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quinta-feira, 29 de setembro de 2011


Ouço a chuva lá fora, seu tamborilar no meu telhado.
O cheiro de ferro velho preenche meu ser.
Em minhas mãos a essência de uma vida.
A minha.

O sangue pulsa, bombeando-se para fora de mim.
Leva consigo toda e qualquer dor.
Deixando-me somente as memoria.
Memorias de um eu que se esvai com a água da chuva.

Lavando-me a alma.
Retirando as fuligens do que foi.
Contemplando aquilo que me restou.
Depois de lhe dar tudo aquilo que era eu.

Tanto dei, que pouco restou.
E minhas esperanças quebraram como vidro.
E o cristal em mim se foi.
Como vaso refeito com cola vivo, mas as rachaduras jamais somem.

E pulsa, meu coração pulsa.
De dentro do baú de prata em que o coloquei.
Através do cadeado de ouro que o encerra.
Para sempre seguro de sua própria dor. 


domingo, 18 de setembro de 2011

Tatuagens do Amor (Parte IV)


São Paulo, Dezembro de 2011

Ele sorria candidamente em meio aos espasmos que dominavam seu corpo, aparentemente feliz, mas a boca de Anthony abria-se em pequenos sussurros que vazavam de sua alma, a lembrança de um passado que nunca pode aceitar e esquecer, porque foi algo que ele não pode impedir e nem prever. Ele não pôde fazer nada para corrigir...
Rio de Janeiro, Dezembro de 2000.

A cama ainda estava desarrumada, os travesseiros amassados e o chuveiro ligado quando Alice voltou com o café da manhã, era costume dos dois revezarem a cada dia, quem traria o café da manhã, assim adiantavam o banho e podiam tomar café juntos. Desde que eles se casaram estabeleceram uma rotina simples e satisfatória.
_Anthony, café tá pronto – disse ela sentando-se na cama dossel do casal, cruzando as pernas e deixando suas formas bem definidas a mostra pela abertura do roupão enquanto esperava por ele.
Poucos segundos Anthony sai do chuveiro e se depara com ela com um olhar perdido, ele se aproxima enxugando os cabelos e a beija delicadamente.
_Bom dia!
_Oi – responde ela puxando-o para um abraço apertado e beijando-o.
_Não faça isso, é tortura, temos que trabalhar, você sabe.
_Porque não faltamos hoje? – pergunta ela insinuante.
_Porque não podemos, eu tenho reunião hoje a tarde.
_Droga – disse ela fazendo beicinho – se é assim, vamos tomar nosso café antes que esfrie, depois você se veste, coloque o roupão vermelho.
_Onde está?
_Atrás da porta – respondeu ela rindo de sua grande cabeça oca.
Anthony vestiu o roupão e eles desceram lado a lado pra cozinha e tomaram um café da manhã tranquilo e feliz, como sempre. Algo parecia incomodar Alice, ele podia ver em seus olhos o lampejo de algo, mas ele não sabia o que, e quando ele perguntou ela disse que não era nada.
_Até mais tarde amor, amo você – disse ele segurando-a pela cintura para beija-la.
O beijo foi doce e com um gosto estranho de despedida que o deixou novamente preocupado, mas ele resolveu deixar de lado, deveria ser coisa de sua cabeça.


Você.


Não existem mais disputas.
As chances acabaram.
Desista e suma.
É a derrota, nua e crua.
Você deve aceita-la.
Porque não há mais nada a fazer.
As palavras perderam-se na bruma enquanto você chorava.
E teu coração se foi, junto ás lágrimas que sua alma derramou.
Você precisa aceitar.
Porque não há nada a fazer.
Você simplesmente perdeu uma batalha que nunca poderia vencer.
Nunca dependeu de você.
Você vai ter que entender.
Acabou.
Tudo que você queria escapou por seus dedos como o sangue que se esvai.
E não há nada que possa concertar.
Você ficará bem.
É tudo que posso te dizer.
Não há garantias.
Somente o vazio.
Você não sabe que rumo tomar.
Porque você não entende como pôde ser tão idiota.
Deixar-se levar assim, tão facilmente.
E tudo o que você vê é um abismo.
Não há nada a fazer.
Pois você não é nada.
E o vazio é tudo.


sábado, 17 de setembro de 2011

Elo partido

No quarto, moveis bagunçados.
Na mesa, uma caneta quebrada.
No papel, uma gota de sangue.
Na noite, um lamento de dor.

E meus pés descalços sangram pelos espinhos.
Deixando pegadas ensanguentadas sob meu passado.
Meu corpo cansado desaba.
E através de minha vista embaçada vejo.

Tua silhueta recortada pelo brilho da lua.
Teus soluços chegam a mim como adagas frias.
E teus olhos me fuzilam como tiros de metralhadora.
Matando-me a cada lágrima.

Quisera eu poder fugir.
Voltar ao passado e impedir aquilo que foi feito.
O elo quebrado que não pode ser restituído.
E na noite meu sangue retumba com o sal de tuas lágrimas.

Na cama, os lençóis negros manchados de vermelho.
No travesseiro, o gosto de sal permanece.
Na casa, o perfume que não se extingue.
No cemitério, as vitimas de um engano.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Lacuna


Mil lacunas se alastram por minha mente.
Como ácido que derrete tudo em que toca.
Minhas memorias se perdem nas lacunas de mim.
E eu já não me lembro quem sou.

Mil linhas se desenrolam.
Elas se cruzam entre si.
Coloridas...Cinzentas...Brilhantes...
Qual delas é a minha?

Mil sonhos rastejam por minha retina.
Como vermes, eles me atormentam.
Pois neles vejo que falta algo.
Algo que sempre faltou.

Mil vezes me amaldiçoo enquanto os novelos se desenrolam pelo chão.
E eu já não sei como me remendar.
Porque tudo de que me lembro é um grande vazio.
Um vazio que era eu, que sou eu.

Mil acasos me distraem enquanto incessantemente procuro as peças .
As peças de um quebra-cabeça que é só meu.
E a cada peça que recoloco em mim.
Sinto-me mais eu, menos indigente.

Mil lágrimas derramarei pelos pedaços que jamais reencontrarei.
Pois na lacuna brumosa de minha memória.
Eu já não sei quem sou.
E talvez, nunca saiba.

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