No chão, o sangue derramava—se sobre o espelho partido, a garota nua em pé sobre ele tinha os cabelos negros como a noite eclipsada, de pés cortados, seus olhos fitavam algo que só ela via. Meneando a cabeça para os lados, ela observa amedrontada, o demônio que a encarava de volta.
Milhares de olhos vermelhos distorcidos que reluzem em pecado. Ela via naquelas feições o seu pior pesadelo, reconhecendo no reflexo o seu próprio rosto.
No canto do quarto a menina loira deu um último e sôfrego suspiro, enquanto o coração da figura em pé diante dela sangrava a descoberta do que realmente se transformara.
Virando-se lentamente para ver aquele adorável corpo, agora mutilado, respirar pela ultima vez. Aqueles adorados olhos castanhos perdiam o brilho.
Ela sentia como se uma grande corda estivesse amarrada em seu pescoço, logo abaixo das amídalas, enquanto assistia o quão longe fora por sangue.
_Kamillie – um único som articulado vazou daqueles lábios de fada, mas para Kamillie, era como se fosse uma oração inteira, que findava-se com um suspiro que retumbava “Culpada”.
O desejo pelo sangue ainda quente que vertia de Reibe inundava a mente dela como um gás toxico, venenosamente vermelho.
Vermelho.
Rubro.
Metálico.
Saborosamente morno.
Vermelho pulsante.
As presas afloraram dolorosamente da gengiva, o estomago urrava enquanto o coração gritava. A fera desperta arranhava a alma, mordendo com suas presas venenosas, dominando a mente da vampira com um desejo irracional.
Kamillie e Ava brigavam pelo controle dentro do mesmo corpo, mutilando-se psicologicamente em pequenos raios de tempestade.
Ava lançou-se sobre o corpo de Reibi, enquanto Kamillia soluçava silenciosamente a própria queda, em um canto afastado de sua própria mente, cada vez mais fraca, Kamillie fechou-se, trancando-se em uma fortaleza da qual não pretendia mais sair, ela perdera o controle de si para sempre.
Ava... Ava...
Os dentes desceram bestiais sobre a carne macia da jovem. A fera agora desperta, não reconhecia as lembranças, que, como espirros de sangue retumbavam na mente dupla, como as batidas de um coração.
...Dias ao sol no balanço de casa...
...Puxões de cabelo e pontapés diante da boneca ideal...
...Abraços apertados...
...O primeiro sutiã...
...O primeiro beijo, contado aos sussurros na casa da árvore...
...Lágrimas desmembradas...
...O distanciamento vazado em saudade...
...O soco inumano no estomago...
...Unhas negras rasgando a pele adorada...
...Kamillie...Kamillie...
Seu coração pulsava em grandes doses de culpa, sua alma escapando pelos poros em flagelos, enquanto Ava sugava o quente e saboroso sangue de sua melhor amiga, agora de olhos vítreos.
As memórias e as vontades mesclavam-se por trás da muralha de carne crua da besta, duas supernovas colidindo dentro da pele, os desejos nefastos que se enraizavam pela corrente sanguínea sufocavam Kamillie.
Kamillie... Kamillie...
Em um beijo áspero com gosto de metal, no infinito afogou-se, fechando-se em uma fortaleza inexpugnável da qual jamais sairia, ela perdera o controle de si para sempre.
Ava...
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