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quarta-feira, 6 de maio de 2015

A Fugidia Poesia



A poesia me escapa;
Por entre os dedos como a água da nascente pura;
Por entre os lábios entreabertos em suspiros densos;
Pelo suor que escorre por minhas costas nuas.

A poesia me foge e não sei como pegá-la de volta;
Como uma borboleta serelepe;
Ela flutua sobre minha cabeça, rodeando-me;
Mas sempre desvanece quando meus dedos a tocam.

A poesia foge.
Corre faceira por entre os campos e campinas.
Onde com a vista embaçada vejo-a ao pôr do sol.
Docemente sentada na relva, mas como miragem, some quando me achego.

A fugidia poesia flutua no vento;
Como folhas secas no outono a serem levadas ao acaso.
Suas cores anunciam o inverno soturno.
E me preocupo como poderei viver sem a poesia a acalentar-me nas horas frias.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Conto: À espera



Todos os dias eu aguardo ansiosamente pelo seu retorno sentada no sofá. Os olhos fixos no televisor, esperando ouvir ao longe o som de passos conhecidos a se aproximar na calçada. O tempo não existe, há somente a espera que parece não ter fim e a ansiedade agonizante.
Na escada ouço um barulho que me desperta do transe.
- Mamãe?
- Oi querido – respondo rapidamente me levantando e indo vê-lo.
Sinto-me endurecida, como uma máquina enferrujada. O coração pesado a bater no peito – O que foi? Teve um sonho ruim? – Pergunto pegando-o nos braços. Meu pequeno tesouro.
Com um aceno de cabeça ele confirma. Seus olhinhos pequenos inchados de sono, os cabelos dourados bagunçados como os do pai.
- Ah venha aqui. Mamãe vai espantar o sonho feio com muitos e muitos beijos e abraços – digo começando a beijar-lhe a face pequena e redonda e a abraçá-lo repetidas vezes.
- Vai ficar tudo bem. A mamãe está aqui – repito enquanto o carrego para o quarto. Na cama ao lado sua irmã dorme despreocupada. Com cuidado coloco-o na sua e cubro-o cuidadosamente.
- Quer que a mamãe fique aqui até você dormir? – Pergunto afastando os cabelos de sua testa.
- Uhum.
- Está bem. Então feche os olhinhos e durma bem. Vou ficar aqui.
Ele fecha os olhos languidamente, mas somente para abrir de novo, segundos depois, com uma expressão preocupada a tomar-lhe a face inocente.
- Papai ainda não chegou?
- Não... Mas não se preocupe, vai ficar tudo bem. Papai é forte, lembra?
Ele concorda com um sorriso tímido, fecha os olhos e com o rosto tranquilo adormece quase imediatamente.


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

CRÔNICAS: MEMÓRIA II

A vida e o Nada


Imagem de: VikkiGothAngel

Hoje, tudo o que me resta são as memórias que se perdem na bruma de um tempo que se foi e a brisa gélida perfumada de jasmins, nessa noite pálida de lua cheia, carregará consigo o meu último e cansado suspiro. As flores negras que banhadas da prata luz lunar, possuem um brilho etéreo e difuso, já não sei a que mundo pertenço e se tudo não passa de uma ilusão. Mas se em meu corpo ainda há o sopro então serão elas as únicas a velarem por minha carne decomposta, as testemunhas lúgubres do banquete dos corvos. Pois não há nada, não há ninguém, somente o vazio e o abandono permanecem.
Em minha garganta um nó se forma ao fitar ao longe o balanço que se move fantasmagoricamente, suas correntes enferrujadas a ranger sonoramente no silêncio mórbido da noite – sinto que quase posso ver como em um filme as  lembranças se desenrolarem diante de meus olhos... Foram tantos  momentos naquele mesmo cenário e os sonhos e esperanças que nutríramos naquele tempo, os amores que jurei levar ao túmulo, qual eram afinal? Não sei...
E o sorriso doce que vazava de nossos lábios sempre que brincávamos naquele balanço rústico, onde foi parar?
Com esforço sei que poderei reviver tudo aquilo em minha mente, todos os risos e choros, e o abraço cálido de minha irmã, quase consigo sentir o cheiro de morangos no vento - para mim esse sempre seria o cheiro dela – a escapar de seus lisos fios negros enquanto me dizia que seríamos inseparáveis, “mesmo quando fossemos duas velhas feias e enrugadas, com cara de chuchu passado, igual a vovó”.


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Legado



Gritando pelos sonhos que não tive
Amaldiçoo os ventos que me trouxeram
Os desígnios de um destino vil
Repleto de ocultos segredos macabros

Esse nunca foi o mundo que desejei
E a chuva fria já não lava o sangue que jorra
Gélido e mórbido
De um passado negro e perverso

A fonte de todo o mal que me possui
Fluindo lentamente pelo tempo
Ascendendo nas horas mortas
Nos pensamentos adormecidos

Era a treva da minha alvorada
Devorando minha carne e alma
Corrompendo tudo o que era eu
Sugando a vida que existia em mim

Eu não podia fugir ao pesadelo que me ninava
E as noites pérfidas que me abraçavam com dedos de aço
Era o legado que me foi deixado
Uma vida morta e suja, assassinato.



segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A última gota

Imagem by: White Winged
Confira o trabalho dela no link acima.

Quero sorver até a última gota
Desse cálice agridoce
Quero deliciar-me com a Sua obra e encantar-me
Encantar-me com as maravilhas de Sua criação

Dançar nas noites mornas
e sentir a brisa deslizar por sobre a pele
Cantar aos céus e louvar a Sua obra
Sentindo o mundo a respirar lentamente

Quero embebedar-me de vida
e delirar alegremente sobre os dias que se foram
roubados pelas nevoas do tempo e
sonhar com aqueles que nunca existiram

Olhar nos álbuns de fotos e sentir no peito
Um aperto doloroso de saudade
E deixar nos lábios um sorriso brincar
Acompanhado de uma pequena prece
“obrigada por essas dádivas”


segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Saudade


(Não sei a quem pertence essa imagem, se alguém souber, me avise)



Navegando por águas inavegáveis
Recortando as espumas e dançando sobre as ondas
Vinha o meu sonho, meu canto, minha prece
A doce aurora das trevas do meu fado

Rasgando os mares com dedos de ferro
Ao som da harmonia diabólica de nereidas pérfidas
Seus clamores a ecoar pelas águas salinas
O meu encanto fez-se forte

Balançando em trevas e trovões
Na noite negra em que revolto o mar urrava
O hálito pútrido de Kraken lhe chegava aos flancos
Oh pálido sonho que me embalava

Sacolejando em meio ao amanhecer
Com gotas de diamantes e rubis a pingar-lhe no casco
No mastro uma bandeira negra
Em meu peito uma flâmula vermelha

Correndo em direção as ondas que quebravam espumosas
Esperei afogando-me em ansiedade
O meu desejo soprado aos céus
Materializar-se em meio ao azul infinito

Sorrindo extasiada à beira mar
Eu vi surgir um barco a remo
E nele vi meu amado a sorrir-me cansado
Seus olhos cansados, meu Oasis ansiado.


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

AMOR ÉBRIO


Imagem pertencente a: Naomii


A taça sempre cheia e transbordando
Os sorrisos a dançar nas noites efervescentes
Irmandades eternas que nunca duram
Vultosos seres que desvanecem na aurora

As luzes psicodélicas rasgando a escuridão em flashes
No mundo encantado em que tudo se esquece
A Alice e a Rainha devoram-se enfeitiçadas
Embaladas pelo balanço alucinado de Eutérpe

Os beijos quentes de amores evanescentes
Ébrios sonhos que surgem na névoa difusa
Na prata noite de Baco
Que com dedos róseos, a aurora extingue.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Indescritível





O doce elixir que lhe melava os lábios rubros
As faces rosadas que brilhavam afoitas
No bruxulear das velas cálidas que recaiam
Sobre teu corpo tremulo que ia e vinha no balanço da brisa

A música primitiva que retumbava em nossos seres
O bombear dos corações em uníssono
Bailando a canção que os corpos sabem
E pela qual as almas clamam nas noites longas

Os lábios entreabertos
Os gemidos ecoando e ascendendo a imensidão da noite
Buscando manifestar o indescritível
Preencher-se de plenitude e gritar ao infinito

Amazona das horas mortas a cavalgar em direção ao céu
Subindo e descendo sob a terra dos homens
E recebendo-me por inteiro em si
Com um doce abraço que me preenchia
  

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Quebre o Gelo

Imagem retirada do Google Imagens, não consegui identificar o autor.



Quebre o gelo, beba uma bebida, sorria. 
Dance noite afora, tire fotos e compartilhe seu gozo.
 Faça amigos eternos de uma noite. 
Acorde com um estranho. 

Entorpeça-se desesperadamente. 
Maqueie o vazio com álcool. 
Festeje o seu terror. 
Emudeça o medo. 

Trague lentamente um cigarro.
 Assista a fumaça ser engolida pela bruma. 
Morra aos poucos e repentinamente.
 Acalme o grito que clama em sua alma. 

Absorva o fracasso do dia-à-dia. 
Beije a morbidez do que lhe restou. 
Abrace o caos. 
Dispa-se de quem se é. 

Corra contra o tempo e o encontre no percurso.
 Dando voltas ao seu redor e rindo. 
O tic-tac ensurdecedor vibrando em seus ouvidos.
 Bio-ló-gi-ca-men-te uma bomba. 

Olhe por sobre os ombros.
 Vislumbre o que ficou e perceba.
 Que as folhas do outono já se foram. 
E o inverno virá a galope.

Crônica: Seus silêncios



]
Imagem do Anime NANA - Ai Yazawa.


Os dias passaram rápida e preguiçosamente e o perfume das jasmins primaveris perdeu-se no cheiro ocre de suor daquele verão em que eu a perdi. 
Não posso dizer que foi de forma repentina ou mesmo injusta, os sinais estavam lá, no sorriso triste com que ela me brindava sempre que eu dizia algo referindo-me a nós no futuro. E a forma dura com que seu corpo se moldava ao meu sem paixão e calor, somente motivado pelo costume, uma espécie de sentimento de obrigação para com o outro após anos de cumplicidade e familiaridade, é compreensível e completamente normal se sentir assim, por vezes inclusive me questiono sobre o quão difícil foi para ela tomar essa decisão. E quando penso que a infelicidade estava estampada em seu ser, não deixo de me sentir culpado, me questionando se fui eu o motivo daquele sofrimento, se a minha existência causou aquela dor profunda e silenciosamente gritante em seus olhos. 
As vezes penso que sou muito passivo e muitas vezes já me senti como um peixe que segue o fluxo do rio. Não que eu não questione as coisas, ou faça escolhas medindo suas conseqüências, eu simplesmente não tenho planos ou objetivos, a vida me carrega em seu fluxo interminável. Me pergunto se isso é errado ou uma falha de caráter. 
Nesse momento todos parecem ter medo que eu comece a chorar ou tenha uma crise a qualquer momento. 
Não consigo entender tal preocupação, será que por ter sido largado eu deveria desmoronar? É isso que a sociedade e suas etiquetas morais ridículas espera de mim? Terei sido presenteado com o rótulo de “perdedor” simplesmente por ter “perdido” um amor? 
A verdade é que não me sinto mal, talvez seja letargia e em breve eu tenha alguma crise psicótica e me atire de algum prédio deixando para trás somente a minha ausência e um bom whisky. 
Infelizmente para alguns, não pensa que isso venha a ocorrer. Em verdade, nem mesmo sei porque ainda estávamos juntos, o motivo de nosso relacionamento ter perdurado me é desconhecido. A meu ver as pessoas falam demais de amor. É amor pra cá, amor pra lá e ele justifica tudo. Porém, será que elas sequer sabem o que é o amor?  
Sei que paixão queima por dentro, nubla a mente e dá um tesão da porra, mas e o amor? Qual é a dele afinal? 
Talvez o fato de eu não saber essa resposta seja toda a resposta que eu precisava e o problema seja mesmo a minha incapacidade de realmente me importar com algo de forma fervorosa e com toda a força do meu ser alquebrado. 
E seus silêncios tenham sido os gritos mais estridentes que eu me recusei a ouvir.

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