 1000 vezes, sem brincadeira, e que me desculpem meus amigos que foram obrigados a ouvi-la mais de uma vez.
Era uma tarde de domingo, quente e chata, e o tédio costumeiro de domingo corroía minhas entranhas com dedinhos pontudos e impertinentes. Foi então que decidi vaguear calmamente pelo jogo, com meu char – para os leigos, bonequinho - e ajudar aos mais inexperientes, coisa que eu definitivamente não tinha costume de fazer. De fato, aquela foi a única vez que o fiz. Mas vejam, fui quase uma Robin Hood brasileira dos MMORPG – ou para quem não conhece a sigla, é um jogo de interpretação de personagem online em massa, com pessoas do país todo, ou mesmo do mundo, no caso dos servidores internacionais – e foi nesse dia fatídico que Ian e eu nos conhecemos.
Começamos com um dialogo simples, e banal. O bom de se estar atrás de um monitor é que não se precisa ter vergonha, ninguém está te vendo mesmo – não que fora do jogo, na “vida real” eu fosse muito tímida, de fato não era, mas, de qualquer forma, a “máscara” que o computador disponibiliza desinibe.
E o dialogo foi o seguinte, o adaptarei para a norma “culta”, ou padrão se preferirem, porque se não ficaria BEM estranho. E antes que eu me esqueça, digo que irei me referir ao personagem dele, como bonequinho. Encarem como um teatro se for mais fácil entender.
- Olá! – Disse eu toda contente, já que o bonequinho dele era lindinho.
Silêncio... Sim, ele me ignorou, mas eu nunca fui de desistir fácil, por isso insisti até conseguir extrair dele algum diálogo aceitável, afinal permitir que ele me deixasse sem uma resposta feria o meu orgulho profundamente.
E, fico extremamente orgulhosa, leia-se; convencida, em dizer que após a minha insistência, meus esforços foram recompensados e nos tornamos amigos. No começo conversávamos pouco, alguns dias quase nada, mal ocorria um “Oi”.
Mas realmente havia algo que me intrigava nele. Algo que me impelia a sempre falar com ele, tentar ao máximo fazer com que ele me notasse. Era humilhante, e tinha dias que eu ficava realmente furiosa com a sua indiferença.
E os meses passavam, lentamente, ou rapidamente, o tempo é algo muito relativo. E eu finalmente podia dizer que éramos amigos, mérito meu, claro, pela perseverança demonstrada.
Eu havia, na época, recém me formado no ensino médio e em breve iniciaria o curso de História em uma cidade distante da minha, tendo assim que morar sozinha. E enquanto eu me organizava, procurava casa pra alugar, vaga em república ou até mesmo em apartamentos. Desapareci do universo online. Isso mesmo! Eu sumi. Mas me despedi de meus amigos, dizendo somente o essencial, “vou sumir por um tempo, mas volto”. Fiquei fora de todo o universo da internet durante três meses. E vocês devem estar pensando nesse momento, “três meses é muito pouco tempo” ou “três meses passa rápido”, ou qualquer coisa desse gênero, mas devo dizer que o tempo no universo online, decorre de forma diferente da que ocorre no universo “normal” ao qual estamos acostumados. Três meses naquele universo, ou fora dele, é muito tempo.
E quando voltei - bela e formosa, feliz e saltitante - meu amigo me contou uma novidade maravilhosa, ele estava namorando. Sério, na época não senti ciúmes nem nada parecido, me pareceu perfeitamente normal e fiquei, por sinal, muito feliz por ele, já que eu também estava praticamente namorando, e o terceiro desde que o conhecera.
E foi com esse meu namorado, o Fernando, que eu realmente entrei de cabeça nas festas, Raves, discotecas, bares... Íamos a todos os tipos de festas onde houvesse música e bebida.
Fernando era musico, tocava em uma banda de Heavy Metal chamada “Filhos da Noite”, ele era o baterista. Devo, neste ponto, confessar que sempre tive um fraco por músicos. É impressionante como eu sempre acabava envolvida com algum cara engajado no mundo musical.
Abrindo um parêntese, talvez isso seja uma expressão do meu inconsciente, já que sempre adorei música, é algo que realmente me deixa e sempre me deixou extasiada e encantada, algumas músicas me fazem sentir uma paz imensa, e outras me dão vontade de chorar, de tão belas.
Voltando aos meus namorados, ficantes, rolos e afins... Nenhum, apesar de vários viverem em contato com o mundo da música, seja atuando nele ou de outra forma, até aquele momento tinha sido capaz de me ajudar a penetrar também nesse mundo, em todos os sentidos, tanto os positivos quanto os negativos.
E um dia quando dei por mim, estava em um palco improvisado em um bar qualquer da grande São Paulo. E a sensação foi maravilhosamente deliciosa. Apesar do medo que senti no principio, eu descobri que eu realmente deveria fazer aquilo mais vezes. Cantar pra toda aquela gente era incrível, mesmo, e apesar do barulho, aquilo - o palco - as pessoas me transmitiam uma sensação abençoada de paz e poder.
E foi assim que penetrei no mundo da música e comecei a cantar esporadicamente naquele mesmo bar, qual não citarei o nome por motivos óbvios.
Fernando e eu nos dávamos realmente bem. Éramos bem parecidos nos quesitos que deveríamos sê-lo e muito diferentes em coisas igualmente convenientes. Entenderam? Pois bem, éramos parecidos e ao mesmo tempo diferentes, se é que assim fica mais fácil compreender.
E poderíamos estar juntos até hoje imagino, se não fosse por um pequeno, grande, detalhe, ele mentiu pra mim, vulgo, me enganou. E se tem algo que realmente não suporto e nunca permiti, pois para mim representava o fim de tudo, era a mentira. Eu perdoava muitas coisas, mas não a mentira. Pois sempre fui sincera demais e gostaria de no mínimo, o mesmo tratamento.
A mentira é como uma goiaba bichada, no começo é só umazinha em meio às outras que estão perfeitamente saudáveis, mas, em seguida o bicho daquela se espalha pelas outras empesteando todo o pé de goiaba, anulando assim a produtividade de toda uma goiabeira.
E é assim que a mentira, o que era supostamente uma só, se transforma em várias. E no fim já não se sabe o que foi verdade e o que não foi, tal forma essa coisa pútrida e corrosiva se instala no meio - sim, no meio mesmo, entre o casal, no caso, eu e Fernando - acarretando assim na separação obvia do mesmo.
A menos é claro que o amor seja realmente muito grande, a ponto de a mentira ser perdoada, mas infelizmente, ou felizmente, eu nunca fui do tipo que acreditava que o amor é como uma criança engenhosa, quer o que quer, se magoa de forma extremamente fácil quando não o consegue e, quando se magoa ou se descobre enganados, dificilmente perdoa.
E eu, bem, eu não perdoava mentira, pois não suportava a ideia de ter sido enganada. Feria de forma quase irreparável meu orgulho e, devo admitir, sempre fui muito orgulhosa. Somente em casos extremos com pessoas muito importantes pra mim, é que deixo meu orgulho de lado em prol de algo maior, se isso é qualidade ou defeito, já não cabe a mim decidir.
Mas, voltemos ao meu relacionamento com o Fernando, que por sinal já não existia.
Confesso que o nosso termino de relacionamento por ser mais carnal que sentimental, praticamente não me perturbou. Só senti realmente falta dele, em minha cama, pois era inverno quando terminei com ele, e o calor que dele emanava me aquecia em meio à noite fria. Agora eu teria que fazer uso diário de minhas cobertas mais quentes, e elas sufocavam.
Nem preciso dizer que foi em Ian que encontrei um porto seguro e atenção quando estava sozinha e carente. Ele me apoiava totalmente e em suas palavras de apoio não existiam segundas intenções, tanto é que sua namorada, Bianca, nem mesmo sentia ciúmes de nossa amizade, com laços cada vez mais fortes e intensos.
E eu, ironicamente, penetrei em uma névoa profunda e densa de depressão, irônica porque, não tinha motivos aparentes para aquilo, e se eles existiam, eu os desconhecia. Não era por Fernando, nem de longe, como já disse anteriormente, eu nunca havia gostado realmente dele.
Era por mim mesma que eu sofria, e sofria quieta no meu canto, sem incomodar ninguém. Mas era aparente que a cada dia que se passava eu definhada mais e me atolava mais profundamente na tristeza insolúvel que me consumia desde as unhas do pé, pintadas de vermelho – naquele momento descascado e em estado deplorável – até o âmago de minha alma. Era algo que me dominava e me consumia sem que eu entendesse a razão.
Ninguém entendia, apesar de pouca gente realmente ter conhecimento do fato, eu padecia. Passei assim dois meses, nos quais ia à faculdade e voltava para casa. Mal saía, somente quando era realmente necessário. Compras, etc.
Nessa fase triste de minha existência, todas as frustrações pelas quais já havia passado na vida, pareciam voltar à tona como um fantasma vingativo que só queria me atormentar. Um exemplo disso é que até mesmo por meu cachorro, Lancelot, que havia morrido há uns dez anos, eu chorei - e muito por sinal. Eu chorava enquanto fazia o almoço, chorava ao dormir e acordava chorando também às vezes, e era algo que eu não conseguia controlar, por isso evitava ao máximo sair de casa. Odiava que me vissem chorando ou demonstrando qualquer tipo de indício de fraqueza.
E foi nesse período que provei das drogas. Um baseado aqui, outro ali, e flutuava por um universo paralelo metade do dia, totalmente alheia a realidade que me cercava.
E nessa fase, foram-se mais dois meses, completando assim quatro meses, do que costumo chamar “a época obscura de minha vida”, nos quais minha existência foi totalmente precária.
Até que tudo se dissipou, leia-se, minhas lágrimas e frustrações pelas quais chorava, acabaram, e eu voltei a ser eu mesma. Isso não foi de um dia para o outro, mas minha tristeza que parecia sem fim, foi se abrandando lentamente da mesma forma com que veio, até se evaporar em meio a alegria que me inundava.
Os casais aos beijos, ou até mesmo de mãos dadas, já não me incomodavam. O canto belíssimo dos pássaros, já não me irritava, e o mundo parecia sorrir-me de novo. Por isso eu lhe sorria de volta, totalmente renovada, e de alma lavada.
À minha frente um mundo coloridíssimo se desenrolava, e pincéis multicolores estavam a minha espera para que eu pintasse o que desejasse. A sensação das plantas quando chove após uma seca deve ser a mesma que a minha naquele momento, eu me sentia livre e renovada. Perfeitamente em paz.
Assim pude voltar à minha rotina de estudos e lazer e para o seio doce e macio de meus amigos que evitavam lembrar-me de meus momentos de loucura, em que por vezes era muito cruel e malcriada com eles.
Eu sentia uma sede que não podia ser saciada. Uma vontade de beber o mundo em grandes goles de desespero, era inconcebível e imperdoável a consciência do fato de que eu desperdiçara tanto tempo de minha vida chorando que nem uma idiota pelos cantos. A vida era curta demais para isso e, naquele momento, eu tinha plena consciência disso.
O que fez com que eu mudasse minha rotina quase totalmente, recheando-a de coisas interessantes que nunca havia feito, ou de prazeres dos quais já havia provado, mas queria repetir. Pois para mim, os grandes prazeres devem ser repetidos sempre que possível. Nada de economizar para depois.
Mas obviamente eu sempre encontrava tempo para Ian em minha agenda e ele para mim. Entre nossas agendas corridas e fuso horário era cada vez mais difícil termos um tempo divertido, juntos. Porém de alguma forma não podíamos aceitar nem mesmo a hipótese de perdermos o contato. Nossa amizade era importante demais para que permitíssemos isso.
Eu sentia que ele me conhecia e me entendia melhor do que qualquer outra pessoa, quiçá melhor do que eu mesma. Talvez eu também o conhecesse assim.
Porém, em dado momento eu comecei a sentir algo a mais por ele e ele passou a ser a pessoa mais importante da minha vida. Pra começo de conversa eu nem ao menos sabia como reagir a esse tipo de sentimento. Naquele momento meu maior desejo passou a ser estar com ele, em carne e osso. Somente conversar com ele já não era suficientemente bom para mim. Eu precisava tocá-lo. 

Comente com o Facebook:

Um comentário:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...