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terça-feira, 29 de maio de 2012

Devaneio



No labirinto das vaidades emplumadas.
O aroma da rosa espalha-se como gás venenoso.

Na aurora dos dias plácidos e sedentos.
A cálida brisa carrega nas asas uma pétala vermelha.

No céu uma nuvem branca pode esconder uma bomba.
O espinho o coração do rouxinol não sangra.

Nas veredas da nevoa que o tempo anseia.
A gota de orvalho do seio pálido escorre.

Nos flácidos e gélidos sorrisos de malva-rosa.
O canto da cotovia anuncia o descer das cortinas.

Na água cristalina que escorre pelas veias.
A poça  de sangue em seus pés anuncia o fim da estação.

No brilho do sol em seus olhos graves.
O tempo corre como fitas de cetim negro nas mãos das Moiras.

Na cantiga de ninar que ecoa nas trevas.
A intempestiva orquestra celestial não erra.

No soluço estrangulado no gelo.
O beijo sedento, no vinho afoga-se.

Nas pedras inóspitas e cinzentas.
A uma rosa vermelha, denomina-se milagre.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

No relicário


         Noite passada, após ter permanecido o dia todo organizando o sótão de minha nova casa, deitei-me na cama macia, desejando mais do que qualquer coisa dormir. Mas não pude sequer roçar os dedos nos véus da inconsciência, ela me negou fervorosamente teus braços e o descanso de que eu tanto necessitava.
         Senti-me exausta, mas ainda sim subi para o sótão novamente. Havia algo ali que me atraia; um sopro, uma sensação, que tornava aquele, o meu lugar preferido daquela casa.
         Acho que conhecer um pouco mais de meus antepassados contribuía para isso. Eram fotos, diários, livros e objetos encantadores. Tudo ali cheirava a antigo e a mistério... História.
        E sempre me seduziram de forma especial as histórias, principalmente as baseadas em fatos reais, mais ainda as que contribuíram para meu nascimento.
Por dias me vi consumida por caixas e caixas de recordações, absorvendo tudo, organizando por época e ramo familiar.
        Eu mal comia e bebia, não conseguia convencer-me a sair de meu mais novo vicio, meu reino encantado do qual fora privada durante anos.
        De fato, quando vovó morrera a casa ficou para mim. Ela e tudo o que houvesse nela, já que  eu era sua neta preferida e minha mãe não se interessava por essa casa em que as paredes pareciam contar contos e cada rachadura, cada lasca de tinta, cada móvel...               Representavam vidas e histórias de nossa família.
       Ela provavelmente venderia o terreno e demoliria a casa.
       Não, vovó nunca perdoaria algo assim, por isso deixara para mim o seu maior tesouro, deixando aos outros netos, pequenas posses que lhes seriam de melhor agrado.
       Ela sabia que eu cuidaria bem de nossa casa, essa casa que tem sido nossa por várias gerações...
       Vovó... Quanta saudade sentia dela e seu olhar caramelado repleto de mistérios que nunca pude decifrar. Eu jamais fui capaz de compreendê-la, e, após sua morte, eu precisava de um tempo antes de poder voltar para esse lugar em que cada cômodo possuía tantas marcas inesquecíveis de sua presença.
       Então, cinco anos se passaram até que eu pudesse voltar a minha terra natal.      Abandonando emprego e casa eu fugira da capital e voltara ao interior para um retiro em que organizaria minha vida com calma. Era necessário após todas as tempestades que a assolaram.
       E uma semana após a minha chegada, algo que só posso denominar como “um fato muito interessante” ou “uma descoberta encantadora” aconteceu. Enquanto eu me levantava do chão em que permanecera sentada por horas, apoiei-me com a mão direita sob a madeira do piso, mas minha mão afundou-se fazendo com que eu perdesse o equilibro , caindo estatelada no chão.
       Por sorte não houveram grandes prejuízos ao meu corpo, somente pequenos cortes. E enquanto eu retirava minha mão do buraco, meus dedos rasparam em algo, o que aguçou a minha curiosidade de pesquisadora e mulher.
       Tateei no escuro com o coração aos saltos, curiosidade correndo em minhas veias no lugar de sangue.
       Após algumas tentativas consegui tirar do meio do piso de madeira um pequeno relicário de madeira negra com pequenas tulipas entalhadas.
Minhas mãos tremiam de êxtase enquanto eu o trazia para perto de mim. A expectativa doce e saborosa bombeando em minha alma.
       Tantas duvidas e segredos... A quem pertencerá esse relicário?
       Lentamente abri a tampa, saboreando a sensação de desvendar algo. Eu me sentia uma intrusa invadindo a privacidade de alguém, o que me causava pequenas palpitações de culpa, que eram totalmente sobrepujadas pelo meu desejo de descoberta.
       No topo da pilha de papéis, havia uma tulipa enegrecida, ressecada pelo tempo, que se dissolveu ao meu toque, deixando para trás fragmentos do silencio de uma história que somente ela testemunhou. Um possível beijo e um perfume dos quais só ela compartilhou, agora, perdidos para sempre.
      No lugar onde antes estivera a tulipa, entrava-se um montículo de cartas amarradas por uma fita vermelha de cetim.
      Eu as segurei como uma mãe que, amorosa, embala o filho que se ferira, consolando-as como se tivessem sentimento, e talvez tivessem.
      Vagarosamente abri o laço que as envolvia e passei a leitura delas, as cartas de minha avó... Sofia.



quarta-feira, 16 de maio de 2012

Quando



Quando as janelas de minha alma por fim cerrarem-se.
Meu único desejo é que estejas a minha espera com teu sorriso incorpóreo.
A resgatar-me das trevas para que nossas almas tão cedo separadas.
Possam tornar-se um único e perfeito ser assim como no inicio dos tempos.

Quando meus olhos já não puderem a beleza da aurora.
Acalentando em teus róseos braços a escuridão em teu ultimo suspiro.
Anseio que pegues minhas mãos tremulas.
E me guie pelos desconhecidos véus.

Quando nas rugas do tempo meus passos se findarem.
Deixando para trás um corpo cansado e uma lacuna evanescente.
Quero que saibas que nunca o esqueci e que sonho que estejas a minha espera.
Nos grandiosos e imaculados prados primaveris.

E quando meu coração findar sua balada encantada.
Num ultimo e sôfrego batimento.
Saberás que todo seu esforço foi por ti e a promessa de dois jovens.
E viras solicito segurar minha mão.

Quando de meus lábios exaustos.
Um suspiro final com cheiro de meta cumprida escapar.
Sentiras no mesmo instante.
Que em breve estarei junto a ti.

domingo, 6 de maio de 2012

A menina e o cata-vento vermelho

A menina e o cata-vento vermelho



Com um pirulito na boca e um cata-vento na mão, ela não buscava entender o mundo e seus dilemas universais, ela só sentia.
Acordava todos os dias, verificava seu estoque de máscaras, uma para cada situação do dia, uma “dela” para cada pessoa. 
Em seu jogo de máscaras, ela simplesmente interpretava seus personagens, sem jamais se perguntar porque o fazia, era automático, era o que todos faziam.
Porque com isso não se preocupava, ela era feliz.
Aquela pequena que ninguém entendia porque sorria. Aquela mulher que não derramava sua alma em gotas, mas por vezes sangrava. 
Não sabia porque sorria e muito menos porque empenhava-se em fazer rirem os outros.
Mas ela compreendia melhor que todos que conhecia, o calor que um simples sorriso traz, e entendia que cada sorriso é como uma chama no inverno eterno e denso que assola a vida de alguns...De todos.
Aquela garota, que não buscava dar nomes e denominações a tudo, mas por dentro, soluçando, conhecia a dor que o ser humano, que já nasce sabendo de decadência por isso chora.
Ela, que era cheia de defeitos, vícios e desejos obscuros, não era melhor nem pior que ninguém. Ela só queria viver do seu próprio jeito singular, sem ser apontada ou acusada com olhares feios na rua.
Aquela criatura singela, que não queria nada, mas ansiava por tudo com um desejo tão grande que não sabia por onde começar.
Essa garota, era eu, errando pela vida como um cata-vento. 
Sendo soprada pela vida a fora, por uma brisa repleta de gente, que nunca será capaz de conhece-la por completo.
E ventos de circunstâncias, que ela, nunca compreenderá.

sábado, 5 de maio de 2012

Desejo




Sempre que dormia, gritando acordava.
De seus macabros sonhos ela não se livrava.
Seu perverso pecado neles confrontava.
Relembrando a cena em que de castos lábios, beijos roubava.

Sempre que dormia, suando acordava.
Em seus pesadelos malditos de um corpo proibido provava.
Com uma sede inexpugnável que a controlava.
Desejando gemer, ela gritava.

Jamais confessaria que aquilo que era casto a luz do dia.
Durante a noite maculava.
No fundo sabia que de abstinência de amor seu corpo sangrava.
Mesmo assim ao acordar se torturava.

Rasgando-se em tiras, seu corpo flagelava.
Não podia aceitar o que desejava.
Mas do fundo da alma por aquilo ansiava.
Chorando para esquecer, pecava.


segunda-feira, 30 de abril de 2012

Contava com 30 exatos anos





Contava com 30 exatos anos, quando tudo aconteceu, ele nunca pensara que esse dia chegaria tão cedo, havia tanto que ele ainda ambicionava fazer antes desse momento. Tantos lugares que ele e sua namorada desejavam conhecer para andarem sem rumo em busca de um lugar ao sol onde poderiam fazer coisas improprias para menores, tomar uma cerveja gelada e observar o cair da noite...

Ele simplesmente não conseguia deixar de pensar em quantas cervejas não poderia mais tomar, quantos cigarros não fumaria, quanto sexo não faria...

Sua vida parecia passar diante de seus olhos como um filme, o que o deixava mais e mais abatido, porque essas cenas o lembravam de tudo que agora teria de abandonar, já que ele não poderia mais fazer tudo o que fazia antes, logo, era inevitável que perdesse tudo que mais gostava na sua vida de merda e tão de repente...

O sentimento de traição que sentia era como um veneno corrosivo que o tornava a cada minuto que passava mais e mais revoltado com o cosmo, a dama de asas prateadas que carrega consigo um novelo de linha fina e translúcida a qual chamamos de vida – ou destino – e também com  o criador por deixar que isso acontecesse. É claro que a culpa era dele e ele sabia disso, mas ele era um seguidor de Homer Simpson, pois, já que a culpa era dele, ele colocava em quem quisesse. E era isso que fazia para sentir-se melhor, apesar de não estar funcionando muito bem.

Pudera ter feito tudo diferente, ele provavelmente não estaria nesse quarto de hospital assombrosamente branco, tão branco que o deixava enjoado, tão enjoado quando Natália, sua namorada a seis meses, que agora estava grávida, de um filho...Dele.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Meia-noite



Minha pele se arrepia quando o relógio soa.
É a hora em que tudo o que é mórbido desperta.
Posso sentir o hálito gélido roçando minha pele.
As mãos mortas acariciando lentamente o meu corpo.

Eu jamais lhe contarei a sensação.
Que se tem quando se vive entre as tumbas.
Sentindo a caricia de caveiras elevando-se sob seu corpo..
É estranho e profano dançar entre túmulos.

Mas entre eles me sinto livre.
Tudo acaba quando eu quiser.
Ou num amanhecer repleto de pecado.
Que lança por terra todos os meus amores.

É a destruição de minhas fábulas.
Despertando a guerra interior que me nutre.
Gritando injurias ao mundo.
Cobiçando o passado.

Siga-me agora e deleite-se comigo.
Ou espere sua vida findar-se em um sopro.
De qualquer forma, terei seu coração como alimento.
Quando a meia-noite soar.

domingo, 15 de abril de 2012

Aniversário do blog

Sim, o Blog faz hoje - 15 de Abril de 2012 - 1 ano de existência, e, sinceramente eu nunca pensei que gostaria tanto de manter um blog para postar meus textos. 
Ter o Blog sem duvidas me ajudou a não desistir da minha escrita e alimentar minha criatividade cada vez mais, e, devo admitir com pesar na consciência, que não sei muito o que escrever aqui, o que, para alguém que já postou aproximadamente 40 poemas, 5 contos, 1 crônica e 4 textos - que eu não soube como classificar -  é um pouco estranho.
Na verdade não acredito que exista muito a se dizer, só quero mesmo agradecer a todos os seguidores, parceiros, amigos, leitores e etc. que estiveram comigo me ajudando, dando força, lendo meus trabalhos, corrigindo...Etc.
Sinceramente o Blog é um dos meus únicos projetos que não desisti - e nem pretendo.
Devo admitir que parte disso é porque essas linhas que escrevo, são, sem duvida, uma parte importante de mim, é uma honra saber que alguém lê essas singelas Linhas Incertas que escrevo e que realmente são  muito incertas, já que ainda tenho muito a aprender - e sempre terei -  pois a escrita não possui um final, um momento em que você pode dizer "Certo, agora sei tudo, não preciso aprender mais nada". Quem diz isso - na minha humilde - opinião é um tolo, ou simplesmente cheio demais de si mesmo para admitir que por mais que ele tente, ele nunca saberá tudo. Acho que esse é um dos maiores atrativos da escrita.
Enfim...


Discurso de seiláoque na continuação da postagem, logo, se você não quer ler, não clique em continuar lendo, apesar de que, se você optar por ler mesmo assim, me deixará feliz.

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terça-feira, 10 de abril de 2012

Recomendação

Prezados leitores, gostaria de lhes agradecer por lerem e acessarem meu blog, onde compartilho um pouco de mim e nada de mim a cada postagem, hoje, gostaria de lhes recomendar um site muito bacana, pra quem gosta de LitFan, A irmandade (airmandade.net). Nesse site acontecem, a cada 3 meses, aproximadamente, um desafio literário, sem fins lucrativos, como tudo mais no site, em que vários escritores tem a oportunidade de participar, esse mês ocorreu o 4º Desafio, que tinha como tema o fantástico e o histórico, na votação, por motivos óbvios, só aqueles que participaram do desafio podem votar. Existem diversos textos maravilhosos, recheados com o universo fantástico, vale a pena conferir.
LINK do desafio com todos os textos participantes: http://www.airmandade.net/desafio-literario/4o-desafio-marco2012.html

Impulso lunar



Os olhos que fitam a lua cheia.
São os mesmos que me despem nas noites sem luar.
Os lábios que uivam na nevoa.
São os mesmos que me beijam durante o dia.
O nariz que sente o cheiro de sangue.
É o mesmo que outrora sentira o meu perfume.
O corpo que deseja minha carne.
Já desejou meu corpo.

***

Meu namorado é um demônio da noite, uma besta soturna que mata e sente prazer com isso, entrando em êxtase com o despedaçar da carne sob suas patas e presas,  os gritos estridentes de dor que ressoam enquanto ele se banqueteia em sua luxuria.

Ele um dia já tentou se controlar, domesticar a selvageria da fera que vive em seu interior - tão mais forte e poderosa que dos homens comuns - para não ser mais como é: um monstro da noite, sem coração ou alma. Mas ele não pôde, ele jamais poderia mudar quem, ou o que, é. Assim como eu também não pude.

A besta que corre dentro dele, gemendo por sangue, clamando por morte, é a mesma que nada pelo corpo, sua sede é tão forte que machuca, numa dor física que só é saciada pela caça.

E a carne fresca entre os dentes acompanhada dos gritos, são o que me impulsionam, pois quando a lua brilha no céu, cheia e poderosa, o prazer é tudo, a vontade é o que manda, o instinto é o que importa. A tradição deve sempre prevalecer.

E o sexo após a transmutação para a forma humana, ainda banhados com o sangue da vitima, é infernal, meu corpo queima de desejo e vontade de mais enquanto ele me penetra coberto de sangue e morte, derramando vida dentro de mim numa dança macabra e saborosa, em que o sangue escorre por toda nossa pele e seu gosto se propaga por nós.

Neste momento somos dois animais em pele humana comemorando a vitória do mais forte –que somos nós – a matança que é doce e para nós é vista como uma arte que devemos aperfeiçoar cada vez mais.

Meu namorado é uma besta que reside na noite e geme pela lua cheia enquanto o satisfaço, porque de fato, também sou uma criatura da noite que adoraria arrancar a sua pele e comer seu coração lentamente, degustando pedaço por pedaço, enquanto você grita de horror, numa histeria lúgubre que me leva ao orgasmo.

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