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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Minha Vênus

Imagem pertencente a Nathalia Suellen!


Deitada sobre a negritude da hora dos mortos.
A minha ninfa perversa encantava os ponteiros.
E o tempo fugidio dançava sobre o balanço.
De seu esguio corpo divino.

Fruto de pecado que me tomou por inteiro.
Na agridoce sensação de uma harmonia cósmica.
Flutuando nas agruras que corroem os homens.
Eu mergulhei.

Ninfa amaldiçoada, Vênus de meus sonhos.
De seus lábios a seiva da imensidão eu provei.
A completude de uma taça cheia.

O Um que só ao seu lado fui.

sábado, 29 de março de 2014

O Ritual


Imagem pertencente a: Nathalia Suellen




Os sussurros e gemidos que escapavam daqueles lábios rubros e obscenamente belos, rasgavam a noite como adagas afiadas dilacerariam a frágil carne de um corpo. Eles eram como um mantra, um ritual de depravação e decadência que conspurcava o local em que outrora uma alma pura dera seu último e ínfimo suspiro.


Os cabelos dela eram como milhares de grãos de trigo desfiados em longos fios, e a luz do luar que incidia sobre ela tornava-os transcendentais e platinados, e sua pele branca reluzia palidamente conferindo a ela o ar etéreo daqueles que não pertencem a esse mundo.


Com um fraco para a teatralidade, vestia uma roupa digna das noivas de Drácula. Um vestido que se fundia com a noite e revolvia em torno de seus pés com a brisa de outono que bailava em uma sinfonia fúnebre. Diferente de outros tempos, os olhos azuis de Ermina eram opacos e pareciam trazer a tona a morbidez do próprio tártaro purgatorial.


Suas mãos seguravam firmemente um cálice redondo e prateado elevando-o acima de sua pálida tez, como se o reverenciasse enquanto entoava aquele canto maldito e perverso destinado a desafiar leis que humano nenhum deveria desafiar. Mas não havia dúvida no vocabulário de Ermina, a certeza sobre o que desejava era a única coisa certa em sua vida repleta de erros e fracassos. Ela precisava fazer isso, era o melhor que ela poderia fazer, um papel que somente ela, com sua paixão ilimitada, teria coragem de desempenhar.


Com um movimento suave, ela abaixou-se e pegou uma pequena caixinha de sapato, que abriu com cuidado reverencial e de lá tirou o que parecia ser um dedo médio em estado de avançada decomposição. Sorrindo de forma cândida ela levou aos lábios aquela coisa putrefata e beijou, um beijo cuidadoso e gentil - voltado ao mais doce dos amores - e colocou-o cuidadosamente dentro do cálice.


O tom de sua voz descia e subia em uma cadência ritmava que lembrava o som de tambores a vibrar pela noite. Ao mesmo tempo, com um gesto suave e exultante ela pegou de dentro do decote um pequeno frasco transparente, dentro dele um líquido espesso e vermelho e despejou-o no cálice.


Inicialmente, nada mudou e a noite continuou enluarada e tranquila, mas conforme o canto continuava – agora acompanhado de uma dança ritmada e eloqüente – e o ar pareceu parar, era como se o mundo prendesse a respiração enquanto aguardava o que viria a seguir naquele ritual demoníaco. Era como a calmaria que antecede uma tempestade gigantesca e no horizonte, nuvens negras começavam a surgir rapidamente, em pouco tempo a lua desapareceu, e a escuridão tomou conta de tudo. O próprio nada parecia estar personificado naquele bosque, e as luzes dos postes próximos pareciam ter desaparecido. Uma nova dimensão parecia ter-se aberto e engolfado tudo em seu ventre. Era o nada, o fim, o começo.


A voz dela cessou com um longo suspiro exausto e seu corpo em transe balançava como um pêndulo sobre seus pés, sem firmeza alguma, sua energia estava esgotada e com um último esforço, ela abriu os olhos novamente.


Uma única lágrima escapou de seus olhos quando notou o que havia feito. Com um sorriso nos lábios vermelhos, ela estendeu as mãos em direção àquilo que ela mais queria nesse mundo.


No chão uma pequena forma de pouco mais de um metro e meio de comprimento se encontrava enrolada em si mesma, seu corpo contraia-se em pequenos espasmos e baba branca escapava de seus pequenos lábios roxos. Seus olhos negros e nebulosos fixavam-se em Ermina, como se guiados por um fio invisível, sem ao menos piscar. Os cabelos, do mesmo tom dos de Ermina, caiam-lhe na fronte e cobriam-lhe o corte ensangüentado que lhe tirara a vida. Confusa, ela estendeu a mão tentando agarrar a mão que a fada da noite lhe estendia.


- Ermina. - O som de sua voz era seco e rouco, como se a muito não tivesse uso.


- Melina.


As mãos quase se tocavam agora, mas elas pareciam presas ao chão, duas criaturas tão parecidas e ao mesmo tempo tão diferentes.


- Senti tanto a sua falta – começou a mais velha das duas com a voz lastimosa – tanta... Tanta.


- Eu também.


- Nada mais é igual, eu sento sua ausência como se me tivessem tirado uma parte de meu próprio corpo...


- Não devia ter feito o que fez.


- Eu precisava! Eu não podia! Não podia suportar! Era... O fardo era demais para suportar! – seus punhos erguiam-se enquanto ela gesticulava freneticamente e gritava a todo fôlego.


Lágrimas de desespero borravam seu rosto maquiado de preto e tingia sua face do negro da morte.


- A morte não é o fim, Ermina. Você não deveria ter interferido nas leis do universo. Da ultima vez que foi imprudente as conseqüências foram graves...


- Não me importo! Com nada! Eu faria qualquer coisa por você! Destruiria o mundo todo, renegaria a tudo e a todos se pudesse te trazer de volta! Você é minha irmãzinha, não há nada que eu não faria por você, por você tudo é pouco! – gritou ela com a voz embargada pela emoção.


O choro de Ermina cortava a noite silenciosa e parada como o sussurro dos mortos na noite de Samhain. Eram como ruídos impertinentes, uma afronta a ordem cósmica.


- Deveria... Oh Ermina, porque sempre faz isso?


- Não! Não diga isso, não foi minha culpa!


A essa altura Melina se encontrava em pé de frente a Ermina, seu corpo possuía um tom doentio e roxo e seu vestido de cetim branco se encontrava carcomido em muitos pontos deixando a pele em estado de decomposição aparecer.


- Se não se sentisse culpada, não teria feito o que fez. Ermina, isso precisa parar.


- Eu só queria você de volta, porque me trata assim, irmã? Não me ama mais? Seu amor por mim foi-se junto com sua vida?


- Só não queria que tivesse feito o que fez, meu amor por você jamais mudará, por toda a eternidade será forte e belo, como sempre foi. Mas...


- Você jamais poderá me perdoar...


Com um suspiro, Melina abaixou a cabeça e pôs-se a chorar, os soluços que vazavam de sua garganta eram o som mais triste que já se ouviu na face da Terra.


- Pensei que você entenderia... Eu... Eu pensei que você soubesse que eu nunca magoaria você, que tudo o que fiz foi por amor.


- Mas o amor não justifica tudo e por causa do seu amor, minha vida acabou. Deixe-me descansar Ermina, não deveria ter mexido no que desconhece, você pagará por isso, só espero que o preço não seja alto demais.


- Que seja alto! Que seja infinito! Não me importo, quero morrer.


- Não diga isso, você não sabe quão triste é a morte, estar entre os véus insondáveis, isolada da vida terrena... Sozinha... Ah, a escuridão... É desesperadora...


- Queria poder trocar de lugar com você...


- Mas não pode. Não deve. Agora me deixe descansar, eu lhe imploro.


- Tão cedo... Tão jovem... – com um passo curto, ela aproximou-se da irmã e acariciou sua face gélida e fétida – Oh Deusa, por que!?


- Não culpe a Deusa por suas escolhas. Foi nossa vaidade que nos trouxe onde estamos hoje – Melina segurou as mãos da irmã e beijou-as.


- O preço foi alto demais...


- Mortais não devem mexer com os segredos dos deuses, há coisas que devem permanecer ocultas...


Por alguns segundos a noite permaneceu em completo silêncio, como se o próprio tempo tivesse parado e aquele instante fosse durar para sempre. Mas o pio de uma coruja soou ao longe e uma brisa fria carregada de neblina começou a invadir o bosque escuro em que somente duas figuras eram visíveis.


- Melina, não vá! Oh não, não me deixe novamente, não posso suportar! Oh Deusa, leve-me...


- Ermina... für immer... Lembre-se disso.


- Não!


E com um leve farfalhar Melina desapareceu no ar. No mesmo momento, a lua incidiu novamente sobre o local onde as duas irmãs tiveram seu adeus definitivo, mas não havia mais nada lá, somente um cordão com duas rosas enlaçadas.


***

quarta-feira, 26 de março de 2014

Anjo caído

Imagem pertencente a: Nathalia Suellen


As lágrimas vazam de meus olhos, salgadas.
Na boca o gosto da bile, amarga.
E o soluço que de meus lábios escapa, reverbera por minha alma cansada.

Na noite em que as hostes aladas definhavam, celestes.
E que um brilho escarlate tingia a imensidão dos astros, longínquos.
 O canto da cotovia anunciava um novo tempo.

O beijo que em minha boca ficou gravado, pecado.
Anunciava as trombetas do fato, terrível.

E aquele que eu amei, suas asas perdeu.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A Queda do Artista



Amortecendo a chama que queimava, vermelha.
Um vazio gélido que se propaga.
Nos passos incertos de um viajante solitário.
O eco da ausência reverbera.

Emudecendo nos lábios a canção que outrora fluía.
Os dedos insensíveis dedilham uma mórbida melodia.
Estridente e desesperadora.
É a morte em vida do trovador.

Esquecendo o que a boca jurou guardar.
Na memória dos acasos que se esparramam pelo chão.
A agridoce prece de um espectro.
Ecoa na noite que não tem fim.

Abandonando o sonho que lhe era caro.
Clama por clemência o jovem das lágrimas de cristal.
O prenuncio da miséria espiritual refletindo-se;
Nas notas tristes que escapam por seus dedos rijos.

Desbotando as cores da primavera.
Na palheta que outrora resplandecia hoje só há a decadência e a escuridão.
No quadro inanimado um rosto, um borrão.
Um adeus.


Poesia inspirada no conto "A balada do enforcado" do Márcio Bordin!
Disponível em: A Irmandade


terça-feira, 1 de outubro de 2013

Onirismo dos bêbados

Imagem pertencente a Nathalia Suellen

Quero mergulhar num balde de tequila.
Afogar-me no etílico.
Inundar-me da oniricidade dos bêbados.
Flutuar no vazio nadificante que antecede os ocasos.

Sorver o agridoce sumo que escorre de ti.
Enlaçar com dedos ágeis o veludo de teu corpo.
Envolver-me na harmonia que emana de tua boca.
Ascender ao infinito e gritar de prazer.

Correr entre os unicórnios e beijar os beija-flores.
Cantar uma sinfonia que se espalha-se pela alma.
Como a calda de chocolate quente na língua.
E agarra-me a cada momento ao teu lado.

Olhar aqueles olhos negros.
Cair no abismo obscuro que são seus pensamentos.
Deitar-me nua na grama e segurar sua mão.
Enquanto no céu as estrelas giram



A chuva lá

Imagem retirada do Google Imagens, não sei a quem pertence.


A chuva lá
Batendo cá.
Na janela.
Na porta.
No peito 
Na alma.

A chuva lá.
Batendo cá.
Na pele tamborilando.
No coração purificando.
Lavando a incerteza.
Do desespero.

A chuva lá.
Batendo cá.
Escorrendo pela pele.
Gelando os ossos.
Diluvio de lágrimas.
Frias.

A chuva lá.
Batendo cá.
Dos olhos descendo.
Translúcida e benta.
Grito mudo que ecoa.
No rasgo na alma dos inocentes fracassados.

Falta pouco


Imagem pertencente a Nathalia Suellen


Falta pouco tempo.
Logo eu já nem lembro.
Da cor da tua pele, teu cheiro, teu corpo.
Teus olhos escuros, tua boca, teu gosto.

Falta pouco, muito pouco.
Em breve eu me esqueço.
Do som da tua voz, teu riso, teu toque.
Tuas bobeiras, teu beijo, teu sexo.

Falta pouco e eu te esqueço
Mas quando lembro da cor da tua pele, teu cheiro, teu corpo.
Teus olhos escuros, tua boca, teu gosto.
Vejo que falta muito.

Falta muito e eu nem sei.
Como faço pra esquecer desse som da tua voz, teu riso, teu toque.
Tuas bobeiras, teu beijo, teu sexo.
De verdade o que me falta, não é tempo, é você.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Nuances



Duas nuances que colidem em uma união que transcende 
a lucidez da calma e dispara em bramidos alucinantes
em que o sangue bombeia pelo corpo como um louco
As chamas que não são sentidas incendeiam as pratas peles.

É um livro que divide-se em duas histórias sobre uma mesma pessoa.
Em que o meio e o fim encontram-se em um beijo cálido e único.
Era o crepúsculo que marcava um novo alvorecer que nunca aparecia.
A escuridão que antecede a luz, mas nunca termina.

Os grãos de areia que flutuavam lividamente pelo ar.
Caindo em decadência contavam o tempo
Esse tempo que ele tecia desvirtuava o conto.
Um conto que era sobre alguém que eu não pude esquecer.


Imagem retirada do google imagens.
Escrito em: 18/09/2013

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Eurus e Tália

Oh querida, ouça a minha alma e cuide do meu choro
Porque todo o meu choro pode inundar um oceano em meu coração
Banda Shaman

A pálida luz da aurora iluminava a prata pele daquele sonolento anjo. Adormecida nas nuvens, a minha amada musa repousava. Seus adoráveis olhos de corsa, cerrados contra a claridade ascendente, tremeluziam singelos. Os cabelos em esplendor trançados, eram como milhares de fios de cobre sedosos, caindo plácidos sobre aquela tez branca de neve.
Escondido em minha cinzenta nuvem de tempestade, a distância, eu a observava, enquanto ressonando intranquila a princesa de luz, em seus tormentosos sonhos me via. Seu sono encantado, por Morfeu ministrado, por minha odiosa presença que a tudo nublava era aos poucos perturbado.
A escuridão que se estendia sobre o céu a minha volta, com seus pérfidos dedos devassos, em sua face de ninfa faceira passeavam desejosos, pois ansiava àquela cálida criatura divina tocar, e com seus braços pútridos para o fundo do Tártaro consigo arrastar.
Com um aperto a retorcer o nefasto peito, e uma gota de chuva que dos olhos de fenda azul vazava, afastei-me daquela que amava. Um soluço mudo estrangulado a escapar-me dos lábios rubros de pecado. No silêncio, um relâmpago estrondosos e fulgurante, o céu que se escurecia recortou.
Enquanto de minha bem amada eu me afastava a palidez dos raios solares da manhã lentamente voltaram a banhar a sua pele de fada nua e um brilho rosado surgiu timidamente sobre sua face de anjo travesso e seus olhos de mel abriram-se lenta e vagarosamente,  derramando-se sobre mim como o mais cálido pôr-do-sol.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Na tempestade

Imagem da linda da Nathalia Suellen
Todos os direitos de imagem pertencem a mesma.



Quando minhas pequenas mãos ainda não podiam alcançar o armário superior da cozinha, e meus sonhos eram recheados de doces ilusões pueris, minha mãe costumava ler para mim antes de me por para dormir em minha cama de retalhos coloridos.
Na luz pálida e reduzida de um abajur, ela se sentava na beira da cama com um livro de capa dourada no colo e tecia sonhos com sua voz de fada, enquanto eu, de barriga para cima, observava as estrelas a resplandecerem em meu céu particular.
Eu nunca adormecia antes do fim da história, as cortinas de minha alma permaneciam abertas até o belo e sonoro “felizes para sempre” escapar como uma sinfonia angelical dos lábios de minha mãe.
Mas, em uma dessas noites - e essa é a lembrança mais marcante que tenho daquele tempo - decidi questiona-la.
No momento em que ela disse seu típico: “Durma bem, querida”, sorrindo cansada, e com os olhos verdes pequenos de sono. Ao invés de responder com: “Boa noite, mamãe” e virar para o lado e dormir, eu perguntei:
- Mamãe, será que um dia eu encontrarei um príncipe e viverei feliz para sempre? Ou ao menos um amor, tão forte quanto o deles...
Ela parou por um instante, surpreendida, uma ruga formando-se entre suas sobrancelhas arqueadas.
- Talvez - respondeu ela, seus olhos verdes brilhantes eram como esmeraldas a reluzir pela semi-escuridão do quarto.
- Eh?! Talvez?! - respondi decepcionada.
Seu riso divertido preencheu o quarto, as pequenas rugas sob seus olhos acentuavam o divertimento daquele rosto habituado aos risos simples.
- Ah querida, o amor é como uma espécie de milagre.
- Milagre? - perguntei assustada.
Aquela palavra que eu ainda não compreendia - e que o pastor vivia repetindo na igreja - ressoando em minhas pequenas orelhas rodeadas de fios negros como o cetim dos véus da morte.
- Isso, a chance de encontrar alguém a quem se ama e ser correspondido em meio a tantas pessoas pode ser considerado um grande milagre.
- Hum...
- Mas, tenho certeza que você vai encontrar, talvez não como você espera que seja, nem como você desejaria, mas um dia, tenho certeza, você vai encontrar o seu próprio milagre.
- Também posso ter um final feliz? - perguntei, os grandes olhos castanhos como os de meu pai, arregalados em espectativa.
Ela sorriu e disse: “Claro, agora durma meu amor.”
Naquele momento, no alto de minha sabedoria de 5 invernos, eu não pude perceber o significado daquele brilho que, por um ínfimo instante, refulgiu nos olhos dela. E aquela é a última lembrança que tenho de minha mãe.


***

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