Os dias passaram rápida e preguiçosamente e o perfume das jasmins primaveris perdeu-se no cheiro ocre de suor daquele verão em que eu a perdi.
Não posso dizer que foi de forma repentina ou mesmo injusta, os sinais estavam lá, no sorriso triste com que ela me brindava sempre que eu dizia algo referindo-me a nós no futuro. E a forma dura com que seu corpo se moldava ao meu sem paixão e calor, somente motivado pelo costume, uma espécie de sentimento de obrigação para com o outro após anos de cumplicidade e familiaridade, é compreensível e completamente normal se sentir assim, por vezes inclusive me questiono sobre o quão difícil foi para ela tomar essa decisão. E quando penso que a infelicidade estava estampada em seu ser, não deixo de me sentir culpado, me questionando se fui eu o motivo daquele sofrimento, se a minha existência causou aquela dor profunda e silenciosamente gritante em seus olhos.
As vezes penso que sou muito passivo e muitas vezes já me senti como um peixe que segue o fluxo do rio. Não que eu não questione as coisas, ou faça escolhas medindo suas conseqüências, eu simplesmente não tenho planos ou objetivos, a vida me carrega em seu fluxo interminável. Me pergunto se isso é errado ou uma falha de caráter.
Nesse momento todos parecem ter medo que eu comece a chorar ou tenha uma crise a qualquer momento.
Não consigo entender tal preocupação, será que por ter sido largado eu deveria desmoronar? É isso que a sociedade e suas etiquetas morais ridículas espera de mim? Terei sido presenteado com o rótulo de “perdedor” simplesmente por ter “perdido” um amor?
A verdade é que não me sinto mal, talvez seja letargia e em breve eu tenha alguma crise psicótica e me atire de algum prédio deixando para trás somente a minha ausência e um bom whisky.
Infelizmente para alguns, não pensa que isso venha a ocorrer. Em verdade, nem mesmo sei porque ainda estávamos juntos, o motivo de nosso relacionamento ter perdurado me é desconhecido. A meu ver as pessoas falam demais de amor. É amor pra cá, amor pra lá e ele justifica tudo. Porém, será que elas sequer sabem o que é o amor?
Sei que paixão queima por dentro, nubla a mente e dá um tesão da porra, mas e o amor? Qual é a dele afinal?
Talvez o fato de eu não saber essa resposta seja toda a resposta que eu precisava e o problema seja mesmo a minha incapacidade de realmente me importar com algo de forma fervorosa e com toda a força do meu ser alquebrado.
E seus silêncios tenham sido os gritos mais estridentes que eu me recusei a ouvir.
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