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quinta-feira, 29 de setembro de 2011


Ouço a chuva lá fora, seu tamborilar no meu telhado.
O cheiro de ferro velho preenche meu ser.
Em minhas mãos a essência de uma vida.
A minha.

O sangue pulsa, bombeando-se para fora de mim.
Leva consigo toda e qualquer dor.
Deixando-me somente as memoria.
Memorias de um eu que se esvai com a água da chuva.

Lavando-me a alma.
Retirando as fuligens do que foi.
Contemplando aquilo que me restou.
Depois de lhe dar tudo aquilo que era eu.

Tanto dei, que pouco restou.
E minhas esperanças quebraram como vidro.
E o cristal em mim se foi.
Como vaso refeito com cola vivo, mas as rachaduras jamais somem.

E pulsa, meu coração pulsa.
De dentro do baú de prata em que o coloquei.
Através do cadeado de ouro que o encerra.
Para sempre seguro de sua própria dor. 


domingo, 18 de setembro de 2011

Tatuagens do Amor (Parte IV)


São Paulo, Dezembro de 2011

Ele sorria candidamente em meio aos espasmos que dominavam seu corpo, aparentemente feliz, mas a boca de Anthony abria-se em pequenos sussurros que vazavam de sua alma, a lembrança de um passado que nunca pode aceitar e esquecer, porque foi algo que ele não pode impedir e nem prever. Ele não pôde fazer nada para corrigir...
Rio de Janeiro, Dezembro de 2000.

A cama ainda estava desarrumada, os travesseiros amassados e o chuveiro ligado quando Alice voltou com o café da manhã, era costume dos dois revezarem a cada dia, quem traria o café da manhã, assim adiantavam o banho e podiam tomar café juntos. Desde que eles se casaram estabeleceram uma rotina simples e satisfatória.
_Anthony, café tá pronto – disse ela sentando-se na cama dossel do casal, cruzando as pernas e deixando suas formas bem definidas a mostra pela abertura do roupão enquanto esperava por ele.
Poucos segundos Anthony sai do chuveiro e se depara com ela com um olhar perdido, ele se aproxima enxugando os cabelos e a beija delicadamente.
_Bom dia!
_Oi – responde ela puxando-o para um abraço apertado e beijando-o.
_Não faça isso, é tortura, temos que trabalhar, você sabe.
_Porque não faltamos hoje? – pergunta ela insinuante.
_Porque não podemos, eu tenho reunião hoje a tarde.
_Droga – disse ela fazendo beicinho – se é assim, vamos tomar nosso café antes que esfrie, depois você se veste, coloque o roupão vermelho.
_Onde está?
_Atrás da porta – respondeu ela rindo de sua grande cabeça oca.
Anthony vestiu o roupão e eles desceram lado a lado pra cozinha e tomaram um café da manhã tranquilo e feliz, como sempre. Algo parecia incomodar Alice, ele podia ver em seus olhos o lampejo de algo, mas ele não sabia o que, e quando ele perguntou ela disse que não era nada.
_Até mais tarde amor, amo você – disse ele segurando-a pela cintura para beija-la.
O beijo foi doce e com um gosto estranho de despedida que o deixou novamente preocupado, mas ele resolveu deixar de lado, deveria ser coisa de sua cabeça.


Você.


Não existem mais disputas.
As chances acabaram.
Desista e suma.
É a derrota, nua e crua.
Você deve aceita-la.
Porque não há mais nada a fazer.
As palavras perderam-se na bruma enquanto você chorava.
E teu coração se foi, junto ás lágrimas que sua alma derramou.
Você precisa aceitar.
Porque não há nada a fazer.
Você simplesmente perdeu uma batalha que nunca poderia vencer.
Nunca dependeu de você.
Você vai ter que entender.
Acabou.
Tudo que você queria escapou por seus dedos como o sangue que se esvai.
E não há nada que possa concertar.
Você ficará bem.
É tudo que posso te dizer.
Não há garantias.
Somente o vazio.
Você não sabe que rumo tomar.
Porque você não entende como pôde ser tão idiota.
Deixar-se levar assim, tão facilmente.
E tudo o que você vê é um abismo.
Não há nada a fazer.
Pois você não é nada.
E o vazio é tudo.


sábado, 17 de setembro de 2011

Elo partido

No quarto, moveis bagunçados.
Na mesa, uma caneta quebrada.
No papel, uma gota de sangue.
Na noite, um lamento de dor.

E meus pés descalços sangram pelos espinhos.
Deixando pegadas ensanguentadas sob meu passado.
Meu corpo cansado desaba.
E através de minha vista embaçada vejo.

Tua silhueta recortada pelo brilho da lua.
Teus soluços chegam a mim como adagas frias.
E teus olhos me fuzilam como tiros de metralhadora.
Matando-me a cada lágrima.

Quisera eu poder fugir.
Voltar ao passado e impedir aquilo que foi feito.
O elo quebrado que não pode ser restituído.
E na noite meu sangue retumba com o sal de tuas lágrimas.

Na cama, os lençóis negros manchados de vermelho.
No travesseiro, o gosto de sal permanece.
Na casa, o perfume que não se extingue.
No cemitério, as vitimas de um engano.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Lacuna


Mil lacunas se alastram por minha mente.
Como ácido que derrete tudo em que toca.
Minhas memorias se perdem nas lacunas de mim.
E eu já não me lembro quem sou.

Mil linhas se desenrolam.
Elas se cruzam entre si.
Coloridas...Cinzentas...Brilhantes...
Qual delas é a minha?

Mil sonhos rastejam por minha retina.
Como vermes, eles me atormentam.
Pois neles vejo que falta algo.
Algo que sempre faltou.

Mil vezes me amaldiçoo enquanto os novelos se desenrolam pelo chão.
E eu já não sei como me remendar.
Porque tudo de que me lembro é um grande vazio.
Um vazio que era eu, que sou eu.

Mil acasos me distraem enquanto incessantemente procuro as peças .
As peças de um quebra-cabeça que é só meu.
E a cada peça que recoloco em mim.
Sinto-me mais eu, menos indigente.

Mil lágrimas derramarei pelos pedaços que jamais reencontrarei.
Pois na lacuna brumosa de minha memória.
Eu já não sei quem sou.
E talvez, nunca saiba.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Nevoa, Neblina, Bruma, Vapor...


Nevoa, Neblina, Bruma, Vapor...
É tudo que vejo.
É tudo que sou.
Longe dos teus olhos, não existo, sou.

Eu sou o sonho que te atormenta durante teu sono.
Eu sou a voz sensual e inconsequente a murmurar no teu ouvido.
Eu sou a mão que te acaricia na sua dor, como uma mãe zelosa.
Eu sou o seu desejo mais profundo.

Eu sei que você me busca em meio a multidão.
E sei que rola na cama a minha procura.
Pois eu sei que não esquece de meus olhos, mesmo que hoje a  terra os tenha engolido.
Eu sei que é por mim que choras nas noites solitárias.

E infelizmente eu vejo.
Assisto a toda a dor que seu coração transborda.
E não posso, não posso fazer nada.
Pois que sabes.

Nevoa, Neblina, Bruma, Vapor...
É tudo que vejo.
É tudo que sou.
Longe dos teus olhos, não existo, sou.

Porque eu sou, aquela que te ama.
Que a vida une e a morte não separa.
Aquela que retorna sempre que chamas.
Mesmo que seja como uma expectadora.

Todos os dias conto as horas e segundos para o fim.
O momento em que juntar-se-á a mim.
Momento esse, em que seremos ambos plenos.
Seremos novamente um, como outrora fomos.

Sou como uma criança impaciente no cinema, assistindo um filme que nunca termina.
Mas não me leve a mal.
Sabes que adoro ver-te caminhar por ai.
Mas bem sabes, que te queria comigo, pois...

Nevoa, Neblina, Bruma, Vapor...
É tudo que vejo.
É tudo que sou.
Longe dos teus olhos, não existo, sou.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Te vejo


Te vejo refletivo no mar de vidro que me cerca.

Espelhos que me mostram o quanto eu sou você, e você sou eu.
Enquanto as peças se juntam no quebra cabeça que é meu coração.
Só posso dizer que sinto.
Pois é tudo de que tenho certeza quando te vejo.
E na luz clara do amanhecer sinto sua alma encostar na minha.
Rolando pela nevoa que encobre o mundo.
Olho em seus olhos e posso dizer que é real.
Apesar de ter certeza que sonho.
Pois a realidade nunca pareceu tão bela;
e meus dias tão brilhantes.
Sinto no amago de minha alma, que sou tua.
Ainda sim, receio.
Ridiculamente cautelosa, vejo a vida passar num rugido furioso e vivido...
Depois choro, por tudo que perdi, ou deixei de fazer.
E as noites são como a eternidade sem você.
Tudo é triste, e cinza.
Um dia nunca é o bastante, pois;
depois sempre vem a noite.
Odiosa noite que me afasta de ti.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Lágrimas de Sangue {Parte Final}


AnastasiaTieflust 

“Não me lembro exatamente como tudo aconteceu e sempre que tento é como se um buraco negro me preenchesse e sugasse minha energia fazendo com que minha cabeça e corpo doam profundamente.
Tudo o que me lembro é que era um sábado normal, como outro qualquer, eu cuidava de minhas flores com o mesmo carinho de sempre, totalmente distraída, quando escutei vozes chegando aos meus ouvidos pela estrada. O crepúsculo envolvia o mundo possessivamente com seus dedos frios e belos. E a lua já começava a ser perceptível no céu. Levantei-me cambaleante e me aproximei da estrada para ver-se eras tu, Ian, quem chegava mais cedo para os meus braços.
Quisera eu que pudesse permanecer onde estava, ou fugir o mais longe possível.
Assim que meus olhos caíram em sua pele fantasmagoricamente pálida, meu coração acelerou-se, eu queria correr, mas minhas pernas não me respondiam. Seus olhos negros e profundos me sugavam, acorrentando-me ao chão. Eu era prisioneira de meu próprio corpo e o sabia, instintivamente, é claro, ele nenhum movimento fizera desde que chegara em seu cavalo negro como a morte.
Ele estava a apenas alguns passos de mim, eu queria com todas as minhas forças correr, mas eu era a caça do dia, por mais que sua expressão fosse gentil.
Ele desceu do cavalo e veio em minha direção saboreando o momento e meu medo, eu sabia o que ele era, essa criatura. Histórias que minha avó me contara quando criança apitavam em minha cabeça, histórias essas que eu lacrara em meu pequeno relicário mental.
Seus cabelos eram escuros como a noite, e a lua cheia brilhava derramando-se sobre ele, transformando-o na coisa mais linda que eu já havia visto. Sua pele era cadavérica como a face da morte, suas mãos de dedos longos continham unhas igualmente compridas, ele era alto e forte, e mesmo que fosse humano, eu não teria a menor chance, nem você, Ian.
E sabendo disso eu rezei com toda a minha alma mudamente para que não viesses para casa naquele momento, e pedi a Deus, e aos deuses nos quais minha família acreditava, para que você ficasse a salvo... Pois eu suportaria tudo e já havia me resignado com o fato de que morreria... Mas eu não podia perdê-lo para a morte, aquela amante ingrata que ceifa vidas como quem colhe flores de um jardim.
De olhos fechados eu sentia aquela respiração pavorosa em meu pescoço, e era fria, fria como a água em degelo, fria como a ponta de uma adaga.
_Eres tão linda, que penso se não seria útil faze-la minha, ando só há muito, muito tempo.
Eu não me mexia, eu mal respirava, e tremia enquanto sentia suas presas afiadas a rasgar-me.
Eu sentia o frio me invadindo, cortando-me, ao mesmo tempo em que meu sangue, minha vida, me abandonava.
Minhas pernas perderam a força, eu já não podia pensar e a única coisa que me segurava ao chão eram seus braços.
Logo senti que a dor, e por Deus, o prazer, já não me afligiam e tentavam penetrar na barreira de meus pensamentos, tudo o que restava era... Nada, um vazio terrível e excruciante, e em seguida, tudo foi escuridão.
Quando acordei, estava no meu próprio túmulo a sete palmos de chão. Eu tentava gritar e batia louca e frenética na madeira que me enclausurava, mas nada acontecia, até que desisti de minhas investidas inúteis e fiquei totalmente quieta pensando, era tudo confuso, mas quando se tem tempo, não é tão difícil organizar os pensamentos, que foi o que fiz.
A primeira coisa de que tive certeza foi que estava morta e aquela era minha genuína mortalha. O resto veio fácil, eu por certo não estava completamente morta, tão pouco viva, já que não asfixiava na ausência de ar de minha cova. Eu era uma morta-viva, uma vampira.
Depois de um tempo que não é possível contabilizar, ouvi o barulho de terra sendo movida, em seguida, senti a tampa sendo retirada e lá estava meu mestre, meu criador, lindo em sua glória fria. Era tudo tão intenso, os detalhes, as sensações, era tudo muito único e... Confuso.
A lua brilhava enquanto ele me ensinava tudo que eu necessitava saber, mas foi preciso menos que uma noite para que eu me lembrasse de ti, meu amor.
E foi por isso que voltei, todas as noites, após separar-me de meu mestre e um pouco antes de retirar-me para nossa cripta, eu o visitava, Ian, porque meu amor era maior do que minha fome e meu desejo doloroso por seu sangue. Como deves imaginar, não foi difícil convencê-lo a me convidar para nossa... Sua casa.
Todas as noites eu o via dormindo e chorar chamando meu nome, além de ler suas anotações, e, foi por isso que apareci, porque eu não suportava mais vê-lo sofrer. Doía em minha carne, eu sentia como se fosse rasgada por dentro, como se estivesse morrendo novamente, mas pior.
E... Eu decidi vir despedir-me, pois devo partir com meu mestre, mesmo que eu não o quisesse, eu iria, pois não posso recusar-me a atender um chamado de meu criador. E agora, Ian, eu o amo, assim como lhe amo, de uma forma diferente, pois sem ele eu morreria, por motivos mais do que óbvios.
E é por isso meu amor, que devo partir, e, dessa vez, é realmente para sempre.
E agora, eu lhe pergunto:
_Ian, me perdoas? Por tudo?
_Sim. Sempre, não vá!
_Eu preciso... Adeus, Ian...”
***

Ian Einsamhertz



E dizendo isso, ela se foi, como uma brisa fria e leve como uma pluma, deixando-me com as respostas que tanto desejei, mas que hoje desejaria não ter. E o vazio em meu peito, era como um buraco negro que ameaçava sugar-me para o meu interior sangrento, pois em mim agora, tudo era dor e ausência. O fato de saber que ela não se fora era ainda pior, pois a cada crepúsculo, eu inutilmente esperava por ela, mas ela jamais apareceu, ao menos eu não a vi mais. Talvez ela tenha conseguido me esquecer, mesmo que eu nunca seja capaz de fazer o mesmo.
Anos depois eu me casei com uma moça que conheci em uma de minhas andanças em busca de informações sobre vampirismo, temos dois lindos filhos, uma menina e um menino, chamados Erika e Alfred, eles são agora a razão de minha vida e a esperança que pensava nunca voltar a ter.
Amália, minha esposa, não sabe de tudo que aconteceu com vós, somente que morrestes, ela não precisa carregar o fardo que carrego em minha alma desde aquele dia, sete dias após vossa morte.
Sei que em breve partirei para os véus desconhecidos pelos quais todos os Homens inevitavelmente passam um dia, sinto isso, meu corpo já não é o mesmo e minha saúde definha a cada dia que passa, mas eu não me importo, eu fui mais feliz do que pensei que seria, porque depois que partistes eu me sentia morto por dentro.
Os dias agora são longos e as noites curtas, imagino que não deves gostar disso, mas as crianças adoram, elas passam o dia todo brincando com os animais, adorarias ver isso, a alegria e inocência deles é contagiante, é como um gole de água fresca após horas no sol quente, refrescante.
Deves de estar perguntando-se por que escrevo isso, ao pé das cartas alucinadas que escrevi naqueles sete malditos dias, pois bem, é porque sei que quando meu corpo estiver aprisionado a mortalha que encerará minha carne para sempre, irás visitar nossa antiga casa. Lá, haverá para vós, esse pequeno diário em que decidi contar-te o fato, de que apesar de tudo, eu encontrei a felicidade, e caso ainda se sinta culpada por abandonar-me, isso sirva de refrigério para vosso cansado coração.
Desejo sinceramente que sejas feliz da melhor forma possível;


 Ian





Sangue

Escorre por meus dedos tua essência perdida.
Como a doce água que outrora me saciava.
Seu delicioso sabor explode em minha boca.
Sedenta, via tua face que me sentenciava.

Teu sangue tão vermelho e forte.
Emoldurando-se aos meus lábios.
Acariciando minha língua.
Descendo por meus seios.

Me banhava em você com uma luxuria perversa.
Enquanto embebido em mim você me tocava.
Tudo tão real e ao mesmo tempo irreal.
Sua pele em contato com a minha enquanto eu te sugava...

E a vida escorre, como o doce sangue escorre.
Em meio a luxuria, teus olhos se turvavam.
E eu te segurava próximo a mim e o esperava.
Pois todos a mim retornavam.

A noite dança por minha retina felina.
Assim como o dia lá fora e eu o aguardo.
Ainda em meus braços teus olhos se abrem.
Tão confusos...Tão intensos...Sinto que ardo.

Tua boca buscava a minha descendo pela essência seca do que fostes.
Resquícios de ti que habitam em mim.
Agora voltam a ti, sempre e sempre.
Pois para nós, nunca haverá um fim.

Não mais.



16 de Agosto de 2011.

sábado, 13 de agosto de 2011

Tatuagens do amor (Parte III)

São Paulo, Dezembro de 2011

Anthony vagava pelos terrenos incertos e funestos de sua memoria, navegando entre desejos que nunca se realizariam, afinal o relógio não volto e aquilo que se perde jamais retorna, ao menos, não da mesma forma.
Ele delirava, gemendo e chorando enquanto continuava com seus pesadelos e delírios, seus olhos fechados se reviravam nas orbitas percorrendo as memorias do que um dia fora.
Mas aquele já não era ele e nunca mais seria tão pouco.

Rio de Janeiro, Maio de 2000.

O dia amanhecia no horizonte, mas Anthony e Alice não se importavam, deitados sobre um cobertor xadrez sob a relva coberta de orvalho, a única coisa da qual tinham consciência era o fato de que hoje era um novo dia para eles, e que, esse dia, mudaria tudo.
De dedos entrelaçados eles observavam encantados enquanto o dia substituía a noite e tudo o que era escuridão se transformava totalmente, o lago, alguns metros diante deles era um exemplo disso, suas aguas antes negras como o véu da morte, agora cintilavam como se pó de diamante tivesse sido jogado sob ele.
Alice se sentia extremamente satisfeita nos braços de Anthony, protegida e em paz enquanto ele acariciava seus cabelos.
_É tão lindo aqui – disse ela virando-se para encara-lo.
_Sim, é como um mundo paralelo em que nada de ruim pode acontecer – respondeu ele, seus olhos abrindo-se para encara-la.
_Mas eu sempre me sinto assim ao seu lado – respondeu ela sorrindo e aconchegando-se mais ainda à ele. Seu corpo quente era o que a aquecia na manha gélida, como uma ancora firme e forte segurando-a contra as tempestades.
_Boba – disse ele inclinando-se para beija-la.
Eles permaneceram assim, sem se preocupar com nada além do calor de seus corpos em contato, eles nem mesmo se preocupavam com o dia atarefado que teriam, tudo que existia para eles naquele momento era a consciência da presença do outro, um outro que sentiam  como uma parte de si mesmo reencontrada, como almas gêmeas, metades de um mesmo ser uno separado no inicio dos tempos, para se reencontrar através das eras imemoráveis.
_Alice! – chamou alguém que descia pelo gramado em direção a eles.
Alice apoiou-se sobre um cotovelo para ver de quem se tratava, sua prima e melhor amiga Mia descia correndo com a face afogueada em sua direção, seguida de perto pelo melhor amigo de Anthony, Erik.
Os cabelos dourados, longos e encaracolados, de Mia voavam pelo ar a sua volta, seus olhos castanhos mel brilhavam, seus lábios curvados em um sorriso, ela chegou primeiro e jogou-se ao lado de Alice respirando ruidosamente.
Erik chegou logo em seguida, seus cabelos tão dourados quanto os de Mia, mas lisos, estavam bagunçados no topo de sua cabeça concedendo-lhe uma aparência rebelde, e seus olhos azuis vibravam de energia. Ele sentou-se ao lado de Anthony e suspirou, seus olhos encontraram os de Alice e ele sorriu. Ela se sentia feliz com a amizade e cumplicidade estabelecidas entre os amigos dela e os de Anthony, que agora, eram de ambos, e, simplesmente satisfeitíssima quando descobriu que Erika e Mia estavam juntos.
_Al, acho que vocês já tiveram comodidade e pré-lua-de-mel o suficiente, temos taaaanto a fazer! Vamos! – começou Mia logo que sentiu que sua respiração havia normalizado.
_Você também Tony, levanta essa bunda feia dai que temos que organizar as coisas antes de você se enforcar...
Alice levantou-se e deu um tapa no braço de Erik que fingiu sentir dor, mas infelizmente, ela tinha consciência que fora como cocegas para ele. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa foi rebocada por uma Mia falsamente carrancuda e impaciente.
Anthony segurou na mão direita dela enquanto ela se afastava, seus olhos se perdiam nos dela e ele sorria em paz, seu corpo totalmente relaxado até seus dedos se soltarem, que foi quando Alice virou-se, soltou-se de Mia e pulou novamente nos braços dele que a seguraram contra si em um abraço. Seus lábios tocaram os dela em regozijo, era como uma explosão de energia e calor que irradiava do corpo dela para o dele, mas que acabou cedo demais, pois antes que eles pudessem aprofundar o beijo, Alice foi praticamente arrastada de seus braços por uma Mia aparentemente furiosa, mas em seus olhos brilhava uma alegria genuína.
_Larga! Vocês terão tempo para essa melação depois do casório, guardem as energias para a lua de mel! – disse Mia piscando maliciosamente para Anthony.
_Isso ai! – completou Erik que rebocava um Anthony sorridente para o outro lado – afinal, não queremos que você durma e não dê conta do recado Tony.
Anthony bufou, mas seu sorriso, se fosse possível, era ainda maior, e ele seguiu o amigo enquanto Alice seguia para o lado contrário com Mia.
Faltavam menos de 12 horas para serem finalmente um perante a sociedade, Anthony mal podia conter o nervosismo e a ansiedade que o consumiam, afinal, Alice seria sua e ele seria dela, totalmente, pensava ele enquanto prosseguia com os preparativos.
Alice estava corada, sua imaginação e pensamentos voavam longe e ela desejava com cada bater de seu coração, cada célula de seu corpo, o momento em que finalmente diria SIM a sua nova vida, uma vida que ela desejara ter desde que o vira naquela manha estranha e remota, em que ela sabia, seu destino havia mudado e com ele toda sua existência, para melhor, claro.
Anthony já estava pronto e em frente aos parentes e amigos que seriam as testemunhas de seu renascimento, todos os lugares já estavam ocupados e os padrinhos e madrinhas se enfileiravam ao seu lado, tanto direita, quanto esquerda, apoiando-o em silencio enquanto ele esperava por ela.
O sol ainda brilhava no horizonte, mas já era fraco e logo seria noite, o ceu estava limpo e azul, as cadeiras estavam distribuídas em fileiras, entre elas um tapete vermelho se estendia, o mesmo que forrava o chão em que Anthony pisava juntamente com os padrinhos, madrinhas e o pastor que estava dois passos atrás de Anthony sob o pequeno altar improvisado. O campo em que eles estavam era de grama verde e bem aparada e um 500 metros a direita ficava o lago em que ele e Alice haviam passado sua ultima noite de solteiros.
A marcha nupcial começou a tocar, era uma musica um pouco diferente, era rock, rock gótico, ou sinfônico como Alice dizia, que era o gênero musical preferido dela, mas ele não conseguia raciocina, tudo o que ele via era Alice, a coisa mais linda que ele já havia visto, ela parecia um anjo, seu vestido branco com detalhes em vermelho realçava perfeitamente suas curvas perfeitas, seu busto e cintura eram delineados por um corpete que se estendia em uma saia que ia um pouco abaixo de seu joelho, era um pouco rodado também, pouco. O vestido todo possuía detalhes em vermelho que contrastavam com o branco como sangue na neve. Seu cabelo negro estava preso em uma espécie de coque bagunçado e sob seus cabelos havia um pequeno véu que ia até o meio de suas costas, em suas mãos havia um buque de rosas vermelhas, e elas estavam envolvidas por uma espécie de mini luva branca, ele sorriu, “tão Alice, perfeita”, pensou Anthony mal podendo conter a alegria que o inundava, era quase inacreditável para ele que ela se dirigia a ele, que era ele que ela amava e seria sua até o fim dos tempos.
O sorrido dela brilhava quase ofuscante, ela sentia que suas bochechas se rasgariam de tanto sorrir, a sua frente, Anthony também sorria, seu sorriso inspirava paixão e felicidade plenas, “tão lindo” pensou ela dirigindo-se ao encontro dele. Anthony estava de Smoking preto com detalhes em preto fosco, seu cabelo cuidadosamente arrepiado lhe dava um ar de selvageria comportada que a fazia ofegar, e seus olhos, seus olhos brilhavam, tão quentes, tão lindos, um mar verde no qual ela queria se lançar, sem se importar que todos aqueles que lhes eram caros estavam ali observando.
A atmosfera de felicidade era quase palpável, ela sentia o leve roçar da pele dela contra a de seu pai que lhe sorria timidamente, seus olhos estavam marejados de lagrimas, assim como os dela, enquanto ele a entregava a Anthony.
Eles pararam por um minuto e olharam um no olho do outro, azul no verde, e ela colocou seu braço no dele para irem até o altar, o sorriso continuava como pregado em seu rosto, ela simplesmente não conseguia parar de sorrir, e ela imaginava que o mesmo acontecia com Anthony.
A cerimonia transcorria calmamente, e a hora tão esperada chegara, eles viraram-se, segurando as mãos um do outro e ficaram frente-a-frente.
_Alice Katharyna Hope, você aceita Anthony Nebel como seu legitimo esposo, na saúde na doença, na riqueza e na pobreza até que a morte os separe?
_Sim. Anthony Nebel, prometo amar-te e respeitar-te, sendo lhe fiel, seja nos momentos de alegria ou na tristeza, na saúde e na doença, por toda a minha vida e além dela, zelando pelo vosso amor e alegria.
_Anthony Nebel, você aceita Alice Katharyna Hope como sua legitima esposa, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza até que a morte os separe?
_Sim. Alice Katharyna Hope, prometo respeitar-te amar-te , sendo lhe fiel, até mesmo na sua TPM e até mesmo se virarmos sem teto, por toda a minha vida e além dela, zelando por vosso amor e alegria.
_Eu os declaro marido e mulher, pode beijar a noiva- declarou o pastor.
E Alice e Anthony mergulharam um nos braços do outro, como um naufrago em busca de algo em que se apoiar, e beijaram-se intensamente enquanto o crepúsculo descia e a noite chegava, trazendo consigo uma lua nova brilhante e um céu cheio de estrelas que para eles, significava o começo de uma nova vida.


Continua...



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