De certa forma eu estava certa, sobre a importância que aquele reencontro teria sobre minha vida, mas acho que nem em
meus sonhos mais bizarros - em que unicórnios de crinas coloridas e
fosforescentes atravessam o ar como grandes Pégasos de asas alvas... – eu
poderia ter imaginado como esse conto se desenrolaria.
Naquele tempo eu contava com meus 20 e tantos anos e cursava a faculdade,
o mundo abria-se diante de mim, alargando meus horizontes e concedendo-me novas
perspectivas. Obviamente isso também influenciava em minha personalidade, ao
mesmo tempo em que a enxurrada de conhecimento que se derramava sobre minha
consciência era boa, era também desnorteante.
Havia momentos em que
eu não sabia mais dizer quem eu realmente era, algumas vezes, ao cometer erros
- coisas que eu julgara nunca ser capaz de fazer – postava-me em frente ao
grande espelho que havia em meu quarto, nua e despida de todas as máscaras
sociais e camadas de tecidos que me obscureciam de meus próprios olho. Fitando
aquele ser, aquela jovem mulher, que mirava de volta eu não me
reconhecia, não conseguia entender para onde haviam ido os meus princípios,
fortemente lapidados na infância. Assim como também não podia encontrar a
determinação daqueles que seguem os sonhos até as ultimas consequências
naqueles olhos verdes que pareciam tão brilhantes, e ao mesmo tempo tão vazios.
Nesses momentos eu me
sentia um lixo humano, um ser sem vontades, como uma pequena árvore, de tronco
tão fino e singelo, que qualquer brisa poderia submetê-la sob sua vontade.
Não me leve a mal
quando digo isso e não pense nem por um segundo que considero o conhecimento
algo ruim. Acredito piamente que o conhecimento que adquirimos em nossa fugaz
existente, seja, de fato, uma das únicas coisas que realmente nos pertencem e
que ninguém pode nos tirar, permanecem conosco até a hora de nossa morte,
talvez até além dela, quem sabe...
Mas de qualquer
forma, como ia dizendo, o conhecimento é uma dádiva, mas ele também nos leva a
refletir, o que causa desconforto, porque raramente gostamos de descobrir que
estávamos errados, ou que tudo o que conhecemos é pautado em mentiras... Coisas
desse tipo nos deixam confusos, e quando isso acontece em momentos que não nos
sentimos bem com as nossas crenças... Bom, pode ser complicado. No meu caso foi
exatamente isso que aconteceu.
Olhando para
aquele tempo, da perspectiva que tenho hoje, não me julgo uma pessoa menos
inteligente ou capaz pelo que aconteceu, sei, que foi simplesmente natural que
eu me perdesse em meio aos diversos caminhos e escolhas que se estendiam diante
de mim. Pois aos 21 anos eu tinha plena convicção de minhas habilidades e
acreditava que poderia ser o que eu quisesse, se realmente tentasse com
afinco... O problema é que o “ser o quiser” é ilimitado demais e quando não se
tem limites, ou um ponto fixo em que se basear isso pode ser desnorteante.
Imagine que você está
em uma sorveteria que possui diversos sabores de sorvete a venda, como saber
qual o seu preferido sem ter provado todos? Algumas vezes, por sabermos de
nossas preferências, por chocolate, por exemplo, escolhemos sabores que são
variações do típico chocolate, mas em muitas outras ocasiões permanecemos
parados em frente ao freezer (sei lá se é freezer aquilo), e a dúvida nos
assoma, não conseguimos decidir qual sabor de sorvete levar em meio a tantas
opções. Agora, se fazer essa escolha com o sorvete já é difícil, imagina ter
que escolher, entre tantas opções disponíveis, qual faculdade fazer, quem
namorar... E etc. São escolhas que definem nosso futuro.
Quando escolhi o
curso que faria, não tive muitas dificuldades e nem problematizei muito a
questão. Simplesmente optei por um que tinha algo que sempre gostei. Esse é o
tipo de pessoa que sou; um peixe que nada de acordo com a corrente. Mas não no
sentido de seguir o fluxo e sim de ir aproveitando as oportunidades que a vida
me dava sem problematizar muito a questão, porque acabei percebendo, que sempre
que ficava pensando e repensando minhas ações, a coisa toda ficava por isso
mesmo.
Não que eu fosse o
tipo de garota “porra louca” que saia fazendo merda pelo caminho sem pensar nas
consequências, completamente o contrário; sempre fui muito responsável,
acredito que até demais. No âmbito pessoal eu sempre pensei muito. O problema
era no aspecto profissional, no qual eu não sabia direito o que queria, a única
certeza que tinha nesse aspecto era que queria publicar um livro, mas eu também
não sabia se um dia conseguiria e nem como faria isso acontecer, era um sonho
distante, não um objetivo.
Quando reencontrei
Vinicius, senti como se tivesse a chance de mudar o passado. Como se a coisa
mais errada que eu havia feito até aquele momento fosse ter terminado com ele -
o que não é verdade – e estar com ele de novo de alguma forma pudesse
trazer de volta aquela inocência doce e prazerosa que eu sentia naquela época.
Na verdade, acho que eu queria me sentir livre e pura novamente, sem
responsabilidades, sem medos e aflições e uma dúzia de fracassos na estante
onde deveriam estar os troféus, que era como eu me sentia na época em que eu o
havia conhecido.
Obviamente isso não
tinha chance alguma de dar certo, ao menos não comigo com a cabeça
completamente voltada para o passado quando deveria focar totalmente no
presente.
Minha vida estava uma
bagunça, como sempre, e deixar Vinicius voltar para ela sem antes tirar o pó
dos móveis e de mim, foi errado de minha parte, mas em minha defesa, não foi
premeditado, simplesmente aconteceu, quando percebi havíamos jantado várias
vezes e a química que só crescia a cada encontro transformou-se em um material
inflamável e acabou por entrar em ebulição em meu quarto, com direito a roupas
lançadas para todo lado e meu cachorro latindo do lado de fora da porta.
Depois disso as
coisas simplesmente continuaram a fluir, até porque nos dávamos muito bem,
quase não discutíamos e adorávamos ir ao cinema ou ao paintball nos finais de
semana. Só havia um problema, ambos tínhamos medo de aprofundar a relação. Tudo
ia rápido demais e nós só desejávamos que as coisas continuassem como estavam,
sem preocupações com: apresentar para as famílias, mudar os status do Facebook
de solteiro para em um relacionamento sério, traições, compromissos e etc. Só
queríamos aproveitar o prazer da companhia um do outro.
Mas obviamente chegou
um momento em que isso não deu mais certo e o ciúmes e a insegurança começaram
a surgir. Admito que grande parte das brigas que começaram a surgir foram minha
culpa, já que, como disse antes, minha vida estava uma bagunça.
Sabe como todas as
frases se organizam? Com vírgulas, ponto e vírgulas e pontos finais? Pois bem,
a minha vida era repleta de vírgulas, frases que eu já deveria ter concluído,
capítulos que eu já deveria ter encerrado, mas que sempre acabavam voltando pra
me assombrar. E foi exatamente o que aconteceu.
Apesar de me
considerar uma pessoa razoavelmente positiva, em alguns momentos eu tendo a me
lembrar das coisas ruins que já me aconteceram e me sinto péssima, quando isso
acontece eu fico com raiva e magoada, e me lembro de quão amargo é o sabor da
decepção, quando isso acontece eu acabo querendo me trancar em um casco de tartaruga
sentimental e ficar lá dentro, observando a tudo de forma indiferente, para que
ninguém mais possa me atingir.
Eu claramente tenho
consciência de que isso é patético, mas, cada um com seus problemas, esse era
um dos jeitos que eu encontrava para seguir minha vida, que é o que todos
fazemos ao final: seguimos em frente, independente do que aconteça.
Em dado momento eu
passei a ter tanto medo de perdê-lo que me transformei em uma megera ciumenta e
má que tratava ele de forma cruel, além de persegui-lo com mensagens o tempo
todo querendo saber cada passo dele. Quem aguentaria algo assim? Ninguém.
O problema é que em
minha vida de fracassos sentimentais eu adquiri um senso de "ninguém
é confiável muito forte o que uso como justificativa (pobre),
para minhas reações patéticas em meus relacionamentos, pois apesar de
filosoficamente falando entender várias teorias, conhecer o enredo de diversos
livros inteiros e etc. emocionalmente eu era uma espécie de criança. Claro
que a culpa do relacionamento não ter dado certo não é completamente minha,
Vinicius também tinha a sua parcela de culpa.
Porém, esse meu
desespero injustificado desencadeou uma reação em cadeia: eu cada vez mais
insegura (o que me deixa meio pirada) e ele cada vez mais disperso e distante.
O que gerou o que podemos chamar de: "começo do fim". O fato que mais
me magoa é que estraguei tudo simplesmente por não ter a paciência
necessária para deixar as coisas acertarem-se, e acabei estragando algo que, no
tempo certo, provavelmente seria meu. E mesmo que não fosse, teria sido
divertido enquanto durasse.
Logo, a situação
ficou inviável, aquele desespero todo estava me matando aos poucos, eu não
conseguia mais dormir direito, passava noites acordada com as minhas neuroses
infindáveis – que reconheço ser um dos meus grandes defeitos, mas não consigo
livrar-me delas – então, fiz o que sempre faço: saltei daquele barco chamado
relacionamento em busca de novas aventuras, como um capitão abandonando o navio
diante do possível naufrágio – Capitão Jack Sparrow se envergonharia de mim.
Com isso consegui inserir mais uma vírgula nesse romance sem rascunhos que
chamamos de vida.
De certa forma os
relacionamentos amorosos podem ser comparados com um grande jogo de xadrez,
jogo esse que naquele momento eu não dominava. Talvez o meu excesso de
sinceridade fosse um dos motivos para isso.
A pior parte era que
eu transformara um assunto que antes estava encerrado, em uma vírgula que
provavelmente me traria problemas no futuro. E apesar de a essa altura do
campeonato ter plena convicção que deveria organizar as coisas na minha vida
antes de permitir que qualquer outra pessoa entrasse nela, saber e fazer são
duas coisas diferentes e, por isso, as merdas não pararam por ai, e meu casco
de tartaruga sentimental, ficou ainda mais pesado.
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